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A eleição dos cravos  

Na semana em que celebrámos os 50 anos do 25 de abril, o Futebol Clube do Porto redefiniu o significado da palavra liberdade. É caso para dizer que se fez abril no clube azul e branco.

Os adeptos foram chamados e disseram presente à liberdade de voto e à mudança, naquela que foi a eleição mais concorrida de sempre. Entre o legado da história ou a visão de futuro, os sócios não tiveram a menor dúvida em optar pela segunda. 

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André Villas-Boas é o novo presidente do Futebol Clube do Porto. Surpresa? Só para os que andavam desatentos porque este resultado só veio comprovar o que a campanha foi: uma goleada.

Com discursos totalmente antagónicos (como já seria de esperar) o antigo presidente dos azuis e brancos refugiou-se no passado vencedor, enquanto Villas-Boas falou do futuro que é preciso preparar, deixando claro que não queria continuar a suportar o reino de Pinto da Costa. Queria conquistá-lo. E conseguiu.

Creio que esta conquista de Villas-Boas pode ser resumida em dois factos:  Um primeiro, na forma como ao longo da campanha se aproximou dos sócios e identificou as suas necessidades. Toda a campanha foi pensada, do ponto de vista da comunicação, na importância de olhar para dentro e fazer autocrítica. Sem nunca descurar o imenso trabalho feito por Pinto da Costa, as suas intervenções sublinharam com convicção e até uma certa dureza, as lacunas e necessidades dos portistas. E os portistas gostaram desta forma de olhar o mundo, sem rodeios, com pragmatismo e vontade de enfrentar a realidade.  

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Um segundo facto, é que "Luís André" foi muito cuidadoso em escolher os confrontos com um líder desportivo que marcou a história do futebol nacional e internacional. Saber lidar com as provocações, intranquilidade e ansiedade, do adversário exige muita calma e sangue-frio. Escolher que batalhas comunicacionais travar com Jorge Pinto da Costa foi, pois, uma das grandes vantagens de Villas-Boas.

Por outro lado, as bandeiras de campanha de Pinto da Costa só serviram para confirmar o que de mal estava no clube.  Se a construção de uma academia ou a criação de uma equipa de futebol feminino sublinharam o atraso face aos rivais, a renovação precipitada de Sérgio Conceição como treinador, o negócio de Francisco Conceição e a parceria a 25 anos com o Grupo Ithaka transmitiram a ideia de desnorte e despreocupação com a situação financeira do clube.  

Durante mais de quatro décadas nada disto impressionou o sócio portista. Esses tempos mudaram, possivelmente porque o Futebol Clube do Porto também mudou.

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É verdade que Pinto da Costa poderá nunca ter tido um adversário à altura, mas o Futebol Clube do Porto do “nós contra eles”, que poderia fazer sentido há 40 anos, até mesmo há 20, já não existe. Hoje o Futebol Clube do Porto é um clube internacional, que tem adeptos em todo o país e fora dele. Não é apenas o clube da cidade do Porto, é hoje (e bem) um clube do mundo.

Os mais de 80% de sócios que votaram em André Villas-Boas foram sensíveis à mudança na forma como o Futebol Clube do Porto deve falar com e para o mundo. Mais do que a uma região ou geração, a comunicação de André Villas-Boas falou aos valores que o clube hoje representa: modernidade, cosmopolitismo e internacionalização.  

A verdade é que a missa dada pelo “papa” (parafraseando Paulo Futre) já não ia ao encontro das necessidades dos fiéis portistas. Já não era este o tipo de discurso que queriam ouvir. Não deixa, porém, de ser estranho constatar que Pinto da Costa – um homem sagaz, culto e com o domínio da palavra, cujo valor e lugar no futebol são ímpares - não tenha percebido esse sinal. Ou tenha optado por ignorá-lo.  

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