“Faltava sublinhar o herói na vida pessoal, como pai e marido”. Entrevista a Tomás Alves sobre o papel de Salgueiro Maia

14 abr 2022, 21:30

Durante a rodagem, chamavam-lhe “O Capitão”, o que lhe deu um “alento muito bom”. Consciente da responsabilidade histórica que é interpretar o rosto da Revolução dos Cravos, o ator mergulhou no personagem que o filme evoca desde os tempos da recruta até à morte prematura há exatamente 30 anos. ‘Salgueiro Maia – O Implicado’ propõe um retrato nunca visto, feito de factos públicos e relatos privados e pensado como “homenagem tardia, mas bastante merecida” ao capitão de Abril. Na semana da estreia nos cinemas, o nervoso miudinho não se disfarça: “Defender um personagem assim não foi fácil”.

Quando nos encontrámos na rodagem, em maio de 2020, falava do privilégio e da responsabilidade que é interpretar Salgueiro Maia no cinema. Agora que o filme está pronto, qual é o estado de espírito?

Estou nervoso, estou com um sentido de responsabilidade ainda maior, mas também com uma grande vontade de ter feedback deste trabalho que fiz há tanto tempo e que finalmente vê agora a luz do dia.

Percebe-se agora que, mais do que uma evocação do 25 de Abril, o filme é sobre o homem que deu a cara pela revolução, antes, durante e depois. É o filme que faltava sobre o Salgueiro Maia?

Acho que sim. Ele nunca procurou reconhecimento, nunca procurou ser a figura heróica que acabou por ser e com o devido mérito. Se calhar, só agora é possível, sem ferir ninguém, fazer jus ao herói e à pessoa que ele foi e sublinhar, de facto, o seu valor.

Em retrospetiva, como descreve a preparação para o papel? Foi um trabalho meticuloso, exigente, difícil?

Foi muito exigente pelo privilégio, volto a dizer, que é fazer um personagem da nossa história não tão distante assim. Uma pessoa que existiu e que, na minha opinião, tinha os valores muito bem definidos. Foi bastante difícil acreditar que ele era como era, mas, na pesquisa que fiz, ninguém me disse o contrário. Defender um personagem assim não foi fácil… Há muita coisa e, ao mesmo tempo, não há assim tanta coisa sobre ele… Falta sempre qualquer coisa e já não é possível, neste momento… Fizemos o que achámos que devíamos ter feito para contar a história dele e para fazer esta homenagem tardia, mas bastante merecida. Faltava sublinhar o herói na vida pessoal, como pai e marido, para mostrar o ser humano que ele foi.

O que pode fazer este filme pelo legado e pela memória de Salgueiro Maia?

Acho que pode fazer o que deve que é por as pessoas a pensar que pessoas como ele já são raras, infelizmente. A liberdade que ele, em conjunto com outras pessoas, nos proporcionou é um dado que nos parece adquirido, mas começam agora a aparecer posições difíceis e percebemos que não é um dado adquirido. Que temos de lutar todos os dias pela liberdade e para sermos um pouco mais humanos uns com os outros neste cantinho onde vivemos.

O filme parece ser um ponto alto na sua carreira. O que pode fazer pelo seu trabalho daqui para a frente?

Espero que traga muitos trabalhos bons. Espero que traga muitas coisas boas. Para já, quero ver qual é a reação a este trabalho, não só por mim, mas também por todas as pessoas envolvidas… Foi lindo, o trabalho de equipa. Senti-me sempre em família. Por brincadeira, chamavam-me Capitão e isso deu-me sempre um alento muito bom durante as rodagens. Assistiu a parte disso e acho que deu para perceber que é sempre bom trabalhar com pessoas de quem gostamos, como foi o caso. Se não tivesse sido assim, este projeto não teria tido o mesmo resultado.

Alguém me disse, pedindo reserva, que manteve o personagem mesmo quando as câmaras estavam desligadas. É verdade?

Não sabendo quem disse isso, se calhar vou abster-me de comentar… (sorriso) Mas é possível, porque foi um trabalho bastante exigente e isso era uma ajuda para não largar o personagem.

“Salgueiro Maia – O Implicado” é a estreia da semana em 57 salas de todo o País

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