Naufrágio na Grécia: nove alegados traficantes detidos, manifestantes protestam contra legislação migratória da União Europeia

CNN Portugal , MJC
16 jun 2023, 10:02

Centenas de migrantes continuam desaparecidos após o naufrágio ocorrido na quarta-feira no Mediterrâneo, ao largo da Grécia. A polícia prendeu nove alegados traficantes de pessoas, responsáveis pela embarcação. Em Atenas e noutras cidades, manifestantes exigem nova legislação europeia para evitar outras tragédias

As autoridades gregas prenderam nove alegados traficantes de pessoas responsáveis pelo barco de pesca superlotado que se afundou no Mediterrâneo, na quarta-feira. Até agora, 78 mortes foram confirmadas, mas a polícia grega acredita que até 500 pessoas estão desaparecidas, com relatos de testemunhas de que cerca de 100 crianças viajavam no porão da embarcação.

As hipóteses de recuperar o navio afundado são remotas, segundo as autoridades, porque a área de águas internacionais onde ocorreu o incidente é muito profunda. Além disso, as hipóteses de encontrar mais sobreviventes “são mínimas”, disse o almirante da guarda costeira grega Nikos Spanos à emissora nacional ERT.

Na noite de quinta-feira, a Skai TV informou que as nove pessoas suspeitas de tráfico - todos homens - eram oriundos do Egito e suspeitos de planear a viagem ilegal de centenas de pessoas da Líbia para Itália, depois de partirem do Egito com a embarcação.

“Eles estão sob custódia e serão apresentados a um magistrado local”, disse Nikos Alexiou, porta-voz da guarda costeira helénica, ao The Guardian. "Foram entregues à guarda costeira em Kalamata.”

É provável que um procurador apresente várias acusações contra o grupo, incluindo a de homicídio em massa. A imprensa local diz que o capitão do navio não está entre os supeitos e há relatos, não confirmados, de que terá morrido durante o naufrágio. 

Na noite de quinta-feira, milhares de manifestantes reuniram-se em Atenas e na cidade de Thessaloniki, no norte, exigindo que as políticas migratórias da União Europeia sejam revistas para evitar outra tragédia. Um grupo de manifestantes na capital atirou cocktails molotov contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo.

Em Kalamata, os manifestantes marcharam à porta do abrigo dos migrantes. "Lágrimas de crocodilo! Não ao pacto migratório da UE”, dizia uma faixa. Durante uma visita a Kalamata na quinta-feira, Alexis Tsipras, que foi primeiro-ministro de 2015 a 2019, no auge da crise migratória da Europa, afirmou: “A política de imigração que a Europa segue há anos transforma o Mediterrâneo, os nossos mares, em túmulos aquáticos”. Tsipras, agora um líder da oposição, questionou: "Que tipo de protocolo não exige o resgate de um barco sobrelotado e prestes a afundar-se?"

Nos últimos anos, a Grécia adotou uma posição mais dura em relação à migração, construindo acampamentos murados e aumentando os controlos de fronteira. O porta-voz do governo da Grécia, Ilias Siakantaris, disse à Reuters que o maior desafio para os estados fronteiriços da União Europeia “é encontrar uma solução abrangente da UE sobre migração e asilo que respeite o direito internacional e o humanismo inclusivo”.

As Nações Unidas registaram mais de 20 mil mortes e desaparecimentos no Mediterrâneo central desde 2014, tornando-o a travessia de migrantes mais perigosa do mundo.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados