Até junho, em média, uma noite num hotel no país custava 136,80 euros, mais 31,35 euros que em 2019. A subida dos preços afasta portugueses dos hotéis nacionais, que procuram destinos mais baratos
Em Portugal, no primeiro semestre deste ano, o preço médio por uma noite num hotel atingiu os 136,80 euros. Um valor que fica 30% acima (mais 31,35 euros) dos 105,45 euros fixados no primeiro semestre de 2019, antes da pandemia, e que ultrapassa em 13,5% o valor médio de 120,56 euros registados no período homólogo.
E este valor deverá ter subido tendo em conta que durante os meses de verão (julho e agosto), os hotéis, na generalidade, optam por ajustar os preços ao período de maior procura dos turistas.
Com estes preços, uma noite num hotel em Portugal é mais caro que em Espanha onde o valor médio, até junho, ficou ligeiramente abaixo com 135,8 euros, conseguindo uma taxa de ocupação superior à de Portugal (fixada em 62,3%) com 70,2%. Mas a diferença sobe quando comparamos Portugal com a Alemanha onde o rendimento por quarto ocupado (ADR) é de 113,73 euros e no Reino Unido de 128,62 euros.
Os valores foram adiantados ao ECO pela consultora norte-americana CoStar, que analisa dados nos mercados imobiliários e de turismo.
A tendência de subida de preços na hotelaria tem vindo a sentir-se desde o ano passado – quando o turismo ultrapassou em Portugal os recordes de procura e de receitas –, acompanhando o surto inflacionista e o aumento generalizado dos preços depois do início da guerra na Ucrânia. E esta subida já está a afastar os turistas, sobretudo portugueses, dos hotéis nacionais.
De acordo com os dados adiantados pela CoStar ao ECO, em média, a taxa de ocupação dos hotéis portugueses no primeiro semestre do ano ficou em 62,3%, abaixo dos 64,8% registados em 2019, quando o preço por noite era inferior. “Um aumento de preços de 30% quando o poder de compra dos portugueses aumentou muito menos e ainda foi afetado inflação e pela subida das taxas de juro/aumento da prestação da casa, tem que ter impacto negativo na hotelaria”, admite ao ECO a consultora especializada em turismo, Neoturis.
Perante este cenário, acrescenta ainda a Neoturis, os portugueses “ou despendem mais para ter os mesmos dias de alojamento que em anos anteriores, ou corta nos dias, procura outras épocas ou outros destinos”.
Para a Neoturis, a tendência da subida dos preços resulta de dois fatores: o “aumento acentuado dos custos operacionais (salários, energia, bens de consumo)” a que se soma a “escassez de recursos humanos qualificados na hotelaria”. Com este cenário, segundo a consultora, há “várias empresas hoteleiras que preferem maximizar o Revpar (receita por quarto) via ADR (receita por quarto ocupado), sacrificando a ocupação”. Ou seja, sobem os preços para compensar a redução de hóspedes, de forma a conseguirem “manter a qualidade de serviço com os recursos humanos disponíveis e controlar melhor os custos”.
Até porque, só com a subida dos preços, considera a consultora, “será possível pagar melhores salários na hotelaria, formar pessoas, investir em tecnologia, bem como manter e renovar o parque hoteleiro”.
Algarve é a região mais afetada pela quebra de turistas
Entre as regiões do país, de acordo com os últimos dados, o Algarve é a região mais afetada pela quebra na procura. Os últimos dados do INE revelam que em junho as dormidas naquela região ficaram 6,8% abaixo dos níveis de 2019, que se acentua entre os portugueses onde a quebra é de 17,9%. O Algarve é, aliás, a única zona do país onde o turismo ainda não atingiu os níveis pré-pandemia.
Também os dados provisórios da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve revelam que em julho a taxa de ocupação quarto foi de 82,3%. Ou seja, as unidades de alojamento naquela região registaram uma descida de 4,2 pontos percentuais na taxa de ocupação quarto face ao período homólogo e uma redução de 1,1 pontos percentuais quando comparado o mesmo mês de 2019.
Os mercados que mais contribuíram para a descida homóloga verificada foram o português com uma redução de 7,4 pontos percentuais, e o alemão, com menos 3,3 pontos percentuais.
Mas apesar dos preços das estadias, há ainda vários países europeus mais caros que Portugal. É o caso da Itália, onde, segundo os dados da CoStar, em média uma noite num hotel custa 197,77 euros, mais 60,97 euros que os hotéis nacionais, mas que, ainda assim, tem uma taxa de ocupação superior com 68,1%.
Na Grécia, os valores até junho atingiram os 174,37 euros, com uma taxa de ocupação de 62% e em França os valores ascendem a 168,64 euros com 65,1% de ocupação.