A dirigente comunista defendeu os direitos dos trabalhadores, a igualdade e a emancipação da mulher. Tinha 82 anos
Odete Santos, histórica deputada e dirigente do PCP, morreu aos 82 anos, informa o partido em comunicado, recordando como foi "uma figura marcante na construção do Portugal de Abril e na afirmação dos direitos que a Constituição da Repúblca Portuguesa", em particular defendendo os direitos dos trabalhadores, a igualdade e a emancipação da mulher.
Esta "mulher de Abril", como a define o PCP, "destacou-se pelo seu compromisso com os trabalhadores e o povo, com uma particular ligação com a juventude, afirmando a sua notável capacidade, profundidade de análise, solidariedade, dedicação, frontalidade, coragem e força de intervenção". Foi "uma presença constante na ação de solidariedade com os povos de todo o mundo, uma incansável participante na concretização do ideal e projecto do Partido Comunista Português".
Nascida a 26 de Abril de 1941, na greguesia de Pêga, concelho da Guarda, Maria Odete Santos estudou no Liceu de Setúbal, licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e foi advogada durante anos.
O interesse pela atividade política começou em 1961, quando participou nos movimentos associativos estudantis. Desde muito jovem, recorda o PCP no comunicado, "teve intervenção cultural e antifascista em associações de cultura e recreio do distrito de Setúbal, nomeadamente no Clube de Campismo de Setúbal. Foi esse activismo e intervenção que suscitaram a perseguição da PIDE/DGS, a polícia política do regime fascista."
Membro do Partido Comunista Português desde 1974, logo a seguir ao 25 de Abril integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Setúbal e iniciou uma intensa atividade política, tendo ocupado diferentes cargos no partido, a nível local e nacional. Integrou o Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres (MDM) e a Associação de Amizade Portugal-Cuba.
Foi deputada da Assembleia da República, de Novembro de 1980 a Abril de 2007. "Destacou-se em áreas dos Direitos, Liberdades e Garantias, na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos das mulheres, assuntos que abordou em conferências, debates, entrevistas e artigos publicados. É de particular significado a sua intervenção na conquista de novos direitos para as mulheres, nomeadamente o combate ao aborto clandestino e pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez de que foi principal rosto na Assembleia da República", lê-se no comunicado.
Foi considerada a deputada mais mediática do PCP e, na altura da sua saída do parlamento, o ex-secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa elogiou-a como "uma mulher apaixonada e apaixonante" que "põe o coração nas palavras".
Entre muitas das suas intervenções na vida democrática do concelho, o PCP recorda o seu papel "como principal impulsionadora da criação do Teatro de Animação de Setúbal (TAS), onde representou conhecidos dramaturgos". Apaixonada pelo teatro amador, a antiga deputada estreou-se nos palcos em 1966. Voltaria a participar numa peça em 1991, e, em 1999, protagonizou "Quem tem medo de Virgínia Woolf" numa encenação do Teatro Animação de Setúbal. Em 2004 aceitou um convite para participar desta vez numa revista, "Arre Potter Qu'É Demais", no teatro Maria Vitória. É também autora dos livros “Em Maio há cerejas” (2003) e “A Bruxa Hipátia – o cérebro tem sexo?” (2010), e de uma colectânea de poesia, “A argamassa dos poemas”.