Gil Vicente - FC Porto, 2-2 (destaques)

4 nov 2000, 21:00

Nem a lama afastou o prazer É inevitável recorrer a Deco. O brasileiro não escolhe palcos e até com chuva a cântaros continuou a ter uma íntima relação com a bola. O seu alter-ego, Carlos Paredes, continua a despempenhar a função menos agradável, porém imperiosa: destruir o jogo do adversário e aparecer esporadicamente no ataque para criar desequilíbrios. Do lado gilista, uma estreia feliz (Del), e um extremo-direito endiabrado na ala esquerda (Vítor Vieira).

Deco

A bola dança nos seus pés, percorre cada centímetro de relva com laivos de prazer, viaja matreira e satisfeita com as carícias do brasileiro. Deco é o parceiro perfeito, sabe conviver em campo, distribuir jogo por toda a equipa e levar o adversário ao desespero, pela extensa lista de opções tácticas memorizadas. O FC Porto ganhou criatividade no meio-campo com a entrada do criativo e nota-se a dependência da equipa na transposição da defesa para o ataque. Mesmo num terreno pesado e pouco propício a grandes criações, Deco prescindiu dos dribles constantes a apelou à combatividade, tornando-se um jogador disponível a correrias loucas e passes em profundidade, sempre rentabilizando os dois pés. 

Paredes

O alter-ego de Deco actua numa faixa de terreno bem recuada, entre o elemento prático da defesa e a fábrica de criatividade do meio-campo ofensivo. É um trabalhador incansável e um amigo fiel do treinador, tendo em vista o importante período de inverno que hoje marcou o seu início. Parece que o paraguaio nasceu com o espírito do dragão, pela sua atitude de raça e determinação. Para além destas virtudes, hoje Paredes conseguiu desinibir-se um pouco mais e subir até perto da área para criar desequilíbrios e assistir Pena na perfeição, para o primeiro golo do FC Porto. 

Pena

Nas Antas não é de bom tom estabelecer-se a comparação entre Pena e Jardel. Qualquer mente considerará óbvio que os dois goleadores não possuem as mesmas características, mas o mais recente herói-dragão é, claramente, um digno sucessor do Super Mário. Para já, tem conseguido manter a média superior a um golo por jogo, embora adicione ao espírito de «matador» uma presença em campo mais constante e interventiva, ajudando a equipa na hora de recuperar a bola. Os onze golos que apontou em oito partidas ¿ começou a jogar à 2ª jornada ¿ são uma alegria para os portistas, mas nem sempre são suficientes para a vitória. 

Del

A maior surpresa no Gil Vicente foi a inclusão do jovem brasileiro ao lado de André, partilhando funções no meio-campo defensivo. Pela primeira vez a titular num conjunto cheio de receios, por ser último, e de ambições, por defrontar o líder, Del não se atemorizou e mostrou ao treinador que foi uma aposta ganha para segurar a forte iniciativa portista. Bem melhor do que os seus companheiros da defesa, e apesar do aspecto franzino, o médio esteve em alguns lances de destaque do Gil Vicente. Primeiro, num forte remate à baliza de Ovchinnikov, e posteriormente, cortando um lance de Capucho, quando o extremo se preparava para colocar o FC Porto em vantagem. 

Vítor Vieira

Não tem sido um bom campeonato para o ex-amadorista, mas hoje Vítor Vieira foi um dos elementos mais produtivos do Gil Vicente, embora em funções um pouco diferentes do habitual. Os seus raides na ala direita ficaram conhecidos e os treinadores costumam tentar tirar partido da ousadia que proporciona junto à linha. Numa ironia conjurada por Álvaro Magalhães, Vítor Vieira deslocou-se para o lado esquerdo e fez a vida negra a Secretário, que muitas vezes se deixou levar por simulações e fintas. 

Defesa gilista

Ser último classificado à 10ª jornada não pode ser um mero acaso, pelo que as explicações para o fracasso não são difíceis de encontrar. Um dos motivos que ajuda a enterrar as expectativas do Gil Vicente é o sistema defensivo e nomeadamente dois jogadores. Alex Sandro, de uma forma mais evidente, e Sérgio Lomba não oferecem segurança à equipa e permitem que o adversário chegue ao golo com relativa facilidade.  

Equipa de arbitragem

Olegário Benquerença surgiu nas bocas do mundo na semana passada, por ter sido sorteado para o jogo U. Leiria-Guimarães e trocado à última hora por José Luís Tavares. Descansou, mas as ideias continuam confusas. Depois de uma primeira parte impecável, o árbitro de Leiria errou em dois lances capitais e acabou por influenciar o desenvolvimento do jogo. As duas grandes penalidades que assinalou deixam poucas dúvidas, pois a sensação que fica é que nenhuma delas existiu. Para além disso, se considerou que Ovchinnikov fez falta sobre Clayton, então teria que o expulsar, dado que o gilista ia isola-se (embora também se tenha atirado para a lama de forma teatral).

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