Paços de Ferreira-Marinhense, 2-1 (crónica)

18 nov 2001, 17:43

Será que o estádio está assombrado? A equipa da casa anda nervosa. Percebe-se isso. Nada saiu bem, os passes, as combinações. Houve assobios, chegou-se a pensar em surpresa, mas o Paços acabou seguir em frente na Taça.

Será que o Estádio da Mata Real está assombrado? Será que os fantasmas vagueiam pela relva e assustam os jogadores? Algo se passa. Na época passada, o Paços de Ferreira era um equipa alegre, divertida, que jogava futebol como quem nasceu para isso mesmo. Contagiava, deixava o público em êxtase. Agora, não. Os nervos são palpáveis, há uma tendência assustadora para tremer, mesmo perante adversários nitidamente inferiores, como este, o Marinhense, da longínqua II Divisão B. 

Mas vamos aos factos. É óbvio que a equipa da casa foi sempre o melhor conjunto, porém falou sempre qualquer coisa. E isso bem se pode explicar pela visível tremedeira desde o princípio até fim. Depois, os sócios também não ajudaram, geram-se os protestos, estalou a crítica e os futebolistas são os primeiros a pagar à factura. Por isso, andaram com a cabeça à nora durante o tempo em que o adversário conseguiu ter o jogo empatado. E acordaram a nove minutos do fim, de grande penalidade. Estava feito o golo da vitória, por Everaldo. 

Os pacenses passaram a semana em Lamego, em profunda reflexão depois da desastrosa derrota com o Boavista. Mas há ainda muitas arestas para limar, ou melhor, erros a reduzir. Estiveram a ganhar, como um golo de Leonardo, logo no início, mas deixaram-se empatar à custa de um penalty que podia ter sido evitado. Depois, foi sofrer a bom sofrer, porque o adversário era teimoso e acreditava no espírito da Taça de Portugal, em que os pequenos batem o pé aos grandes. Mas o sonho desfez-se, também à custa de um lance de bola parada. Ironia? Talvez... 

Mudanças na baliza 

Na baliza do Paços de Ferreira, uma novidade. Pinho saltou do banco de suplentes, onde habitualmente custa estar, e foi titular. Esta foi a alteração mais significativa na equipa, não se sabendo se tal alteração teve a ver com mera opção técnica ou com a infeliz exibição do guarda-redes Pedro em pleno Estádio do Bessa. Uma coisa e certa: Pinho não compremeteu, nem mesmo quando o Marinhense parecia transfigurado, ou seja, com arcaboiço de uma equipa da I Liga. 

E merece a pena falar deste Marinhense. Foi um conjunto disciplinado, seguro a defender, prudente a atacar, mas sempre com determinação. Quando Leonardo inaugurou o marcador todos pensaram na goleada, mas os futebolistas continuaram calmos e serenos. Tudo havia de mudar. E mudou, poucos minutos depois. De grande penalidade, a castigar um derrube de Mário Sérgio sobre Antero. Rui Rodrigues repunha a igualdade e uma estranha forma de jogar. 

O opositor parecia correr mais do que o Paços de Ferreira, envolvido numa teia misteriosa em que tudo saía mal: os passes, as combinações, os remates. O público não gostava, assobiava e os jogadores começavam a ficar impacientes perante tamanha bola de neve crescente. Este é o tal fantasma psicológico que assombra as mentes, porque uma equipa não pode desaprender de jogar de um momento para o outro. Há escassas jornadas, antes de golear o Sporting, a formação de José Mota pautava-se pelo espectáculo. Agora, tudo é diferente. 

Segunda parte de sacrifício 

A segunda parte foi de grande sacrifício. Grande sacrifício porque havia uma equipa que queria, mas não podia. Os da casa bem batalhavam, pressionavam a todo o terreno, mas o golo era algo inatingível. O Marinhense defendia bem, com autoridade e apostava tudo no contra-ataque, muitas vezes o exemplo da imperfeição. Senão, a história poderia ter sido outra. 

O Paços de Ferreira estava com o pé na tábua, mas os nervos continuavam a fazer mossa à flor da pele. Nas bancadas, esperava-se pelo prolongamento até que Nuno Sousa derrubou Leonardo dentro da grande-área. Grande penalidade e golo, a nove minutos do fim. Respirou-se de alívio, porque muita gente chegou a pensar numa surpresa. Os homens da Marinha Grande bem podiam ter sido o grande tomba gigante da Taça de Portugal. Mas o destino não quis. Boa arbitragem.

Patrocinados