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A anamnese do Lapsus e a inevitável guerra de clãs

Começou no dia 20 deste mês uma autêntica guerra de clãs no mundo do hacking que se tem arrastado pelas redes sociais.  Agora que se passaram uns dias desde o ataque à Microsoft, é altura de fazer uma apresentação inicial (provavelmente final) deste grupo que espalhou o caos por todo lado, até ter incomodado diretamente outros grupos da mesma praça de atividade.

É sempre prudente adiantar que este é um grupo ligeiramente diferente dos que existem mundo fora; este é meramente um grupo destrutivo e associado a piratas mais jovens, que são comummente denominados de crackers porque apenas ou primeiramente visam destruir, e foi por aqui que o apanharam. Não, não foi a polícia, foram outros hackers.

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Quem me lê já há algum tempo sabe que a minha opinião e perfil traçado a esta instituição não a localizava como uma entidade unicamente sul-americana, mas sim uma entidade com base, origem e interesses mais globais e eu também acho que, face à forma tão estratégica e orientada dos ataques que este grupo leva a cabo, poderá ser uma manipulação política de interesses que usufruem da necessidade de fama dos elementos que fazem parte do Lapsus e os orquestra a seu bel-prazer.

Este grupo, que a Microsoft recentemente batizou como DEV-0537, tem atuado mundo fora, inclusive em Portugal, contra a Impresa, Vodafone e outros, tendo como ponto de início de trabalhos a América do Sul. É caracterizado por ser um grupo de ataque destruição primeiramente e só depois como um grupo que alavanca os seus ataques para passar à extração do conhecimento das vítimas, passando depois à extorsão. Este é um grupo que não faz questão de se esconder, aliás, faz questão de fazer imensa publicidade aos seus feitos e à forma como atua. É aqui que ele se destaca da sua concorrência porque gosta de humilhar publicamente as vítimas e, em muitos casos, não pede sequer resgate e passa logo à distribuição do material capturado (que o diga a Samsung e agora a Microsoft). Estas ações não passaram em claro a um grupo de investigadores, mas já lá vamos.

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Como investigador desta temática, sempre achei estranha a forma atabalhoada e descontraída de comunicar os seus ataques destrutivos. Embora seja um fã e acredite na segurança de alguns sistemas como o Telegram, usar estas tecnologias a céu aberto para poder estar constantemente a provocar reações e fazer sobressair o óbvio, são estranhamente absurdas para não dizer mesmo infantis; em suma, nota-se que o pessoal-de-campo é maioritariamente composto por jovens de sangue-frio. Embora pareçam relaxados com o que fazem às maiores empresas do mundo e andarem aos tropeções às vezes, estes não andam em linha reta ou em fuga para a frente, alguém lhes dá as missões e na semana passada um elemento de topo foi identificado, portanto, vamos lá saber quem, como e o que vai fazer.

Sem estar a fazer publicidade à rede, estava eu no Twitter a seguir os grupos que me interessam, quando recebo uma mensagem para prestar atenção numa thread surpreendente. Rapidamente percebi que era coisa séria, primeiramente porque o nome me diz qualquer coisa de outras andanças, “D4RK R4BB1T” e porque depois as suas acusações, deduções, alegações, provas e conclusões eram de facto plausíveis. Dizer plausível neste meio é a mesma coisa que dizer que foi visto, analisado, medido e identificado e finalmente, terminado.

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Este camarada de Twitter tinha claramente reconhecido, com recurso a várias técnicas das quais destaco a mais elementar o OSINT, o cabecilha ou um dos principais cabecilhas do Lapsus, e entre outros posts que identificavam os seus associados, estava a instanciar as autoridades e as empresas atacadas a lerem os seus posts e a tomar ações.

O visado bem que tentou, mas não conseguiu cabalmente defender-se até que se tornou óbvio de quem se tratava, de acordo com D4RK R4BB1T e não só, o principal responsável pelo LAPSUS é Arion Kurtaj. Ali rapidamente alguns comparsas do crime foram também trazidos à colação.

Prontamente o visado encenou um contra-ataque de defesa com dezenas e dezenas de respostas que lamentavelmente não guardei e que ele agora apressadamente apagou. À falta de resposta óbvia desapareceu e com ele a sua presença na rede. Com o claro objetivo de interromper as atividades do Lapsus, este vigilante avançou para o próximo passo lógico, a rede próxima de contactos, o pai, que negou e se mostrou surpreso com as atividades ligadas ao seu filho Arion. Aqui foi o fim e hoje já se encontram notícias na imprensa inglesa a dar nota da detenção de um jovem de 16/17 anos no bairro de Oxford que vivia na casa dos pais. Tivesse ele 39 anos e na mesma condição, era um clássico típico.

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Chegar a Arion não foi muito difícil pois infelizmente, e apesar de este estar a seguir um percurso muito articulado, cometeu alguns erros que permitiram a sua identificação após ter deixado alguns dados seus visíveis no ataque à Microsoft e numa venda falhada de dados retirados do ataque ao Doxbin. Depois de identificado o processo foi fazer pressão, muita pressão e mais pressão ainda até que este cedesse assustado. Não foi de admirar que todo o grupo se assustasse em conjunto e anunciasse no seu Telegram que iam fazer uma pausa...

Mas o que se está a passar em pleno Twitter? Que grupos são estes com capacidade de atacar as maiores empresas do mundo e que conseguem fazer o que as autoridades não conseguem, isto é, identificar cabalmente e em menos de um mês os membros de um clã devastador? 

Quem são estes justiceiros que andam pelas redes sociais a mostrar as suas capacidades? Não sabemos, mas sabemos que o impacto das suas ações que hoje são para o bem, amanhã poderão apontar para o outro polo.

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