Presidente da TAP diz que é "um bode expiatório" e que a saída de Alexandra Reis "não foi pessoal". Transportadora foi pressionada a alterar voo de Marcelo
Christine Ourmières-Widener regressa ao Parlamento, desta vez na comissão de inquérito à gestão da TAP. E com o fantasma da demissão, após o relatório da Inspeção-Geral de Finanças ter considerado inválida a indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis. É tempo de novas explicações, com os deputados a pressionar para apurar quem sabia o quê e quando, bem como as formas como a tutela tem interferido e se relacionado com a companhia aérea.
Christine diz que reunião não serviu para preparar audição no Parlamento
Filipe Melo questiona se a reunião de 17 de janeiro serviu para preparar a audição do dia seguinte no Parlamento. “Era mais para eu explicar os factos, não me recordo de nenhuma preparação”, afirma.
Christine Ourmières-Widener descarta que tenha havido qualquer tipo de combinação.
“Os dois ministros arruinaram a minha reputação. E eu tenho de limpar a minha honra. E fá-lo-ei”
Paulo Moniz diz que a gestora se expressa de uma “forma claríssima” e questiona-a sobre como vê o facto de não ter sido ouvida pela Inspeção-Geral de Finanças, tutelada pelo ministério de Fernando Medina, que alegou uma “questão de língua” para não ter havido uma audição presencial à CEO.
“Parece-me que pode ser visto como uma discriminação. Não é aceitável a base dessa decisão”, argumenta a CEO, que insiste que foi “despedida por algo que não fiz”.
A francesa não teve “qualquer indicação” de que o seu processo de demissão seria reversível.
“Estes dois ministros, ao despedir-me por justa causa, arruinaram a minha reputação. E eu tenho de limpar a minha honra. E fá-lo-ei”, argumenta, sobre Fernando Medina e João Galamba. E acrescentou sobre o dia do despedimento, de que soube pela televisão: “Seis de março foi o pior dia da minha vida”
Para Christine Ourmières-Widener, todo este caso é “uma tristeza”.
“O processo do meu despedimento foi ilegal. Aquilo que foi feito não seguiu a lei. E não me parece que tenha sido respeitada. Não me sinto respeitada pelo que fiz nesta empresa”, argumenta.
“Medina disse-me que despedir-me era a única via possível devido à pressão política”
De regresso à reunião com Fernando Medina na véspera da demissão pública
Christine diz ter sido julgada antes de ser ouvida. “Foi um choque, não estava à espera. Nem estava à espera da forma como foi feito. Porque quando o ministro me sugeriu demitir-me no domingo, eu não sabia que ele ia demitir-me no dia a seguir. Soube pela televisão. Imagine o meu estado como descobri. O meu despedimento por justa causa, por evitar ceder às pressões.
Medina ter-lhe-á explicado que era a “única via possível devido à pressão política”.
A gestora considera que o seu processo de despedimento é ilegal.
Christine volta a envolver Gonçalo Pires
Christine Ourmières-Widener confirma que o administrador financeiro mantinha contactos com as Finanças mais de uma vez por semana.
A gestora insiste que Gonçalo Pires foi informado do processo de saída de Alexandra Reis.
Relação com Miguel Cruz era "sólida"
Questionada sobre a relação com o antigo secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, a gestora explicou que era "sólida", com base na aprovação do processo de reestruturação. E garantiu que o antigo governante não estava a par do processo de saída de Alexandra Reis.
O que foi discutido na reunião com Medina, na véspera de Christine ser demitida pelo Governo? “Ainda é muito doloroso para mim. Pediram que me demitisse”
“Para mim foi uma reunião muito difícil, porque o tom da reunião era bastante triste. Diziam-me que os resultados eram fenomenais e que tinha feito um trabalho fantástico, que era a pessoa certa para o cargo, que o processo tinha sido conduzido de boa fé pela minha parte. Mas que, tendo em conta toda a pressão de várias partes, não havia outra opção para o Governo que não passasse por travar o avanço do meu mandato”, conta Christine Ourmières-Widener.
Apesar disso, não foi confrontada com o despedimento pelo ministro das Finanças.
“Ainda é muito doloroso para mim. Pediram que me demitisse”, acrescentou. Christine que Medina lhe pediu para se demitir. Não foi abordada a questão de Alexandra Reis, nem nessa nem numa reunião prévia, informou.
Quem esteve na reunião de 17 de janeiro, na véspera da audição no Parlamento?
