Reportagem: o dia em que Bölöni foi melhor do que Saramago

20 jul 2002, 16:10

Duzentos livros desapareceram em três quartos-de-hora Duzentos livros que desapareceram em 45 minutos e uma interessante luta literária entre Jardel e Bölöni.

Faltavam ainda alguns minutos para o início da sessão de autógrafos do «Bloco de Notas, de Laszlo Bölöni», no Jumbo de Setúbal, e já meia centena de pessoas estavam em fila para obter a rúbrica do treinador do Sporting. Gente de todas as idades, 200 livros que desapareceram em 45 minutos e uma luta literária interessante entre Jardel e Bölöni. Esta sessão que teve de tudo, inclusive a compra de livros para quem não sabia ler.

A nota mais saliente da sessão de autógrafos foi o facto de a maior parte das pessoas levar mais de um livro na mão. Não espanta, por isso, que em cerca de três quartos de hora, as estantes do «Bloco de Notas de Bölöni» estivessem vazias. O treinador do Sporting chegou cerca das 12h15 e perto das 13h foi retirado o último livro e encerrada a fila até aí incessante.

O livro para a filha que ainda vai nascer

«As pessoas são simpáticas e isso é bom para mim», afirmou Bölöni. Entre rabiscos que fazia numa folha de papel amarela para não falhar os nomes que deveria escrever na contra-capa dos livros, o técnico do Sporting ouvia palavras de incentivo e esperança: «Este ano vamos ganhar», «Merci, muitas felicidades para si e para o Sporting», «É muito simpático, parabéns e boa sorte».

Das várias histórias que Bölöni ouviu durante a sessão, o romeno prestou maior atenção a três. A primeira surgiu de Henrique Moura, 29 anos. Levava dois livros na mão com destino certo, mas para pessoas que não sabiam ler, num dia muito especial. «Hoje nasce a minha filha, por isso, vim comprar o livro para que ela possa ler mais tarde. O outro é para a minha sobrinha que tem um ano e meio. É um investimento para o futuro», explicou ao Maisfutebol.

Raul Águas à procura de um autógrafo

A outra história surgiu de um anónimo que, já no final da sessão chegou perto de Bölöni e o cumprimentou efusivamente. «Podemos até nem ser campeões, mas quero que saiba que acho que é o treinador com mais classe que conheci até hoje». O romeno corou e respondeu com um simples: «Está a exagerar, é uma simpatia.»

O último autógrafo foi direitinho para Raul Águas, adjunto de Artur Jorge, antigo treinador do Sporting, entre outros clubes. O sadino explicou a Bölöni que já treinou com Rodolfo Moura e Rolão Preto. «Tenho um filho mais velho que é um sportinguista de chorar. E este livro é a melhor prenda que lhe posso dar. Obviamente vou dar uma vista de olhos, porque aprendemos sempre. Bölöni é uma pessoa simpática e é um lutador», elogiou Águas.

O Damásio sportinguista

Durante a sessão, Bölöni conheceu benfiquistas, velhos, novos, mulheres, homens, e até pessoas que foram duas vezes para a fila porque esqueceram-se de levar o livro para outro familiar. José Lúcio, 72 anos, levava três «Bloco de Notas». «Um é para mim. Como sabia que os meus filhos e netos também o queriam ler, levo mais três. Não vim de propósito, mas já que aqui estou....»

A determinado momento, um adepto do Sporting aproxima-se da mesa de Laszlo Bölöni, estica o livro e solta o nome, com uma graça que o romeno dificilmente percebeu. «O meu nome é Júlio Damásio, mas não tem nada a ver com o outro. Eu sou mesmo sportinguista», afirmou entre risadas, numa clara alusão ao antigo presidente do Benfica, Manuel Damásio.

A concorrência literária: livro de Jardel

Ao lado de Bölöni, esteve o representante da editora do livro, a Booktree. Jaime Cancela Abreu afirmou que o «Bloco de Notas» está a caminho de ser líder do mercado de vendas. «Já vamos na segunda edição e com os resultados que temos da primeira semana, tudo aponta para ser o número1. Tudo isto deve-se ao carisma e simpatia do Sr. Bölöni. Não há nenhum outro autor literário que consiga trazer assim tanta gente para uma sessão de autógrafos. Nem sequer o Saramago», afirmou.

Mário Jardel, ponta-de-lança do Sporting, lançou também um livro. Jaime Abreu afirma que Bölöni já ganhou a luta das vendas: «A receptividade é muito superior ao livro do Jardel. Só no lançamento dobrou o registo do brasileiro. Basta ver que o treinador ganha em todas as idades, enquanto o Jardel é para um público mais infantil», explicou.

Quem parecia não se importar nada com as vendas era o próprio Bölöni. «Não sei se e verdade que o livro pode atingir o número 1. Vamos ver. É um livro normal», referiu o técnico, não abrindo o livro, se para o próximo ano poderá haver um novo lançamento. «Depois deste vamos trabalhar. É também importante fazer outra coisa. Farei outro livro se tiver mais coisas para dar às pessoas», garantiu.

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