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Psicologia em tempo de guerra. Os fatores humanos nos novos contextos de guerra

"Psicologia em tempo de guerra", uma rubrica para ler no site da CNN Portugal

A ligação entre o domínio da tecnologia e o comportamento é tão antiga como a nossa espécie e a forma como nos relacionamos e somos influenciados pela tecnologia moldou o que somos. Se nos recordarmos que com o domínio do fogo tivemos ganhos substanciais, como a capacidade de termos luz para além dos ciclos diários do sol, a possibilidade de cozinhar os alimentos ou servir como proteção contra animais perigosos, conseguimos também encontrar aspetos em que a sua utilização foi intencionalmente usada como ferramenta de violência e/ou de poder.

A inevitabilidade do tema guerra é autoexplicativa, a sua presença nas nossas vidas é, e continuará a ser, sentida, as nossas crenças e atitudes em relação a ela encontram-se ao rubro, mas só agora se começa a pensar na forma como a tecnologia, mais concretamente o advento dos impactos das redes sociais e a prevalência da importância da cibersegurança têm como novo contexto de guerra.

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É este novo contexto (o contexto digital) que ganha uma nova dimensão nos eventos do leste da Europa. Desinformação, ciberataques, uma quantidade de informação que torna impossível todo o seu processamento, a capacidade de infligir dano ou entropia através do contexto digital é hoje bem percetível, contribuindo para a abertura de uma nova frente de combate, onde dimensões como fronteiras, território e limite são bastante opacas. Aliás, a NATO reconheceu formalmente em 2016 o ciberespaço como domínio de operações para os contextos políticos e militares, sublinhando que este reconhecimento assenta no novo paradigma onde “a defesa mútua e a capacidade de operar neste espaço de criação humana é agora vital para a segurança e aliança de sociedades livres”.

Existem ainda outras razões importantes para analisar com atenção como as novas tecnologias exigem uma nova resposta de segurança. Não conseguimos prever com total confiança quem e como se tentarão explorar as fraquezas associadas a cibersegurança a curto, médio ou longo prazo, mas é certo que alguém o fará (e em boa verdade isto já acontece com grupos Hactivistas a declarar guerra a estados, no caso do grupo Anonymous, ou a interferências externas em eleições democráticas). É por isso que a própria NATO afirma “É imperativo que a tecnologia seja mais resiliente e segura”.

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É aqui que entram os fatores humanos, a tecnologia não é neutra e o uso que fazemos dela fá-la ganhar dimensões e propósitos que à partida não tínhamos como espectáveis ou aceitáveis. As nossas crenças moldam a forma como percecionamos a tecnologia, as nossas atitudes norteiam os nossos comportamentos entrando numa espécie de loop que se alimenta a si próprio densificando novos conceitos, elaborando novos cenários mais ou menos toleráveis.

Proteção especial continuará a ser necessária para salvaguardar e garantir que os direitos humanos serão defendidos, assim como o seu uso responsável por qualquer país. Os governos trabalham para uma melhor organização das suas capacidades cibernéticas de forma continua e persistente com o objetivo de tornar a tecnologia mais segura e “justa”, mas esses esforços serão em vão se não se apostar, fortemente, na dimensão comportamental, sublinhando a importância dos comportamentos, das pessoas e das competências como vetores capitais neste contexto. Se no combate ao cibercrime as pessoas são vistas como o elo mais fraco da equação, este triste exemplo do que se passa na Ucrânia deverá servir para afirmar como podem ser diferenciadoras as dimensões, crenças, atitudes e comportamentos no contexto digital.

É por isso urgente apostar nas competências, sociais, emocionais e relacionais como critérios de qualidade diferenciadores na construção de tecnologia, seguras, justas e eficientes, contribuindo assim para que também este contexto possa ser inspirado por valores de integridade, inclusão, responsabilidade e justiça.

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