Paulo Moniz questiona quem conduziu a reunião de dia 17 de janeiro, antes da audição da gestora no Parlamento. Christine Ourmières-Widener pensa que, “salvo erro”, foi presidida por um elemento do ministério das Infraestruturas. “Os outros nomes que estão na lista não são deputados do PS”, informou.
Carlos Pereira, coordenador do PS na CPI, esteve na reunião de 17 de janeiro, na véspera de Christine ser ouvida pela primeira vez no Parlamento
Paulo Moniz questiona Christine Ourmières-Widener se algum dos deputados presentes na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP esteve presente na reunião de 17 de janeiro, antes da ser ouvida no Parlamento na comissão de economia.
“Reconheço uma pessoa na mesa: Carlos Pereira”, responde a gestora, depois de consultar a lista dos presentes na reunião.
O social-democrata defende que, perante este desenvolvimento, é preciso assegurar a total “isenção” de todos os envolvidos na comissão parlamentar de inquérito.
O presidente da comissão, Jorge Seguro Sanches, lembra o compromisso de isenção dos deputados antes do início dos trabalhos.
Saída de Alexandra Reis não foi "unilateral"
Christine Ourmières-Widener insiste que a decisão da saída de Alexandra Reis não foi tomada por ela, de forma “unilateral”, tendo sido partilhada com todos os membros do conselho de administração e com o Governo.
A gestora insiste que Alexandra Reis não correspondia ao "perfil estratégico" desejado para a nova forma de organização da empresa.
O socialista Carlos Pereira insiste que não há documentação que prova a existência de divergências entre Christine Ourmières-Widener e Alexandra Reis. A CEO defende que as atas evidenciam uma divergência quanto plano a seguir. A francesa insiste ainda que "não é nada pessoal".
Carlos Pereira considera "insólito" que não haja qualquer troca de mensagens entre a CEO e Alexandra Reis, nem como notas relevantes nas atas que evidenciem essas divergências, evidenciando um "processo anterior".
Christine Ourmières-Widener acaba a confirmar, na agenda, que teve uma reunião com Hugo Santos Mendes, 21 de janeiro, onde recebeu a indicação para continuar a negociar com Alexandra Reis. O socialista questiona-se porque não surge essa referência na apresentação inicial.
"Coordenei o processo entre o Governo e os advogados. A decisão foi tomada pelo Governo", insiste a gestora. Nunca houve contacto direto com Pedro Nuno Santos, apenas com Hugo Santos Mendes.
PSD defende que socialistas não deviam questionar CEO da TAP
Paulo Moniz do PSD defende que os deputados do PS se devem abster de questionar Christine Ourmières-Widener, depois de saber-se que a CEO da TAP teve uma reunião com socialistas, por iniciativa do ministério das Infraestruturas, no dia anterior a ser ouvida no Parlamento, na comissão de Economia, em janeiro.
Também o Chega, com Filipe Melo, se mostra "desconfortável" com este novo facto. E pede à gestora que clarifique se esteve algum deputado do PS nesse mesmo encontro. O presidente da CPI descarta esse cenário.
Reforma milionária na TAP: empresa pediu devolução
Sobre Maximilian Otto Urbahn, gestor que saiu com uma pré-reforma milionária na ordem de 1,3 milhões de euros, agora considerada ilegal pela TAP, a CEO diz que houve indicação da auditoria feita para parar os pagamentos e pedir a devolução do dinheiro.
Ex-presidente Fernando Pinto recebeu 1,6 milhões por consultoria à TAP. “Não tenho provas, nem de uma coisa nem de outra”
Em 2018, o antigo presidente da TAP, Fernando Pinto é contrato como consultor, com múltiplos benefícios, recorda Mariana Mortágua. É pago mais de 1,6 milhões de euros por esta consultora a uma empresa “criada para o efeito”, a Free Fly Consultant. A bloquista questiona sobre que tipo de serviços foram prestados.
Christine Ourmières-Widener atira para uma auditoria da EY, cujos resultados serão conhecidos em breve. “Ainda não tenho o relatório final. Estou à espera. Mas penso que poderá dar-nos muitas respostas”, diz.
Mortágua questiona se, na opinião da CEO, de facto, foram prestados serviços de consultoria à TAP por Fernando Pinto ou se esta foi uma forma apenas de assegurar um pagamento ao antigo gestor. “Não tenho provas, nem de uma coisa nem de outra”.
