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No jogo de sombras, as palavras são também armas de guerra

Ontem, na final da viagem de Biden à Polónia, uma senhora não tirava os olhos do nosso trabalho. Seguia cada direto, os movimentos, as conversas, como se estivesse a entender tudo. Não dei importância, para além de um sorriso e um aceno de cabeça, mas percebi que era uma pessoa educada e formada, que estava ali por uma causa e sabia que os jornalistas são a melhor forma de a divulgar.

No frenesim da operação, confesso que lhe perdi o rasto, mas já ao cair do pano ela voltou para me perguntar de onde era e o que estava ali a fazer. Expliquei e ouvi a doce voz daquela mulher agradecer o nosso trabalho e a pegar numa pequena nota que me entregou como recordação daquele dia. Contei-lhe que horas depois estaria em reportagem na Ucrânia. Ela sorriu, como se já soubesse e desejou-me sorte. Agradeci e cada um de nós partiu para o seu destino. Ela, ficou lá em Varsóvia à espera da paz. Eu vim para Lviv esperando dar a notícia que aquela e muitas outras mulheres querem ouvir. Mas o cenário na diplomacia não é simples.

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Biden endureceu o discurso pedindo até uma mudança política na Rússia, liderada por um “carniceiro”. Moscovo não gostou. Washington corrigiu e acabou por chegar de Paris o comentário que me parece óbvio. Nesta altura a guerra já é um problema suficientemente grave dispensando qualquer escalada verbal que possa tornar ainda mais complexas as negociações. O encontro de ucranianos e russos será na Turquia, que tem conquistado espaço neste palco da procura de um acordo. O presidente turco fala mesmo numa saída honrosa para Putin que se pode agora tornar num “artesão da paz”. A possibilidade de uma divisão da Ucrânia, a anexação do Donbass, os ataques em Lviv e as mudanças de estratégia nos arredores de Kiev não nos deixam adivinhar o que quer afinal Putin e para onde vai levar esta guerra.

No jogo de sombras, as palavras são também armas de guerra que todos vão utilizar com a mesma violência de um bombardeamento ou de uma terrível vaga de refugiados, com as famílias divididas e destroçadas. É todo um povo que sofre na Ucrânia, mas também na Rússia. Nesta guerra a dor das mães é igualmente violenta dos dois lados. Umas fogem com os filhos na busca da paz, as outras perdem os filhos em nome de uma guerra que nunca mais acaba.

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