Várias normas de redução de consumo energético foram aprovadas na última semana na União Europeia, como forma de combater a dependência face à Rússia. Portugal não é exceção: prevê-se a adoção de medidas obrigatórias para uma redução do uso de energia em pelo menos 7%, nomeadamente em edifícios públicos e superfícies comerciais. O papel da ação individual não deve, porém, ser desvalorizado: "os pequenos gestos do dia-a-dia são extremamente importantes", alerta Rute Candeias, da Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA).
Islene Façanha, da Associação Zero, realça que a implementação de medidas de eficiência energética deve vir aliada à "alteração de comportamentos" e à adoção de "pequenos grandes gestos" que contribuam para a mudança sem "comprometer as atividades diárias". E isto não se aplica apenas à energia: também a água enfrenta um período de escassez preocupante, com uma situação de seca prolongada desde o início do ano, exigindo respostas imediatas.
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Em resposta à urgência destas questões, "hoje mais importantes do que nunca", as ambientalistas da Zero e da ASPEA partilham com a CNN Portugal um conjunto de medidas simples e acessíveis que possibilitam que os consumidores evitem o desperdício e reduzam os valores nas faturas sem alterar o seu estilo de vida. As principais dicas estão reunidas nas alíneas seguintes, bem como outras recomendações de organizações como a DECO e a EPAL:
Gás: como pouparPUB
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Rute Candeias não hesita em nomear o principal fator: "o comodismo". As medidas acima enunciadas são simples e não implicam mudanças significativas no quotidiano, mas poderão exigir um desvio do "conforto" a que estamos acostumados.
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"É muito mais fácil, por vezes, ir pelo caminho menos amigo do ambiente", lamenta a ambientalista, em conversa telefónica com a CNN Portugal. "Estar no conforto do nosso carro em vez de andar de transportes públicos, ou comprar um saco porque não nos apetece transportar as coisas na mão ou trazer um saco de casa" são disso exemplos.
A poupança de recursos e energia, quer por motivos ambientais ou económicos (ou ambos), parte sempre de uma premissa imutável: redução. Numa sociedade de consumo, bombardeada com anúncios que convidam ao excesso, à aquisição, à acumulação - e de qual é exemplo o fenómeno da fast fashion - pode ser pouco tentador enveredar por escolhas mais minimalistas.
Muito frequentemente, são as crianças que agem como educadoras e ensinam os pais a adotar hábitos mais sustentáveis e energeticamente eficientes. Rute Candeias é educadora ambiental há mais de 20 anos, e reconhece que é nas faixas etárias baixas que ocorrem as mais intensivas - e também bem-sucedidas - campanhas de sensibilização, sobretudo no âmbito escolar. "As crianças em idade tenra aderem muito a estas coisas, interiorizam esta situação de crise e são bastante lúcidas sobre o que tem de ser feito. São elas que sensibilizam as famílias e os pais lá em casa".
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Alguns destes pequenos ambientalistas vêm a tornar-se adultos "bastante dedicados a estas questões", outros "retrocedem". A receção da família ao interesse dos mais jovens pode determinar a motivação ou, pelo contrário, o desânimo: se os pais não acolherem e incorporarem as medidas na rotina doméstica, as crianças "cansam-se de ouvir uma coisa na escola mas não ter apoio em casa, e acabam por desistir".
Por outro lado, "do sexto ano de escolaridade para cima" verifica-se um maior desinteresse por esta temática. As campanhas de sensibilização, mais orientadas para o 1º ciclo, tornam-se menos frequentes nos anos seguintes e "a mensagem vai-se perdendo". "Temos tentado combater isso com ações no ensino secundário, mas há poucas entidades a trabalhar com esta faixa etária", diz.
Em alguns jovens, é a mera entrada para os anos de adolescência que acaba por "corrompê-los". É um período crítico, pautado por "consumismo, moda, marketing", mas também uma forte necessidade de manifestar rebeldia e provar "que são donos da sua vida". Deixam de cumprir as medidas que tinham aprendido na infância (e às quais se mostravam tão sensíveis) para optar por um estilo de vida mais centrado na satisfação imediata. Por outras palavras: "não estão para ter chatices".
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"É difícil mudar hábitos, mas torna-se mais fácil se houver consciência". O problema, aponta a educadora ambiental, é que "a mensagem não é passada".
Como contornar estas dificuldades e permitir que miúdos e graúdos se consciencializem da importância da ação climática e eficiência energética, sobretudo no contexto atual?
A sua resposta é simples: sensibilizar, sensibilizar, sensibilizar. "Nos canais principais, em horário nobre, deveria haver mais campanhas a alertar para estas situações, porque seriam vistas por muita gente", propõe. No cenário atual, "só os canais mais direcionados para esse conteúdo passam documentários" e, quanto aos generalistas, apenas se debruçam sobre o assunto quando se prevêem pesadas consequências económicas. "Não é suficiente", frisa Rute Candeias, que apela a medidas estruturais, e não temporárias.
Há ainda outra possível justificação para a resistência: as consequências ainda não se materializam totalmente perante os nossos olhos. "Até agora, parece ficção científica. Só quando as pessoas se depararem com lixo no prato" ou abrirem a torneira e escassear água, acredita a ambientalista, é que "começam a abrir os olhos" e a compreender a necessidade de ação.
Num inverno que se afigura rigoroso na gestão e fatura energéticas, as consequências poderão vir a refletir-se de forma significativa na carteira dos consumidores. O lado positivo? Talvez comecem, "finalmente", a "tomar consciência" e a optar por hábitos mais sustentáveis.
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