Johnson & Johnson processa quatro autores de estudos que sugerem ligação entre a utilização de pó de talco e risco de cancro

CNN Portugal , BCE
13 jul 2023, 22:07
Pó de Talco Johnson

Nos últimos anos, a J&J enfrentou milhares de ações judiciais - mais de 38 mil - que a acusam de ter contribuído para o desenvolvimento do cancro nos ovários em consumidoras do produto

A Johnson & Johnson (J&J) abriu processos em tribunal contra quatro médicos autores de estudos que relacionam a utilização a longo prazo do pó de talco da empresa ao desenvolvimento de cancro.

Os médicos Richard Kradin, Theresa Emory e John Maddox são os alvos mais recentes da farmacêutica norte-americana, que em maio deste ano abriu um processo judicial contra a médica Jacqueline Moline, autora de um estudo publicado em 2019 no qual participaram 33 doentes que diziam ter sido expostos a amianto na sequência da utilização do pó de talco da empresa.

Foi precisamente esse artigo de Moline que serviu como ponto de partida para a investigação de Kradin, Emory e Maddox, que em 2020 acompanharam 75 doentes com testemunhos idênticos aos participantes do primeiro estudo.

Na sequência desses estudos, a Johnson & Johnson resolveu suspender a venda do pó de talco para bebés em todo o mundo, justificando a "decisão comercial" com a "desinformação" que estava a ser espalhada em relação à segurança do produto.

Nos últimos anos, a J&J enfrentou milhares de ações judiciais - mais de 38 mil - que a acusam de ter contribuído para o desenvolvimento do cancro nos ovários em consumidoras do produto, circunstância que a empresa nega e que a cada ano a leva a gastar milhões de dólares em casos nos tribunais.

Agora, a LTL Management, subsidiária da J&J, quer que os autores dos respetivos estudos "se retratem e/ou publiquem uma correção” das suas investigações, acusando-os de omitirem a informação de que alguns - senão todos - os participantes dos seus estudos terem sido expostos a amianto através de outras fontes que nada têm a ver com os seus produtos. A fabricante também apela ao tribunal federal de New Jersey para que obrigue os investigadores a revelarem a identidade dos participantes nos respetivos estudos.

Adam Zimmerman, professor de Direito da Universidade do Sul da Califórnia, confirmou à agência Reuters que é muito raro as empresas abrirem processos contra autores de estudos com os quais discordam. O especialista admite mesmo que será muito difícil para a LTL Management provar em tribunal que os investigadores prejudicaram intencionalmente a reputação da J&J. Mas sugere que a farmacêutica pode olhar para estes processos como uma forma de desencorajar outros investigadores a fazerem estudos semelhantes, ou até mesmo como uma forma de reforçar a narrativa de que os seus produtos são seguros.

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