Treinador português considera que a cultura vigente no futebol brasileiro faz mal aos treinadores e, sobretudo, ao próprio futebol do país. Garante que o City Group permitiria, pelo menos, que terminasse o campeonato
Atualmente em busca de um novo desafio profissional após ter-se demitido do Bahia no início de setembro, Renato Paiva abordou no 'The Coaches Voice' a saída da equipa brasileira e identificou aquele que considera ser um dos problemas do futebol canarinho e que começa nas expectativas irreais que são criadas.
«Infelizmente, é comum que se conviva com expectativas irreais no futebol brasileiro. Uma vez, dois adeptos do Bahia vieram conversa comigo num shopping. 'Mister, temos de ser campeões.' Enquanto eu dizia que lutaríamos para isso, mas que era necessário respeitar o Vitória [outra equipa da cidade de Salvador], eles interromperam-me. 'Não, mister, não estamos a falar do campeonato baiano. Temos de ganhar o Brasileirão.' Essas expectativas irreais transformam-se em atitudes surreais. Muitos brasileiros dizem que é cultural, mas eu recuso chamar cultura a isso. Com um olhar estrangeiro, de quem respeita a história e o potencial do Brasil, digo que essa cultura não faz mal apenas aos treinadores. Faz mal ao próprio futebol brasileiro», constatou o antigo treinador dos escalões de formação do Benfica.
Renato Paiva chegou ao Bahia, recém-promovido ao Brasileirão, em dezembro de 2022, altura em que o clube brasileiro estava a ser agregado ao City Group, que tem à cabeça o Manchester City.
O treinador português ainda venceu o estadual e deixou o Bahia no 16.º posto, fora dos lugares de despromoção: é agora 17.º. Paiva considerou que a equipa estava a dar sinais de crescimento. «Era visível que a equipa jogava cada vez melhor. O Bahia era a sexta equipa, entre 20, que menos remates à baliza concedia ao adversário. E era a quinta com mais finalizações. Ou seja, em termos coletivos, havia um trabalho, uma ideia. No Brasil, porém, só se olha para os resultados. E, de facto, os resultados não eram bons», reconheceu, explicando depois o que o levou a abandonar o clube.
«É importante deixar claro que o Grupo City não me iria despedir até ao final do campeonato. Não havia qualquer ameaça de demissão. Pelo contrário, senti muita confiança e apoio vindos de Manchsteer. Trabalhar num clube do Grupo City é diferente. Há diretrizes que devemos seguir, orientações que precisam de ser respeitadas. O estilo de jogo tem de ser em função de alguns parâmtros definidos por eles e nós estávamos claramente dentro do que era exigido. Mas senti que era o momento de ir embora. A pressão era muito grande e eu não queria aquele ambiente para os meus jogadores», concluiu o treinador de 53 anos, que elogiou o jogo «apaixonante», as ótimas equipas, a competitividade e o ambiente nos estádios brasileiros.