Christine insiste que merece bónus relativo a 2022
Mariana Mortágua lembra que, havendo despedimento por justa causa, e não havendo contrato de gestão, não há direito ao pagamento de bónus.
“Tanto quanto sei, esse bónus é-me merecido, porque apresentei resultados [positivos] em 2022. Esse resultado é independente da minha partida da empresa em 2023. Essa é a minha interpretação”, reage a francesa. E atira essas questões para os advogados.
Christine soube que foi despedida “durante a conferência de imprensa” de Medina e Galamba
Christine Ourmières-Widener admite que soube que foi demitida pelo Governo “durante a conferência de imprensa”.
A CEO diz que teve uma reunião com Medina antes da conferência de imprensa. “Ele manifestou o seguinte: disse que a situação era complicada, mas não me divulgou a informação de que seria despedida com justa causa no dia seguinte”.
A francesa recebeu o pré-aviso do despedimento mais de uma semana depois.
Um mês depois de ter sido despedida publicamente, a CEO não está informada sobre qual o dia em que terá de deixar a empresa.
Demissão ou renúncia? Primeiro chegou-se a acordo, depois Alexandra Reis renunciou
Christine Ourmières-Widener insiste que foi atingido um acordo com Alexandra Reis, ditando posteriormente a renúncia.
E se não houvesse base para demitir Alexandra Reis? Sem acordo, teria direito a um valor próximo de 1,5 milhões
Mariana Mortágua questiona: Com que base iria demitir Alexandra Reis “se a indemnização não fosse politica ou economicamente viável”? “Esta opção não foi ponderada, porque havia uma lista de várias opções, nas mensagens que viram. O processo estava em evolução e a ideia era encontrar uma solução com Alexandra Reis”, respondeu a CEO.
“Desde o início, a explicação que recebemos foi a seguinte: Alexandra Reis tinha direito a receber a sua remuneração até ao final do mandato. E, portanto, se tínhamos uma decisão… - esta é a explicação que recebi, não estou a dizer que é a mais acertada – se o fizéssemos, teria direito à sua remuneração até ao final do contrato. E seria uma soma muito avultada. A nossa perspetiva era chegar a um acordo funcional do ponto de vista financeiro, até ao final do mandato”, explicou.
Christine Ourmières-Widener refere que o valor seria muito superior, próxima da primeira proposta de Alexandra Reis, “superior a 1,5 milhões de euros, mais as férias”.
"Christine ainda não conseguiu justificar o desalinhamento com Alexandra Reis": Vasco Rosendo
O editor de Economia da CNN Portugal, Vasco Rosendo, destaca "uma das novidades" da audição de Christine Ourmières-Widener, que considera ser o facto da CEO da TAP ainda não ter conseguido explicar a razão do "desalinhamento" com Alexandra Reis, na comissão executiva da empresa.
TAP apresentou nova estrutura (sem Alexandra Reis) ao Governo a 4 de janeiro. Pedro Nuno Santos "apoiou"
A bloquista Mariana Mortágua diz que, numa reunião de 4 de janeiro, foi já apresentada uma nova estrutura já sem Alexandra Reis. Na nova estrutura, diz a gestora, havia uma nova função, para a área estratégica. “A discussão que tivemos com o ministro é que o perfil de Alexandra não estava em conformidade com a dimensão que tinha sido conferida à organização nesse plano”, contou. Houve depois outra discussão com Hugo Santos Mendes a 18 de janeiro, com mais detalhes.
Christine Ourmières-Widener confirma que, na reunião de 4 de janeiro, dava já conta do “desalinhamento” de Alexandra Reis. Pedro Nuno Santos ter-lhe-á dito que aprovava o projeto. "Apoiou", resume. E atirava para Hugo Santos Mendes nova reunião com os próximos passos.
Indemnização a Antonoaldo Neves paga no final do mandato do anterior líder da TAP
Christine Ourmières-Widener é confrontada pelo comunista Bruno Dias com a indemnização ao antigo presidente executivo Antonoaldo Neves, que liderou a TAP entre 2018 e 2020, garantindo que o valor foi pago no final do mandato deste gestor. Quanto ao valor, ficou de disponibilizar aos deputados.
Não foram pagos bónus, garante Christine
Christine Ourmières-Widener insiste que, na atual equipa, não houve pagamento de bónus. “Sabe que há um bónus no meu contrato, mas nada foi pago”, diz.