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Chris e a mulher grávida eram negacionistas, mas mudaram de ideias quando ela ficou 101 dias ligada a um ventilador

Grávida de 18 semanas, a mulher deu entrada no hospital com a infeção. Acabou 101 dias ligada a um ventilador, 51 dos quais em ECMO. Pelo meio, o marido conta a história de meses de sofrimento, que ainda perduram no tempo

Quando começaram a surgir as vacinas contra a covid-19, Chris Crouch apressou-se a mostrar a sua veia negacionista. Junto dos amigos, e até no local de trabalho, este norte-americano foi sempre ignorando a eficácia das vacinas, mesmo perante o apelo da família e dos seus amigos mais chegados. Como ele, também a mulher, Diana Garcia Martinez, optou por não se vacinar. A história é contada em detalhe no Washington Post, e revela um caso de uma dura mudança de pensamento em relação à pandemia.

Quase um ano e meio depois de os primeiros casos de covid-19 chegarem aos Estados Unidos, e mais de meio ano depois de o país ter começado a campanha de vacinação, o casal sofreu um duro revés. Às 18 semanas de gravidez, Diana, que sempre foi saudável, deu entrada no hospital com uma infeção por SARS-CoV-2. Faltavam ainda pelo menos quatro semanas para que o feto fosse considerado viável para um parto, e isso colocou o casal num duro cenário.

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Nesse agosto de 2021, a mulher chegava a um hospital do Texas com baixos níveis de oxigénio. Diana foi entubada, e mais tarde ligada a ECMO. O homem pesquisou na Internet o que isso significava, e acabou por perceber que se tratava de um caso “muito, muito mau”. Afinal, a utilização de ECMO durante a gravidez é extramemente rara, com um estudo da Universidade de Oxford a ter registado apenas nove casos entre 2008 e 2017. Em Portugal, recorde-se, houve já casos de grávidas com covid-19 que acabaram por ser submetidas a esta técnica, a última das quais com sucesso, já este ano, no Hospital de São João, no Porto.

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Chris não parava de se questionar “e se?”, pensando repetidamente nas palavras de Diana: “Tudo o que sempre quis foi ser mãe”. Foi por isso que, mesmo sabendo que podia haver complicações, o homem decidiu que tinha de tentar salvar as duas vidas.

“Eu não sabia se algum dos dois ia sobreviver, ou se ambos iam morrer. Não sabia se iria voltar para casa sem ninguém”, lembra.

A incerteza, disseram-lhe os médicos, deveria durar até 21 dias. Afinal, a ECMO não trata nem cura doenças, mas dá tempo e espaço para que os órgãos se possam restabelecer, nomeadamente o coração e os pulmões.

Nove dias depois do prazo, Diana acordou, e até conseguiu logo falar ao telefone com a família. Ao Washington Post, Chris relembra como toda a equipa médica começou a sorrir e a fazer planos para o que se seguiria, mas o momento de alegria durou pouco.

A mulher começou a ficar confusa, sem visão e sem fala. Uma hora depois, entrou em coma, o que fez regressar a sombra ao quarto do hospital.

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Diana, explicaram os médicos, estava a sofrer de um “banho de embolias”, com a constante formação e propagação de coágulos, dos quais três acabaram no cérebro, o que causou três acidentes vasculares cerebrais, e um foi parar ao coração, causando um ataque cardíaco. Esta era uma complicação conhecida de doentes em ECMO, mas não foi possível administrar anticoagulantes porque a mulher estava a sangrar dos intestinos e da garganta.

Sem falar do estado da mulher, os médicos disseram a Chris que, mesmo em caso de recuperação, Diana poderia “não voltar a ser a mesma”, arriscando mesmo ter problemas cerebrais.

“Foi quando rezei mais. Naquele ponto, até os médicos estavam a pensar ‘não sabemos mesmo o que fazer a seguir’”, recordou. Diana voltou a ser submetida a ECMO.

À medida que os dias passavam, a barriga ia crescendo, e os valores vitais do bebé continuavam favoráveis. Em novembro, mais de três meses depois da admissão no hospital, Diana estava já de 31 semanas. Os médicos decidiram não esperar mais, e Cameron nasceu com recurso a uma cesariana. Tinha 2,1 quilogramas. Ao bebé, foi dado o nome de um dos médicos responsáveis pelo caso, Cameron Dezfulian.

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Depois da dura recuperação da covid-19 e de uma grande cirurgia, Diana pôde finalmente abandonar o hospital. O calendário assinalava o dia 23 de dezembro, véspera de consoada, e Chris relembrou os números que passou meses a contar: 139 dias num hospital, 101 deles ligada a um ventilador, 51 dos quais em ECMO.

Hoje, e apesar de estar praticamente recuperada, Diana ainda tem de andar com uma botija de oxigénio, além de ter três tubos ligados aos pulmões, impedindo aqueles órgãos de incharem. Olhando em frente, os médicos esperam que a recuperação possa ser total, e Chris só consegue expressar pena por todas as pessoas que passaram e vão ter de passar por situações semelhantes.

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Sobre a recusa em vacinar-se, Diana admite que olha agora de forma diferente:

“Estava tão assustada de pôr algo no meu corpo que pudesse afetar o meu bebé. Mas acabei por arranjar mais complicações e expor a minha filha a muitas outras coisas que nem sequer pensei. Aprendi da maneira mais dura. Não gosto de obrigar ninguém a nada. Não gosto de o fazer, mas encorajo todas as pessoas a vacinarem-se”.

A Organização Mundial de Saúde e o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos recomendam que todas as grávidas sejam vacinadas. Em Portugal, ainda esta quinta-feira, a Direção-Geral da Saúde apelou a que as grávidas tomassem a dose de reforço. 

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