Mais de 230 organizações de direitos humanos, incluindo portuguesas, exigiram esta quarta-feira a demissão da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, por ter “branqueado atrocidades” durante a sua visita à China.
Num comunicado conjunto divulgado esta quarta-feira pelo Grupo de Apoio ao Tibete-Portugal, os ativistas criticam a visita de seis dias de Bachelet “por ter branqueado a repressão contra pessoas uigures, tibetanas, mongóis do sul, de Hong Kong, entre outras”.
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No documento é pedido ainda ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para que não proponha a renovação do mandato de Bachelet e que seja divulgado imediatamente o relatório sobre as violações dos direitos humanos contra os uigures e outras comunidades turcas.
Durante a sua visita de seis dias à China, Bachelet “desperdiçou uma rara oportunidade de promover a responsabilização, ao não abordar a resenha de violações sistemáticas dos direitos humanos cometidas pelas autoridades chinesas”, reforçam as organizações de direitos humanos.
Consideram ainda que Bachelet “legitimou a tentativa de Pequim de encobrir os seus crimes usando o falso enquadramento de ‘contraterrorismo’ do Governo chinês e repetidamente se referiu aos notórios campos de internamento pelo termo do governo chinês: ‘Centros de Educação e Treino Profissional’ (CETP)”.
Durante o seu mandato de quatro anos, a Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos “manteve-se totalmente em silêncio sobre a crise dos direitos humanos que envolve o Tibete e nem sequer pediu o acesso ao país sob ocupação, apesar de nenhum Alto-Comissário o visitar desde 1998”, adiantam.
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Os governos ocidentais e as organizações não-governamentais (ONG) dos direitos humanos acusam a China de deter mais de um milhão de uigures e membros de outras minorias muçulmanas em campos de reeducação.
As organizações de direitos humanos afirmam ainda que faltaram as visitas ao Tibete e a Hong Kong, alertando que Bachelet “não realizou qualquer menção ao sul da Mongólia” e “desperdiçou uma oportunidade muito necessária de se reunir com os principais líderes chineses”.
As declarações do diretor executivo da Human Rights WatchO diretor executivo da Human Rights Watch (HRW) considerou esta quarta-feira "desastrosa" a recente visita à China da Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, atribuindo parte da responsabilidade ao secretário-geral da ONU, António Guterres.
Kenneth Roth declarou numa conferência de imprensa que a viagem de Bachelet à China, entre 23 e 28 de maio, "não poderia ter sido melhor para o Governo chinês, que se esforça para esconder as prisões em massa e os abusos em Xinjiang", território autónomo habitado por várias minorias étnicas, nomeadamente os uigures.
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Roth declarou que Bachelet "adotou a retórica de Pequim" e referiu-se a estes campos como "centros de treino educacional e vocacional".
Bachelet "comportou-se como se a visita fosse um gesto de generosidade de Pequim, quando é obrigação de cada país membro da ONU permitir a entrada de altos funcionários da organização".
Roth acusou a Alta-Comissária de ser "inocente" por acreditar que poderia convencer os líderes chineses, em privado, a acabar com os seus abusos em Xinjiang.
"A força da Alta-Comissária está na pressão que pode exercer ao denunciar publicamente o que Pequim está a fazer. O diálogo nos bastidores é inútil", referiu o responsável da HRW.
Questionado sobre se Bachelet deverá continuar como Alta-Comissária - o seu mandato termina este ano, embora possa concorrer à reeleição -, Roth disse que a chilena “não parece confortável em assumir posições contra governos poderosos".
O diretor executivo da HRW afirmou que parte da culpa pela visita fracassada de Bachelet à China é do secretário-geral da ONU, António Guterres, por ter aceitado previamente os termos impostos por Pequim para a visita da Alta-Comissária, quando esteve na capital chinesa por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.
Guterres, segundo Roth, mostra-se “mais fraco” quando se trata de criticar Estados influentes em relação aos seus antecessores no cargo, como o ganês Kofi Annan (que morreu em 2018) e o sul-coreano Ban Ki-moon.
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