Hoje seria só mais um sábado de Mundial, com festa australiana e polaca, para já, e dois grandes jogos no cartaz (França-Dinamarca e Argentina-México). Mas hoje morreu Fernando Gomes e não há Mundial que esteja acima disto. Fernando Gomes, o bibota, melhor marcador da história do FC Porto e um dos melhores avançados de sempre a vestir a camisola da seleção nacional.
De todas as homenagens que veremos nas próximas horas e nos próximos dias, as melhores serão sempre as de quem cresceu a querer ser “o Gomes”. E são muitos. Porque o futebol daqueles tempos não era tão efémero, os vídeos dos seus golos não duravam só um tweet e os ídolos não passavam assim que surgia outro mais "viral". Quem queria ser aquele número 9, quis sê-lo para sempre.
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Sem craques do PSG ou do Manchester City a inundar as redes sociais a toda a hora, os miúdos iam à bola e festejavam os golos do maior goleador europeu por duas vezes. Muitos golos, muita classe, um avançado que hoje não aguentaria tantos anos nas Antas sem ser vendido por muitos milhões a um desses clubes que agora nos levam as estrelas tão rapidamente (e que certamente não seria um Sporting de Gijón).
Foi assim Fernando Gomes, o goleador daquela altura em que os calções eram curtinhos, as camisolas não podiam ser mais bonitas e nenhum pelo nas pernas incomodava o talento.
Com a seleção, esteve no Europeu de 1984, até àquela maldita meia-final contra a França (finalmente vingada em 2016), e no Mundial de 1986, cuja confusão não fez justiça a uma das melhores gerações de sempre do futebol português. Pois é, parece estranho, mas, na década de 80, um jogador como Fernando Gomes podia marcar o futebol português para sempre jogando apenas duas grandes competições ao nível de seleções. Aliás, consegui-lo já foi, por si só, um feito.
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Para os adeptos portugueses, hoje habituados a Europeu, Mundial, Europeu, Mundial, Europeu, Mundial, sem falhar, é importante não esquecer quem já fomos. Se hoje nos podemos queixar das opções de Fernando Santos a cada dois anos, lembremo-nos que isso também é um luxo. As competições mudaram, as regras e o acesso também, mas há tantos e tão bons jogadores a poderem representar a seleção nestes grandes palcos que podemos parar para pensar, por momentos, no muito que penámos até aqui chegar.
Agradeçamos, então, a Fernando Gomes. O futebol evoluiu muito nas últimas décadas, a seleção nacional também, mas até o Mundial tem de parar um bocadinho na nossa atenção, para nos emocionarmos com as homenagens de quem o teve como ídolo e nos despedirmos daquele número 9 como nunca mais houve igual.
Adeus, bibota. E obrigada.
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