«Félix duvidava da sua capacidade por não ter empresário ou não ir à seleção»

10 mai 2023, 16:54
1) João Félix, do Benfica para o Atlético Madrid (€126M)

Rodrigo Magalhães, diretor técnico das camadas jovens do Benfica, fala da evolução do internacional português para destacar os perigos atuais para os jovens jogadores

Em participação no podcast «Ciência e Futebol», do Portugal Football Observatory da Federação Portuguesa de Futebol, no qual falou do tempo de maturação que António Silva e Bernardo Silva tiveram no Benfica, o diretor técnico dos escalões jovens das águias falou também dos novos elementos externos que influenciam a carreira de um jovem, quando antigamente tudo estava limitado ao trinómio clube-família-jogador.

«A valorização das redes sociais leva o jogador a conquistar o estatuto, não pelo seu desenvolvimento, mas pelo numero de seguidores e de publicações. Não estamos a ver bem os perigos que daí resultam. O jogador não quer saber se está a evoluir, pois tem muitos seguidores, e alguém lhe tirou três ou quatro fotografias durante o jogo. A equipa até perdeu, mas está aqui uma “chapa” fantástica de uma cueca a um adversário que até me ganhou 5-0», explica, sobre os perigos da exposição mediática e de um possível deslumbramento que ameaça cada vez mais cedo.

«Muitas vezes um miúdo recebe o material da marca desportiva e tira uma fotografia na cama do centro de estágio, e quase ostenta riqueza, tal a quantidade de chuteiras e camisolas. E muitas vezes o colega de quarto joga com chuteiras que tem de ser o pai a comprar», explica.

Se alguns jogadores deixam-se perder nesse conto de fadas, outros saem da sombra para o estrelato, como foi o caso de João Félix.

«O Félix não tinha expressão nas seleções nacionais até aos sub-18, não tinha os contratos assinados nos timings que os outros colegas tinham. Não tinha marca desportiva associada. E muitas vezes o João dizia que não era bom. Duvidava da sua capacidade. Dizia que A ou B tinham empresário, ou tinham marca desportiva, ou asinavam contrato profissional, ou iam às seleções. Depois tem um momento de ascensão meteórica em que tudo lhe acontece: a equipa principal, a seleção nacional, a venda astronómica, que ainda hoje lhe coloca alguma pressão…», recorda Rodrigo Magalhães.

Para além destes exemplos portugueses, formados no Benfica, o diretor técnico dos escalões jovens das águias recupera ainda um episódio marcante com Angel di María.

«Houve um jantar da equipa principal em que o Di María, apesar de ter a possibilidade de beber um copinho de vinho, optou por beber água, e depois das 10 horas da noite decidiu ir descansar, apesar da folga. Na altura aquilo fez-me alguma confusão. Mas estamos a falar de um adolescente que chegou ao Benfica com uma lesão gravíssima, e que recorreu à nutrição e aos nossos fisiologistas para ganhar massa muscular e evoluir. Ele disse-me que queria ganhar uma Liga dos Campeões, um Mundial, e tinha de se regrar. Não tinha cá os pais para o controlar, tinha um ordenado fantástico, podia comer e beber o que quisesse. Mas, por opção própria, por ter os objetivos bem definidos, não queria. E ganhou a Champions e ganhou o Mundial», conclui.

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