A poucos dias das presidenciais russas, Vladimir Putin deu uma entrevista à televisão Rossiya-1 e à agência de notícias RIA Novosti para deixar claro que a Rússia tem à sua disposição todos os meios necessários, "do ponto de vista técnico-militar", para responder a uma ameaça do Ocidente com uma guerra nuclear
Vladimir Putin assegurou esta quarta-feira que a Rússia está pronta para usar armas nucleares no caso de uma ameaça ao Estado, à soberania ou à independência do país.
Numa entrevista à imprensa estatal russa, a poucos dias das eleições presidenciais, Vladimir Putin advertiu que tudo depende dos EUA e disse esperar que o governo norte-americano evite qualquer escalada que possa desencadear uma guerra nuclear.
De qualquer modo, o presidente russo deixou claro que a Rússia está preparada, "do ponto de vista técnico-militar", para uma guerra nuclear. Por enquanto, porém, não vê necessidade para avançar nesse sentido.
"Além do presidente (dos EUA) Joe Biden, existem especialistas suficientes na área das relações russo-americanas e no campo da estratégia de moderação. Portanto, não creio que aqui tudo esteja a avançar nesse sentido (da guerra nuclear), mas estamos prontos para isso", frisou.
De acordo com o presidente russo, os EUA também estão a desenvolver testes nucleares, mas, do seu ponto de vista, isso não significa que estejam prontos para "lançar uma guerra nuclear amanhã".
Aliás, Vladimir Putin disse mesmo que as armas nucleares da Rússia são "mais avançadas" do que o arsenal nuclear dos Estados Unidos. "Só nós e os americanos é que temos tríades (sistemas de armamento lançados a partir da terra, do mar e do ar). Estamos muito mais avançados. Toda a nossa componente nuclear é a mais moderna", frisou.
"Eles estão agora a estabelecer tarefas para produzir essa modernidade, inovação, têm um plano delineado. Nós também sabemos disso. Eles estão a desenvolver toda a sua componente [nuclear]. Nós também", garantiu.
Afinal, disse, "as armas existem para serem usadas". "Nós temos os nossos próprios princípios", acrescentou.
O "guarda-chuva nuclear" da Coreia do Norte e os EUA
Na mesma entrevista à televisão Rossiya-1 e à agência de notícias RIA Novosti, Vladimir Putin falou também da Coreia do Norte para deixar claro que Pyongyang tem o seu próprio "guarda-chuva nuclear" e não pediu qualquer ajuda a Moscovo nesse sentido.
"Não nos pediram nada", frisou.
Em relação aos EUA, que se preparam para as eleições presidenciais em novembro, Vladimir Putin assegurou que a Rússia não interfere "de forma alguma" nas eleições e garantiu que vai trabalhar de igual forma com qualquer líder eleito dos EUA.
"Não interferimos de forma alguma nas eleições. E, como já disse muitas vezes, trabalharemos com qualquer líder que tenha a confiança do povo americano, do eleitor americano".
Nesta entrevista, de cerca de três horas, Putin revelou ainda que Donald Trump, quando era presidente, o repreendeu por "simpatizar" com o atual presidente Joe Biden. "No seu último ano de trabalho como presidente, o senhor Trump, hoje candidato presidencial, repreendeu-me por simpatizar com Biden. Ele perguntou-me uma vez: 'Você quer que o 'Sleepy Joe' vença? E depois, para minha surpresa, eles começaram a persegui-lo [a Trump] porque supostamente apoiávamos a sua candidatura. Foi algo sem qualquer sentido", contou.
Recentemente, Vladimir Putin adiantou que preferia Joe Biden a Donald Trump como presidente dos EUA.
A adesão da Finlândia e da Suécia da NATO
O foco da entrevista virou-se depois para a Europa, nomeadamente para a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO - que o presidente russo desvalorizou, dizendo mesmo que este é "um passo absolutamente insignificante (para a Finlândia e a Suécia) do ponto de vista da garantia dos seus próprios interesses nacionais".
Neste contexto, adiantou que a Rússia vai enviar tropas e sistemas de destruição para a fronteira finlandesa: "Não tínhamos tropas lá (na fronteira com a Finlândia), agora vamos enviá-las para lá. Não havia lá sistemas de destruição, agora eles vão aparecer."
Já sobre a Ucrânia em concreto, que tem lançado ataques com drones no território russo, Vladimir Putin considerou que o objetivo destes ataques passa por "interferir" nas eleições presidenciais russas, que vão decorrer entre os dias 15 a 17 deste mês.
"O principal objetivo, não tenho dúvidas, é - se não perturbar as eleições presidenciais na Rússia - pelo menos interferir de alguma forma com o processo normal de expressão da vontade dos cidadãos", teorizou.
Putin também expressou confiança de que Moscovo alcançará os objetivos na Ucrânia, mas disse estar aberto a negociações, acrescentando que qualquer acordo exigiria garantias firmes do Ocidente.
“Estamos preparados, mas apenas para negociações que não se baseiem em alguns desejos após o uso de psicotrópicos, mas nas realidades que foram criadas, como dizem nestes casos, no terreno”, frisou.