Bioeconomia “não é uma utopia” e está nas prioridades do Governo. Modelo económico atual "é insustentável", diz ministro

CNN Portugal , DCT
17 out 2023, 11:02

António Costa Silva defende que as agendas mobilizadoras atualmente em execução “vão mudar a economia portuguesa”, mas admite que “somos um país que às vezes tem pouca ambição”

O ministro da Economia António Costa Silva defende que “é urgente” mudar o paradigma da economia nacional e do funcionamento das empresas rumo a uma economia mais verde. Na CNN Portugal Summit - A economia que muda o clima, que decorreu esta terça-feira no Pestana Palace, em Lisboa, o governante defendeu que há apenas duas formas de atuação: a economia circular e a bioeconomia. “Temos de desenvolver produtos biológicos, com materiais menos poluentes”, como bioplásticos, biofertilizantes químicos, bioestimulantes, exemplifica.

“É uma verdadeira revolução, se tivermos produtos biológicos, no fundo, vamos dar sequência ao que a natureza faz. Se olharmos para a natureza, a natureza é perfeita no seu funcionamento”, diz o ministro, salientando que “o nosso grande erro”, referindo-se a todos os seres humanos, “foi o divórcio com a natureza”.

António Costa Silva assegura que a bioeconomia “não é uma utopia, é uma necessidade e uma emergência”, estando na lista de prioridades do Executivo, embora o seu peso no PIB nacional seja “ainda muito pequenino, há volta dos 3%, 4%”, diz. 

“Se triplicássemos, quadripilicássemos, seria muito bom, porque teríamos uma base de transformação da economia e isso seria, sem dúvida, um resultado que temos de atingir, que é urgente”, vinca. “Temos de momento um modelo económico baseado no consumo frenético de combustíveis fósseis”. “Isto é insustentável”, atira.

Portugal tem cumprido as metas que foram traçadas e António Costa Silva destaca o “caminho” feito na redução das emissões de CO2: “Em 2005 emitimos à volta de 60, 67 milhões de toneladas, hoje estamos a emitir 35 [milhões de toneladas]. Reduzimos quase 40% as emissões de CO2, há poucos países do mundo que se possam orgulhar disso.” 

“A nossa taxa de emissão por habitante é à volta de 3,2 toneladas, é das mais baixas da Europa. Ainda temos de reduzir mais. Estamos a fazer esse caminho”, rejeitando que as metas sejam irrealistas.

Agendas mobilizadoras “vão mudar a economia portuguesa”

Quando questionado sobre as agendas mobilizadoras, António Costa Silva reconhece que estão ainda a “tentar recuperar o ligeiro atraso que houve no início”, havendo, de momento, 52 agendas “que estão em execução” e mostra-se otimista: “elas vão mudar a economia portuguesa”. 

Quando questionado pelo jornalista Anselmo Crespo se 52 agendas mobilizadoras não é um número reduzido face às necessidades, o ministro admite que sim, mas diz que “já ficava contente se conseguíssemos executar estas, porque são a plataforma, a base, para transformar a economia”. Ao todo, revela o governante, foram 144 as agendas a concurso, mas após a avaliação de um júri internacional foram apenas aprovadas 52.

“Nesta altura, o investimento global é da ordem dos 7,9 mil milhões de euros, sendo que o investimento público é de 2,8 mil milhões [de euros]. Portanto, há o investimento público, o investimento das empresas, o que é muito bom,são as empresas que estão ao leme”, esclarece.

Embora reconheça a importância da mudança e o papel destas agendas mobilizadoras, o ministro da Economia admite que “nós somos um país que às vezes tem pouca ambição e depois somos muito individualistas no nosso funcionamento”, mas assegura que “estas agendas são uma mudança de paradigma”.

Além das agendas mobilizadoras relacionadas com o mar e que podem fazer um uso mais otimizado de algas, o ministro destaca ainda as agendas da área da saúde, que podem levar a novas terapias, incluindo oncológicas. “Os produtos biológicos também podem desenvolver novos fármacos”, continua.

Para que as empresas façam uma transformação para práticas e desenvolvimentos mais amigos do ambiente, o Orçamento do Estado para 2024 “tem incentivos para a capitalização das empresas, isso é absolutamente fundamental”, diz o ministro, apesar de salientar que é preciso fazer mais. “Temos de dar mais incentivos para as empresas fazerem esta transformação”, diz, rejeitando responder à questão de mudanças no IRC para as empresas, apesar de dizer que “poderia ser um caminho”. “É importante dizer que, para além do PRR, estamos a lançar o PT2030”, frisa.