Bispo Américo Aguiar em Setúbal para seguir passos do conterrâneo Manuel Martins

Agência Lusa , MM
21 set 2023, 11:47

Américo Aguiar foi nomeado esta quinta-feira para a diocese de Setúbal pelo Papa Francisco

O novo bispo de Setúbal, Américo Aguiar, nomeado esta quinta-feira, pelo Papa Francisco, é oriundo da terra natal do primeiro titular daquela diocese, o bispo Manuel Martins, que ali esteve entre 1975 e 1998.

Ambos de Leça do Balio, Matosinhos, têm outros pontos em comum no seu percurso, como o facto de terem exercido o cargo de Vigário-Geral na diocese do Porto ou liderado a Irmandade dos Clérigos, e o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 não esconde a admiração pelo seu conterrâneo que, em Setúbal, viveu os tempos conturbados do pós-Verão Quente de 1975.

Américo Aguiar, que em 30 de setembro será, em Roma, elevado a cardeal pelo Papa Francisco, foi um dos nomes mais falados nos últimos meses para vir a liderar o Patriarcado de Lisboa, mas o escolhido para substituto do cardeal Manuel Clemente acabou por ser o até então bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, Rui Valério, que entrou na nova diocese no início deste mês.

Debaixo dos holofotes nos últimos anos devido ao papel que teve na liderança da equipa responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, Américo Aguiar é, desde há muito, um homem habituado a estar sob escrutínio.

Nascido em 12 de dezembro de 1973 em Leça do Balio, Matosinhos, no seio de uma família com pouca ligação à Igreja, Américo Aguiar entra para os escuteiros, movimento que o entronizou na Igreja.

A política também fez parte do seu percurso, tendo chegado a ser deputado municipal em Matosinhos e militante do PS. Narciso Miranda, pela mão de quem o prelado entrou na política, não esconde a admiração por Américo Aguiar e não tem dúvidas: “A política ficou a perder, a Igreja a ganhar".

Entrou no seminário aos 22 anos e foi ordenado padre em 2001.

Foi pároco de S. Pedro de Azevedo (Campanhã), notário da Cúria Diocesana do Porto, chefe do gabinete de informação e comunicação da diocese do Porto, vigário-geral e chefe de gabinete dos bispos Armindo Lopes Coelho, Manuel Clemente e António Francisco dos Santos quando estes ocuparam o cargo de titulares da diocese nortenha.

Exerceu ainda as funções de capelão-mor da Misericórdia do Porto e de vice-reitor do Santuário Diocesano de Santa Rita, em Ermesinde. Foi também pároco da Sé.

Entre 2011 e 2020, presidiu à direção da Irmandade dos Clérigos, sendo o padre Américo – como é normalmente conhecido no Porto, apesar de ser bispo há alguns anos – considerado figura de referência na recuperação e restauro da Torre dos Clérigos.

Homem ligado à comunicação – é autor do livro “Um Padre na Aldeia Glob@l” -, é presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia, tendo passado já, também, pela direção nacional do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, órgão da Conferência Episcopal Portuguesa. Foi, ainda, diretor do jornal A Voz da Verdade, do Patriarcado de Lisboa.

Nomeado bispo auxiliar de Lisboa em março de 2019, foi desde esse ano e até março de 2023, coordenador da Comissão Diocesana para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa.

Tal como outros membros da Igreja, também neste tema não escapou à polémica, quando, em outubro de 2021, defendeu que uma eventual investigação acerca da pedofilia e dos abusos de menores não poderia ser circunscrita à Igreja Católica, alegando que o flagelo não poderia ser combatido com uma “omissão em relação a todos os outros agentes envolvidos”, pois trata-se de um “crime transversal” à sociedade.

Outra polémica, viveu-a já este ano, quando os custos inicialmente previstos para o alta-palco do Parque Tejo, onde decorreu a vigília e a missa final da Jornada da Juventude, vieram a público. Depois de grandes discussões, o custo foi reduzido de 4,2 milhões de euros para 2,9 milhões.

E a menos de um mês da abertura da JMJ, ainda foi alvo de novo conjunto de críticas de alguns setores mais conservadores da Igreja, por ter afirmado que na Jornada não se queria “converter os jovens a Cristo ou à Igreja”.

De sorriso fácil e sempre com uma piada pronta, Américo Aguiar foi ultrapassando estas dificuldades. Obstáculos também o esperam na diocese de Setúbal, onde o seu conterrâneo ficou conhecido como o “bispo vermelho”, pelas posições assumidas em defesa dos mais desfavorecidos, num período pós-revolução.

Sem bispo desde o início de 2022, quando José Ornelas foi nomeado para Leiria-Fátima, Setúbal é uma diocese marcada pelas dificuldades sociais, com o bispo a ser olhado, muitas vezes, como a voz dos mais desfavorecidos.

Sobre a elevação a cardeal, em declarações ao Expresso, admitia que “ninguém sonha ser cardeal, (…) só se não tiver juízo".

Mas, também repete constantemente: “No dia 08 de julho de 2001 fui ordenado padre, nesse dia, as minhas vontades ficaram lá. A partir daí, a motivação é Cristo Vivo e eu tenho correspondido àquilo que a Igreja me pede. Sempre que eu estou a terminar qualquer coisa, aparece outra. Portanto, (…) a mala está pronta, o saco-cama está enrolado, o cantil tem água e estou disponível, sou escuteiro, ‘sempre alerta para servir’".

Menos conhecida é a sua faceta de confrade, desde logo da Confraria das Tripas à Moda do Porto, a que se juntam as confrarias da Cerveja e do Vinho do Porto.

Américo Aguiar, que chegou a sofrer pelo Benfica, é hoje Dragão de Honra e de Ouro do Futebol Clube do Porto.

Também a defesa do ambiente foi uma preocupação que demonstrou desde muito jovem, tendo sido fundador, em 1991, da Amileça - Associação dos Amigos do Rio Leça, eco-conselheiro da Câmara Municipal da Maia, entre 1993 e 1995, tendo passado ainda pela presidência da Assembleia Geral da Associação Animal

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