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Porque acordo todas as noites sempre à mesma hora?

Se as suas noites tendem a ser agitadas, perceba aqui se há motivos para preocupação

Acaba de acordar de um sono tranquilo e vira-se, nos lençóis, para ver o relógio. Descobre que são três da manhã. É mesma hora a que acordou ontem. E na noite anterior.

Se este cenário lhe parece familiar, é porque o despertar noturno acontece a muitas pessoas. Acordar muitas vezes durante a noite é algo natural devido à própria arquitetura do sono, com estágios de sono que percorremos todas as noites.

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Geralmente, estes despertares só duram alguns segundos a minutos – se acontecerem com muita frequência na mesma noite ou existirem dificuldades para voltar a adormecer, isso sim, pode ser um problema. Eis o que os especialistas têm para dizer para ajudar.

Porque está a acordar

A arquitetura do sono diz respeito aos quatro estágios que as pessoas percorrem durante a noite, em intervalos de cerca de 90 a 120 minutos, explica Brandon Peters-Mathews, neurologista da Virginia Mason Franciscan Health, em Seattle.

O ciclo começa com um sono leve, seguindo para um sono mais profundo, e depois ainda mais profundo já no terceiro estágio, muitas vezes conhecido como “sono de ondas lentas”, junta Peters-Mathews. Durante o quarto estágio, conhecido como REM, sigla inglesa para movimento rápido dos olhos, a atividade cerebral atinge níveis próximos de quando estamos acordados – é depois deste estágio que as pessoas costumam acordar de forma natural ou que voltam ao sono, recomeçando o ciclo, refere.

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“Como costumamos ir para a cama mais ou menos à mesma hora todas as noites, esses ciclos têm aproximadamente a mesma duração. Daí que possamos acordar à mesma hora durante a noite”, refere Peters-Mathews. Muitos desses despertares serão breves e esquecíveis. Contudo, “pode haver um ou dois ciclos durante a noite em que acordamos e olhamos para o relógio, tendo consciência da hora”.

Acordar várias vezes durante a noite é, de forma geral, prejudicial à saúde, desde que volte a adormecer em cerca de cinco a 10 minutos, explica Michelle Drerup, diretora de um programa de Medicina do Sono na Cleveland Clinic.

Pelo contrário, quando a pessoas dá por si a acordar várias vezes durante a mesma hora, isso pode fragmentar o ciclo do sono, não conseguindo dormir tão profundamente, diz Drerup. Esses despertares frequentes podem ser um sinal de distúrbios do sono, como apneia do sono ou nictúria, avisa.

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Quando as pessoas acordam de forma natural à noite, é mais provável que se lembrem de isso ter acontecido durante a segunda metade da noite. É quando, geralmente, têm um estágio REM maior, com um sono leve, já que a primeira metade da noite apresenta estágios mais longos de sono profundo.

“As pessoas costumam dizer ‘Durmo muito descansado durante quatro horas. E sinto que depois fico mais vigilante’. É algo muito normal, tendo em conta a nossa arquitetura do sono”, diz Drerup.

Já Peters-Mathews refere que, muitas vezes, o verdadeiro desafia passa pela resposta emocional de uma pessoa ao acordar, podendo acabar numa insónia secundária se a sua reação for manter uma vigília prolongada.

Peters-Mathews avisa que a resposta emocional ao despertar pode afetar a qualidade do nosso sono (Cavan Images/Getty Images)

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“Se alguém acorda a meio da noite e a primeira coisa que faz é olhar para o despertador, para ver que horas são, isso é capaz de fazê-lo sentir-se frustrado, chateado, ansioso ao antecipar o dia seguinte – é a reação que se torna problemática”, insiste.

Coruja ou cotovia

O ritmo circadiano de uma pessoa, ou seja, o seu relógio biológico interno, também pode estar em risco, avisa a neurologista Cathy Goldstein, médica do sono na University of Michigan Health.

O seu ritmo circadiano diz ao corpo quando é altura de dormir, tendendo a alinhar-se com os anteriores ciclos de sono e vigília, bem como com a exposição à luz ao longo do dia. Se este ritmo for prejudicado, ou se o ciclo sono-vigília mudar muito, o corpo não terá uma noção clara de quando ter um sono profundo de alta qualidade, explica Goldstein, que também é professora de neurologia na University of Michigan Sleep Disorders Center, em Ann Arbor.

“O ritmo circadiano é o nosso relógio biológico interno, mede quando estamos acordados, mede quando estamos a dormir – mede a maioria dos nossos processos fisiológicos, para que o nosso corpo faça aquilo que é necessário na altura certa do dia”, junta.

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Os ritmos circadianos e a arquitetura do sono mudam com a idade. Pode ser por isso que alguém sente que dormia mais profundamente quando era jovem. À medida que as pessoas envelhecem, tendem a passar mais tempo em fases mais leves do seu sono, refere.

Estes ciclos são pessoais e podem ajudar a definir alguém como uma coruja [pássaro mais ativo à noite] ou como uma cotovia [pássaro mais ativo de manhã], conta Goldstein. Tal pode causar, por exemplo, dificuldades em cumprir um horário de trabalho que não se alinha com o ciclo biológico do indivíduo, resultando em sonolência durante o dia.

Muitas vezes, mesmo quando alguém tenta adormecer a uma hora que lhe permita ter horas de sono suficientes para acordar cedo para o trabalho, isso pode ser um desafio. Há ainda que referir que muitos noctívagos tendem a ir para a cama mais tarde aos fins de semana, resultando numa sonolência conhecida como “jet lag social”. Tal enfraquecerá o ritmo circadiano, com possibilidade de causar sonos menos profundos e mais despertares, diz Goldstein. Contudo, há formas de controlar o seu relógio interno.

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O que pode fazer se não conseguir voltar a adormecer

Adormecer e acordar à mesma hora todos os dias, estar exposto à luz natural durante o dia e reduzir a intensidade das luzes artificiais à noite são ações que podem fortalecer a sua amplitude circadiana – os altos e baixos do ciclo -, resultando num sono mais reparador, explica Goldstein.

Também pode ser útil tomar uma dose muito pequena de melatonina, não mais do que meio miligrama, algumas horas antes da hora a que tende a adormecer naturalmente. Tal pode ajudar a adiantar o relógio biológico, explica.

A coisa mais importante a fazer quando acordar a meio da noite é resistir a olhar para o relógio, aconselha Peters-Mathews. “Se o alarme não estiver a tocar, não é hora de acordar. Não importa que horas são. Vire-se para o outro lado, fique confortável e volte a adormecer”.

Se não voltar a adormecer dentro de 15 minutos, é melhor sair da cama, para evitar desenvolver uma associação entre a vigília e a cama, diz Drerup. Esta especialista recomenda fazer uma atividade tranquila para ajudar a sentir sono de novo, tal como meditação ou música.

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“O nosso cérebro é altamente associativo e pode, facilmente, ser condicionado. Assim, se ficarmos na cama por muito tempo e estivermos acordados, o cérebro começa a associar a cama a atividades de vigília, preocupando-nos com tudo, menos com o sono. Sair da cama quebra essa associação”, diz Drerup.

Também é importante garantir que os despertares não acontecem devido a algo externo, como distúrbios do sono de quem partilha a cama consigo, acrescenta Peters-Mathews. “É importante otimizar o ambiente de sono. Às vezes isso significa manter os animais de estimação fora do quarto. E otimizar o ruído, luz e temperatura dentro dessa divisão”.

Mas se o despertar for causado naturalmente pela arquitetura do sono, não afetando a sua rotina no dia seguinte, não há nada com que se preocupar, resume Goldstein.

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