"António Costa? Eu estudei personagens com a sra. dona Agustina Bessa-Luís: a certa altura as personagens metem-se no seu próprio labirinto e depois não conseguem sair dele"

8 nov 2023, 12:50

Para Luís Paixão Martins, António Costa sai por uma porta que não é assim tão pequena quanto parece. Carlos Magno acrescenta outro modo de ver - mais literário

A demissão de António Costa acontece quando o primeiro-ministro "estava quase a chegar ao 8.º aniversário" de governação e faz com que este saia "do governo pela porta pequena". Na opinião de Luís Paixão Martins, comentador da CNN Portugal, apesar de não sair pela "porta grande", Costa conseguiu "responder melhor do que aquilo que lhe prepararam".

"Acho que lhe prepararam uma porta pequena, mas ele, de qualquer forma, conseguiu responder melhor do que aquilo que lhe prepararam. Também não digo que saiu pela porta grande, é evidente. Não disse que ele não saiu com dignidade, são coisas distintas", considera.

Para Luís Paixão Martins, o último parágrafo do comunicado de António Costa ao país, em que revela que foi "surpreendido com a informação de que irá ser instaurado um processo-crime" contra ele, mostra que a ação da Procuradoria-Geral da República o deixou numa situação mais fácil no ponto de vista da decisão, mas também de não ter de se referir diretamente ao chefe de gabinete.

"Enquanto em relação aos outros assuntos ele podia fazer uma avaliação, até admito que provavelmente foi o que ele tentou fazer na primeira audiência que teve com o Presidente da República, depois, quando conheceu o comunicado que foi publicado logo a seguir à audiência da senhora procuradora-geral da República com o nosso Presidente da República, ele terá ficado, digamos, com a vida facilitada desse ponto de vista."

Para Luís Paixão Martins, a demissão de Costa "teve dois triunfadores do dia que têm produtos envenenados" deixados pelo primeiro-ministro e que têm agora de "demonstrar que esta vitória não é uma vitória de pirro".

"Há dois triunfadores do dia, do ponto de vista do que se passou hoje, que têm aquilo que podemos chamar 'produtos envenenados' e o António Costa foi a pessoa que os deixou. O Presidente da República, que deixou ter um adversário político, um adversário na cena política, com a saída de António Costa, ficou sozinho. E depois há o outro vencedor, que é, se quisermos, a procuradora-geral da República, que conseguiu ter um momento de poder como nunca tinha tido, provavelmente, na história da nossa democracia. Qual é o problema? Qual é o presente envenenado? É que vai ter de ter um comportamento consistente para conseguir, digamos, tirar razão a António Costa", afirmou o comentador, lembrando os vários julgamentos que envolveram figuras políticas. 

Lições de Agustina

Por sua vez, Carlos Magno, também comentador da CNN Portugal, considera que António Costa foi colocado num "filme onde não queria entrar, a fazer um papel para o qual não tinha sido preparado, nomeadamente por Luís Paixão Martins".

"Ele hoje teve de improvisar muito, mas tomou a única atitude que quem estuda personagens, e eu estudei-as com a sra. dona Agustina  Bessa-Luís em bons tempos, quem estuda personagens percebe que a certa altura as personagens metem-se no seu labirinto e depois não conseguem sair, ou seja, António Costa foi vítima da sua, perdoem-me a expressão, Galambice, e ao mesmo tempo não conseguiu sair daquilo em que ele próprio se tinha metido", afirmou Carlos Magno.

No entanto, apesar de o primeiro-ministro demissionário ter sido apanhado "num filme onde não queria entrar", o comentador da CNN Portugal considera que "o fim de Costa não está decretado neste momento."

"Acho que Costa tem futuro político e não é provavelmente aquele que dizem de um futuro europeu, é outra coisa. Acho que Costa sempre fez política na vida e vai continuar a fazer política e há muitas maneiras de se estar na vida pública."

Carlos Magno afirma ainda que o primeiro-ministro "não tinha isto no seu guião, na sua agenda e de repente é apanhado de surpresa em surpresa", mas lembra que António Costa é "especialista em arranjar soluções quando tudo parece inclinado apenas para uma única solução".

"Pelo que conheço dele e pelo que vejo dele no momento em que faz a sua declaração às 14:20, é de alguém que apanha um susto, uma surpresa. Acho que nós passámos da surpresa inicial para aquilo a que se pode chamar 'o princípio da incerteza'. E um dia banal transformou-se num dia histórico. António Costa não tinha isto no seu guião, na sua agenda e de repente é apanhado de surpresa em surpresa e quando tem esta atitude ele não surpreende, mas eu acho que o país olha para ele e diz: 'Mas afinal o que é que aconteceu, com quem é que ele falou ao telefone, o que é que ele disse, de que é que o acusam?'."

Comentadores

Mais Comentadores

Mais Lidas

Patrocinados