Se está a pensar tirar umas férias em Bali, e for um forte apreciador das tradições dos sítios que visita, este texto pode ajudá-lo a definir a melhor altura para fazer a sua reserva
Bali, na Indonésia, é um dos destinos de férias mais populares no mundo. As ruas vibram com o zumbido das motos e com o burburinho alegre que sai dos cafés.
Mas durante um dia por ano, a ilha inteira entra num silêncio profundo.
Trata-se do Nyepi, o Ano Novo balinês.
Ao contrário de muitas outras culturas, os hindus de Bali não assinalam a entrada num novo ano com fogo de artifício, festas ou bebida.
Em vez disso, contemplam o Nyepi, o silêncio. Durante 24 horas, começando às seis da manhã, os hindus de Bali fazem jejum, meditam, desligam a eletricidade e ficam em casa com as suas famílias. As forças de segurança locais, conhecidas como pecalang, patrulham as ruas para garantir que ninguém sai. Não há carros nas ruas, com exceção para as ambulâncias. A ilha inteira para.
Independentemente das suas crenças pessoais, todos que visitarem Bali durante o Nyepi sentirão os efeitos deste feriado. O aeroporto e todas as atrações turísticas estão fechados e os hotéis não tratam dos processos de entrada ou de saída dos hóspedes durante este período.
Amanda Syrowatka, dona do Viceroy Bali, ajuda a gerir as expectativas dos hóspedes durante o Nyepi. Ela indica que, apesar de existir um dia de silêncio, os dias que antecedem o Ano Novo balinês são muitos populares entre os visitantes devido aos rituais especiais que não é possível vivenciar em nenhum outro local.
O que é o Nyepi e o que representa?
O calendário balinês tem 210 dias. O Nyepi acontece no dia seguinte à lua nova do 10º mês lunar – este ano, calhou a 11 de março.
O dia anterior ao Nyepi é o Ngrupuk, quando imagens de monstros gigantes, chamados ogoh ogoh, representando espíritos malignos, são mostradas por crianças. São precisos vários meses para construir essas mesmas imagens, a partir de papel machê, que são simbolicamente queimadas no final do desfile.
“Do ponto de vista da religião e da filosofia, o Nyepi pretende ser um dia de autointrospecção, para refletir sobre os nossos valores de humanidade, amor, paciência e bondade, que devem estar dentro de nós para o resto das nossas vidas”, explica o Professor Wayan Ari, diretor académico da School for Internation Training, natural de Bali.
O Ngrupuk é, então, um dia para eliminar todo o barulho do nosso sistema antes de marcar o novo ano com introspeção.
Wayan explica que é tradicional andar de casa em casa “carregando uma tocha, fazendo muito barulho, deixando um tempero local chamado meswi nos cantos dos prédios dos nossos bairros e construindo uma 'cruz', ou tapakdara, de calcário branco aos pés dos nossos santuários domésticos”.
Embora a maioria dos indonésios seja muçulmana, Bali é uma exceção, por ser sobretudo hindu. Apesar de o Hinduísmo ter as suas origens na Índia, o Hinduísmo balinês tem muitos costumes e práticas diferentes. Os feriados hindus como o Holi e o Diwali são muito menos populares do que o Nyepi na ilha.
Como é a experiência de um turista durante o Nyepi?
Jero Mangku Tindih é gerente no resort Viceroy Bali. Sendo natural desta ilha, gosta de poder ensinar outras pessoas sobre as crenças e práticas da sua cultura.
Ele e Syrowatka, a dona deste empreendimento, trabalham juntos na preparação de um pacote especial para o Nyepi, de modo a ajudar os hóspedes a entender e a participar nas celebrações.
Tindih e a sua equipa conversam com os hóspedes antes do Nyepi, para convidá-los a dirigir-se à vila mais próxima e a participarem nas celebrações do Ngrupuk.
O site da Viceroy bloqueia o Nyepi no seu calendário de reservas: os hóspedes que cheguem antes do feriado podem ficar, mas ninguém dá entrada ou começa uma nova reserva nesse dia. A unidade fornece ainda informação aos turistas antes das suas viagens.
Os visitantes não podem deixar os seus hotéis ou apartamentos de férias no Nyepi. Se quiserem viver este dia como um local, podem optar por evitar os dispositivos eletrónicos e outras formas de tecnologia. O Viceroy Bali fornece três refeições – já que não há restaurantes abertos – e mantém a piscina, o spa e o ginásio abertos para os hóspedes que os quiserem usar. Também o Wi-Fi continua ligado.
“Respeitamos a nossa cultura, mas também respeitamos os nossos hóspedes”, diz Tindih. “Não têm a mesma religião que nós, o que significa que o nosso hotel continua a funcionar normalmente”.
Para o Ngrupuk, há membros da equipa disponíveis para levar, num carrinho de golfe, os hóspedes interessados à vila mais próxima. Além do desfile de ogoh ogoh, os hóspedes podem assistir à chamada “guerra de fogo” – um ritual dramático onde os homens colocam fogo em cascas de cocos, atirando-as depois uns aos outros.
Se há turistas que planeiam ir a Bali de propósito para assistir ou participar no Nyepi, há outros que acabam por ser surpreendidos por esta celebração.
A escritora americana Margot Bigg insere-se nesta última categoria. Apesar de não ter consciência deste feriado ou das regras à volta dele quando reservou as suas férias em 2019, conta que o seu hotel em Ubud a contactou por email para explicar o que era o Nyepi e o que se iria passar – ou, melhor, o que não se iria passar – naquele dia.
“Embora eu não fosse planear uma viagem devido ao Nyepi”, diz Bigg, “é certo que não me importaria de voltar a Bali. É uma tradição muito bonita, de que todos nós poderíamos beneficiar se a praticássemos, pela nossa própria saúde mental e espiritual”.