"Os tolos", "os fanáticos", "os sábios", os novos e os velhos: um dia no Parlamento com os deputados com mais e menos idade

29 mar 2022, 20:42

Têm 53 anos de diferença - mas há muito mais que a idade a separá-los. Rita Matias é estreante e a mais nova deputada da nova Assembleia da República, Alexandre Quintanilha o mais experiente

Dois meses depois das eleições legislativas começaram finalmente os trabalhos parlamentares. E esta terça-feira foi também o dia em que um terço dos deputados ocupou um lugar no hemiciclo pela primeira vez. 

Uma das estreantes é Rita Matias, a deputada mais nova da XV Legislatura. Tem 23 anos, durante algum tempo geriu as redes sociais do Chega e é o único elemento feminino do grupo de 12 deputados eleitos pelo partido de André Ventura. À chegada à Assembleia da República, prontamente percorreu os corredores do Andar Nobre até à nova sala do partido: "Está a ser um dia emocionante sentir que estamos a fazer história: o Chega chegou e finalmente temos um grupo parlamentar. É muito motivante olhar para esta sala, ver os meus colegas e saber que estamos aqui para trabalhar por Portugal é algo que enche a alma. Mas confesso que me sinto um pouco nervosa, ansiosa e entusiasmada".

O nervosismo advém da responsabilidade de representar "os quase 400 mil eleitores que votaram no seu partido" mas advém também de outro fator:  "Vejo a minha idade também com sentido de responsabilidade. A minha geração está sub-representada" - nestas legislativas foram eleitos oito deputados com idades abaixo 30 anos. São menos dois que nas eleições anteriores e é preciso recuar até 2009 para encontrar um número tão baixo.

A percorrer os mesmos corredores, mas há mais tempo, Alexandre Quintanilha, de 76 anos, é o deputado mais velho do Parlamento. À CNN Portugal, o também investigador na área da Física saúda a diferença de idades no hemiciclo: "Faz parte do que é uma democracia a funcionar", mas adverte para os clichés: "Temos a ideia de que os mais jovens são mais ambiciosos, imaginativos e criativos. Não é verdade", começa por afirmar o deputado socialista, explicando. "Muitas vezes têm convicções maiores e mais certezas do que aqueles como eu que já viveram muito e já percebemos que às vezes temos muitas vezes mais dúvidas do que certezas". E cita até Bertrand Russell: "O problema do mundo é que os tolos e fanáticos são sempre muito seguros de si mesmos e as pessoas mais sábias cheias de dúvidas". Só que, para o socialista, "os tolos e fanáticos não são só os jovens, também há tolos e fanáticos da minha idade e sábios em todas as idades". "É perfeito que o debate possa vir de todos os quadrantes."

Rita Matias não tem medo do debate: "Estamos a ser preparados para todos os confrontos desde o momento em que nos tornámos militantes do Chega. Cá estarei - não para combater individualmente pessoas, mas acima de tudo ideias".

Separados por muito mais que a idade

Apesar de não ser o seu primeiro mandato, este primeiro dia de Parlamento também traz desafios novos para Alexandre Quintanilha: "O mundo está a passar por momentos algo preocupantes", diz o socialista, referindo que a pandemia ainda não acabou e que há outros desafios que considera muito importantes - as alterações climáticas, o futuro do trabalho e a justiça social. "A minha postura sempre foi esta: tentar encontrar consensos. E às vezes os consensos são muito difíceis - e eu continuarei a lutar pela lei da eutanásia, por exemplo."

No lado oposto do espectro político, Rita Matias assume-se como grande defensora da família tradicional e é contra a despenalização do aborto. Promete levar para o Parlamento propostas para apoiar a habitação jovem e combater a precariedade. "Mas as minhas prioridades também serão as prioridades do Chega: combate à corrupção, de grande oposição e fiscalização. Sabemos que um governo de maioria absoluta pode ser relaxado, mas nós cá estaremos para garantir que não se relaxam e para garantir a qualidade da democracia."

Alexandre Quintanilha tem uma visão distinta sobre o significado desta maioria absoluta: "Quem está na oposição acha sempre que não se fez o suficiente ou está a fazer-se errado". E explica como as prioridades governativas são também algo em contínua adaptação: "Atualmente a área prioritária é a guerra na Ucrânia e os refugiados, há um ano era a pandemia, há três anos era o senhor de cabelos laranja na Casa Branca. As prioridades mudam muito depressa e aquilo que tem sido o meu desejo para o Parlamento é que todas as políticas sejam baseadas no conhecimento mais robusto que existe". Mas "enquanto o conhecimento leva muito tempo para se tornar robusto, a política não tem esse luxo porque os cidadãos querem essa resposta já". "Há sempre uma dissonância que é normal, mas que se calhar com a idade também percebemos que tem de ser assim porque já vivemos bastantes situações de crise".

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