Krugman alerta para crash: “as criptomoedas são o novo subprime”

28 jan 2022, 07:00
Paul Krugman

Há um “crash” de preços nas criptomoedas desde novembro, escreve o prémio Nobel da Economia, que vê paralelos com a crise do “subprime” de há 15 anos. Quem são os perdedores?

“Estou a ver paralelos desconfortáveis com a crise do ‘subprime’ dos anos 2000”, escreve o nobel da Economia, Paul Krugman. Não no sentido de ameaçar o sistema financeiro, ressalva, uma vez que criptomoedas não movimentam suficiente capital para isso. “Mas há indícios crescentes de que os riscos das criptomoedas estão a cair desporporcionalmente sobre pessoas que não sabem no que se estão a meter e que estão mal posicionadas para lidar com as perdas”.

Os alertas de Paul Krugman estão vertidos num texto de opinião no The New York Times, onde o economista analisa a desvalorização das criptomoedas ao longo últimos meses. Assinalando que elas se tornaram uma grande classe de ativos de investimento, com muitos ganhos pelo caminho para muitos investidores, Krugman destaca que o valor deste mercado atingiu no outono passado os três biliões (três milhões de milhões) de dólares, mas desde então “os preços crasharam”, fazendo desaparecer cerca de 1,3 biliões de dólares de valor de mercado. É o caso da Bitcoin, a criptomoeda mais célebre, que vale esta semana cerca de metade do que valia em novembro.

“Quem está a sofrer com este ‘crash’, e o que pode ele provocar na economia?”, questiona Krugman.

“Quem são os perdedores?”

É esta a pergunta que preocupa Krugman, que mesmo admitindo que os preços possam recuperar como já aconteceu no passado, não tem dúvidas em reafirmar que há um “crash” nas criptomoedas. E isso tem “ecos perturbadores com o crash do ‘subprime’ há 15 anos”.

Recorde-se que a crise do “subprime” eclodiu nos Estados Unidos em 2007, levando à queda e ao resgate de bancos e seguradoras nos EUA e na Europa no ano seguinte, criando um problema global no sistema financeiro. O “subprime” era a categoria de créditos à habitação de baixa qualidade, ou seja, concedidos a clientes com alto risco de pagamento, e que depois eram “empacotados” em produtos financeiros com bons “ratings”, em que muitos grandes bancos mundiais acabaram por investir. Quando muitos clientes deixaram de pagar os créditos, perderam as casas e os bancos tiveram prejuízos, criando-se um efeito dominó em instituições que tinham comprado esses créditos, o que levou à quebra de bancos como o Lehman Brothers em 2008.

No caso das criptomoedas, analisa Paul Krugman, “é improvável que causem uma crise económica global, pois mesmo um “golpe” de 1,3 biliões de dólares não tem dimensão suficiente para tanto. “Mesmo assim, há pessoas a sofrer. Quem são elas?”

Analisando dados norte-americanos, que mostram que “os investidores em criptomoedas parecem ser diferentes dos investidores noutros ativos de risco, como ações”, Krugman cita um estudo que revela que “44% dos investidores em criptomoedas são não-brancos e 55% não tem curso superior. Isto bate certo com a evidência anedótica de que o cripto-investimento se tem tornado claramente popular entre grupos minoritários e na classe operária” – e Krugman recorda-se de quando a expansão dos créditos à habitação eram celebrados “como uma forma de abrir os benefícios de ser proprietário a grupos antes excluídos”

“Isso resultou, contudo, em que muita gente que pedia crédito não percebia no que se estava a meter.” E as criptomoedas “são tão arriscadas quanto uma classe de ativos pode ser”.

Enquanto investidores sofisticados sabem lidar com a informação de modo a diversificar os seus investimentos em ativos como este, conseguindo aguentar o impacto de eventuais perdas, investidores menos habilitados podem ter surpresas desagradáveis com grande impacto.

Krugman conclui: “os reguladores cometeram o mesmo erro que fizeram no subprime: falharam em proteger o público contra produtos financeiros que ninguém compreendeu, e muitas famílias vulneráveis poderão acabar por pagar o preço”.

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