Omer e Omar, quatro anos de idade - um morto pelo Hamas, outro por Israel. Mas nas redes sociais quiseram negar a morte de ambos ("é um boneco", "é um ator")

26 out 2023, 14:07
Destruição na Faixa de Gaza (AP)

Estado de Israel afirmou que Omar era "um boneco". Sobre Omer foi dito que era um “ator” porque o Hamas “não mata crianças”

Esta é a história de dois menores de quatro anos: Omer Siman-Tov, israelita, e Omar Bilal al-Banna, palestiniano. Ambos viviam a 23 quilómetros um do outro – Omer no kibutz de Nir Oz, Omar em Al-Zeitoun, em Gaza – e foram mortos nos primeiros dias da guerra entre Israel e o Hamas.

Segundo a BBC, Omer morreu no dia 7 de outubro quando o Hamas atacou a sua casa em Nir Oz. Quatro dias depois, um bombardeamento israelita à cidade de Gaza vitimou Omar.

Ao canal britânico, a mãe da criança palestiniana, Yasmeen, afirma que Omar e o seu irmão mais velho, Majd, estavam a brincar na rua quando se deu o ataque israelita. Os destroços de um edifício atingido caíram em cima de Omar.

Um vídeo do corpo de Omar, nas mãos de um homem, foi publicado na rede social X por uma conta pró-Israel, de acordo com Marianna Spring, jornalista da BBC. A legenda a acompanhar o vídeo dizia o seguinte: “O Hamas está desesperado! Divulgaram um vídeo que mostrava um bebé palestiniano morto. Mas esperem: não era um bebé, era um boneco!”.

De acordo com a BBC, citando os dados fornecidos pelo X, a publicação foi vista cerca de 3,8 milhões de vezes. Pouco depois, a conta oficial do Estado de Israel, bem como as de várias embaixadas do país pelo mundo, publicaram o mesmo vídeo.

"O Hamas publicou acidentalmente um vídeo de um boneco (sim, um boneco) sugerindo que era uma vítima de um ataque das IDF [Forças de Defesa de Israel]”, pode ler-se na publicação da conta oficial do Estado de Israel.

A BBC contactou o jornalista que filmou o vídeo, Moamen el Halabi, bem como um fotojornalista da AFP presente no local naquele momento, Mohammed Abed. Ambos confirmaram “categoricamente” que Omar não era um boneco, partilhando com Spring outras fotografias do cadáver da criança de quatro anos.

"Eles [o governo israelita] não têm o direito de dizer que ele é um boneco. Eles estão a mentir e a fugir aos seus crimes e massacres", disse a mãe, Yasmeen.

Contactado pela estação britânica, um porta-voz da embaixada israelita no Reino Unido não comentou diretamente a ocorrência e acusou a BBC de desinformação. A rede social X não respondeu aos pedidos de contacto.

Tal como Omar, Omer Siman-Tov foi alvo da desinformação que proliferou nas redes sociais.

A criança de quatro anos morreu juntamente com as suas duas irmãs mais velhas, Shachar e Arbel, quando a sua casa foi incendiada pelos terroristas do Hamas. Os pais, Tamar e Yonatan, foram mortos a tiro.

No dia 8 de outubro, cerca de 24 horas após os ataques, a conta oficial do Estado de Israel publicou uma fotografia da família na rede social X.

Nos comentários à publicação, um utilizador acusou Omer de ser um “ator” porque o Hamas “não mata crianças”. Outros, diz a BBC, disseram que Israel “não tinha provas”, que a publicação era um “exemplo perfeito da propaganda dos judeus” e que tinha sido mesmo Israel a matar aquela família.

"Só quero que o mundo se lembre e saiba o que aconteceu. Lidar com a sua morte já é difícil e todos estes comentários tornam-no ainda pior. Como é que posso responder a isto? Tenho de provar que eles morreram? Porque é que cinco campas tiveram de ser preenchidas com os seus belos corpos?”, disse à BBC Mor Lacob, uma amiga da família Siman-Tov. "O meu coração está com todos os inocentes que foram assassinados e mortos por causa das ações do Hamas. Não é justo."

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