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Os assuntos do país, a baixa produtividade nacional, as imperiais e os ministros-pais

Não conheço João Galamba. Nunca conversei com ele. Nem tampouco sei se é culpado de tudo o que o acusam. Deve defender-se, como qualquer cidadão. Se for considerado culpado, a justiça deve ser consentânea.

Mas eu e o João Galamba temos um denominador em comum: filhos.

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Talvez não se imagine o que é ser ministro. Eu não consigo imaginar. Presume-se que os segundos do dia sejam contados um a um, para fazer face a todos os compromissos e responsabilidades. Presume-se.

Os segundos que passam para quem assume a responsabilidade máxima de um ministério são os mesmos que passam para quem bebe uma imperial sentado numa esplanada, mas o coração de um ministro deve bater muito mais depressa. Presume-se. É a pressão.

Presume-se que um ministro esteja ininterruptamente a cumprir as suas funções. Não pode ser pai. Os filhos devem mesmo ficar “órfãos”? Parece presumir-se que sim.

Presume-se que ninguém defenderá a “orfandade” dos filhos de um ministro apenas porque o pai aceitou a responsabilidade de um ministério. Claro que ninguém defende isso. Seria horrível e desumano.

Como é que um ministro, com todos os segundos do dia roubados por responsabilidades e compromissos que se sobrepõem sem alternativa, pode ver (e tocar) diariamente os seus filhos? Presume-se que gerindo cada segundo do dia. Note-se que a gestão ao segundo não é, neste texto, utilizada no sentido figurado. Presume-se que a gestão do tempo de um ministro deva ser mesmo ao segundo, e sufocante.

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Como se presume que não se pode exigir a um ministro que deixe os filhos “órfãos” de pai, pois isso seria horrível e desumano, presume-se, então, que um ministro deva ter algumas rotinas diárias idênticas à de qualquer outro trabalhador por conta de outrem. Os assuntos do país, como a baixa produtividade da nossa economia, podem sempre aguardar pelo dia seguinte.

Presume-se que um ministro deva chegar todos os dias ao ministério por volta das 09:00, depois de deixar os filhos na escola, e que saia, o mais tardar, por volta das 19:00, para os levar para casa. No limite, a esposa vai buscar os filhos à escola e o ministro, para partilhar as responsabilidades do último período do dia, vai para casa fazer o jantar. Ou então leva os filhos aos treinos de futebol.

Assim, com horários comuns de trabalho para cumprir, presume-se que as rotinas diárias de um ministro lhe permitam estar com os filhos diariamente, quem sabe até a partilhar alguma atividade de gosto comum, como, por exemplo, assistir a uma partida de futebol da liga dos campeões na TV.

Com todo este tempo disponível para acompanhar os filhos, por que razão um ministro utiliza a viatura oficial para os ir buscar à escola?

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