"Isto é imperdoável": pelo menos sete trabalhadores morrem em ataque aéreo israelita na Faixa de Gaza

CNN Portugal , AM com Lusa
2 abr, 06:50

Carros foram atingidos quando saíam de um armazém de Deir al-Balah, depois de terem descarregado mais de 100 toneladas de ajuda alimentar humanitária trazida para Gaza por via marítima, provenientes do Chipre

A organização não governamental (ONG) World Central Kitchen disse que a morte de sete trabalhadores internacionais de ajuda humanitária num aparente ataque aéreo israelita na Faixa de Gaza “é uma tragédia”.

"Sabemos que membros da equipa da World Central Kitchen foram mortos num ataque das Forças de Defesa de Israel enquanto trabalhavam para apoiar os nossos esforços humanitários de entrega de alimentos em Gaza", disse a porta-voz da ONG, na segunda-feira à noite.

“Os trabalhadores humanitários e os civis nunca devem ser um alvo”, sublinhou Linda Roth, num comunicado divulgado na rede social X (antigo Twitter) pela organização.

Entre as vítimas estão cidadãos australianos, britânicos e polacos que trabalhavam para a World Central Kitchen do chef espanhol José Andrés. Segundo a Reuters, que cita um comunicado da ONG, os trabalhadores, entre os quais se encontravam também palestinianos e um cidadão com dupla nacionalidade dos Estados Unidos e do Canadá, viajavam em dois carros blindados com o logótipo da WCK e num outro veículo.

Os carros foram atingidos quando saíam de um armazém de Deir al-Balah, depois de terem descarregado mais de 100 toneladas de ajuda alimentar humanitária trazida para Gaza por via marítima, provenientes do Chipre. 

"Este não é apenas um ataque contra a WCK, é um ataque às organizações humanitárias que aparecem nas situações mais terríveis em que a comida está a ser usada como arma de guerra. Isto é imperdoável", disse Erin Gore, chefe executiva da World Central Kitchen.

Andres, que fundou a WCK em 2010, quando enviou cozinheiros e alimentos para o Haiti após um terramoto, escreveu nas redes sociais que estava de coração partido e de luto pelas famílias e amigos dos que morreram.
 
"O governo israelita tem de acabar com esta matança indiscriminada. Precisa de parar de restringir a ajuda humanitária, parar de matar civis e trabalhadores humanitários e parar de usar a comida como arma. Chega de vidas inocentes perdidas. A paz começa com a nossa humanidade partilhada. E tem de começar agora", escreveu.

Em comunicado, o grupo islamista Hamas declarou que o ataque tinha por objetivo aterrorizar os trabalhadores das agências humanitárias internacionais, dissuadindo-os das suas missões.

Exército abre investigação

O exército de Israel anunciou uma investigação à morte dos trabalhadores internacionais. “Após relatos do incidente a envolver funcionários da organização World Central Kitchen na Faixa de Gaza, as Forças de Defesa de Israel iniciaram uma investigação aprofundada (…) para compreender todas as circunstâncias", disse, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter).

O exército de Israel garantiu que tem feito “grandes esforços” para permitir o acesso e a passagem segura da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, trabalhando “em plena cooperação e coordenação” com a World Central Kitchen “para apoiar os esforços para fornecer alimentos e ajuda humanitária aos residentes da Faixa de Gaza".

Os Estados Unidos disseram estar “profundamente preocupados” com o ataque e pediram a Israel que investigue rapidamente o sucedido.

A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Adrienne Watson, disse na rede social X que “os trabalhadores humanitários devem ser protegidos enquanto entregam a ajuda desesperadamente necessária”.

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, confirmou esta manhã que um dos mortos, Zomi Frankcom, era um cidadão australiano e garantiu que o país irá "procurar averiguar as responsabilidades" pelo ataque.

Albanese disse aos jornalistas que Camberra já contactou diretamente o Governo de Telavive e o embaixador israelita na Austrália, Amir Maimon, para esclarecer um acontecimento “completamente inaceitável”.

"Esta é uma tragédia humana que nunca deveria ter ocorrido, é completamente inaceitável e a Austrália procurará obter uma responsabilização total e adequada", afirmou numa conferência de imprensa na terça-feira.

Após o ataque, a WCK - que no mês passado revelou ter servido mais de 42 milhões de refeições em Gaza ao longo de 175 dias - decidiu interromper de imediato as operações na região.

A guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, em curso há quase seis meses, deslocou a maior parte da população de Gaza e colocou um terço dos habitantes do enclave à beira da fome.

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