O Ministério dos Negócios Estrangeiros condenou esta noite o último lançamento de um míssil por parte da Coreia do Norte - no caso, um míssil balístico intercontinental que acabou por cair no Mar do Japão, dentro das águas territoriais nipónicas.
"Portugal condena veementemente o lançamento pela RPDC [República Popular Democrática da Coreia, nome oficial da Coreia do Norte] de um míssil balístico intercontinental que caiu na ZEE [Zona Económica Exclusiva] do Japão. Expressamos nossa total solidariedade com o Japão e a República da Coreia [do Sul]", lê-se na publicação feita através da conta oficial do MNE na rede social Twitter. A tomada de posição de Lisboa acompanha um comunicado do Conselho da União Europeia, emitido três dias antes, condenando as atitudes provocatórias do regime de Pyongyang e mostrando solidariedade com Tóquio e com Seul.
PUB
Portugal strongly condemns the DPKR launch of an intercontinental ballistic missile that landed in Japan’s EEZ. We express our full solidarity with Japan and the Republic of Korea.https://t.co/fmZIv745N9
— Negócios Estrangeiros PT (@nestrangeiro_pt) November 22, 2022
Apesar do atraso com que é assumida a posição do Governo de Portugal (o disparo a que se refere aconteceu na sexta-feira passada, e motivou nas horas seguintes reações de condenação por partes dos principais aliados do Japão, incluindo a União Europeia), é relevante que o MNE tenha condenado o lançamentos de mísseis e afirmado o seu alinhamento com o Japão e a Coreia do Sul, as duas democracias mais importantes daquela região do mundo, que se têm aproximado cada vez mais das democracias europeias (foram até convidadas a estar presentes na última cimeira da NATO, em Madrid).
PUB
Portugal tem primado pela discrição em relação à instabilidade na Ásia-Pacífico, limitando-se a subscrever as posições conjuntas da União Europeia, que tem condenado a escalada armamentista da Coreia do norte, mas também a atitude crescentemente belicista por parte da China, como foi notório em agosto, durante a crise do Estreito de Taiwan.
Nessa altura, quando a tensão entre a China e os EUA atingiu o seu ponto máximo, após a vista de Nancy Pelosi a Taipé, foi muito notório o silêncio de Lisboa, quando muitos países da UE e da NATO condenavam os exercícios militares sem precedentes levados a cabo por Pequim em torno de Taiwan. O MNE manteve-se mudo mesmo quando o jornal Observador lhe colocou uma série de questões sobre o posicionamento de Portugal face a essa crise, que dominou as atenções do mundo e fez temer um conflito direto entre as forças chinesas e taiwanesas, tendo estas o apoio declarado dos EUA e dos seus aliados.
PUB
Recorde-se que, durante as semanas de cerco chinês a Taiwan com exercícios de fogo real, a China lançou mísseis sobre a ilha, e cinco desses mísseis caíram dentro da Zona Económica Exclusiva do Japão, o que provocou protestos veementes da parte de Tóquio. Agora, a diplomacia portuguesa condena à Coreia do Norte aquilo que não condenou à China em agosto: o lançamento de mísseis que atingem a ZEE de um país aliado de Portugal.
Santos Silva: dar prioridade aos aliadosNa semana passada, Augusto Santos Silva, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português - e atual Presidente da Assembleia da República -, esteve em Tóquio e sublinhou, em entrevista à CNN Portugal, a importância de defender e valorizar os países aliados. E também de dar prioridade aos aliados e aos países democráticos nas relações económicas.
PUB
Questionado pela CNN Portugal sobre se o nosso país deve tratar da mesma forma, do ponto de vista da economia e investimento, a China, os Estados Unidos e o Japão (que são as três maiores economias do mundo), Santos Silva respondeu “certamente que não". E defendeu a prioridade aos aliados, em detrimento dos países cujos regimes e posicionamento geopolítico se opõem às democracias liberais de tipo ocidental.
"Nós temos uma aliança de muitos séculos com os EUA, temos uma parceria muito forte com o Japão, e se há lição que os últimos tempos nos deram é que é impossível separar completamente as questões do relacionamento económico das questões geopolíticas”, defendeu Santos Silva.
Portugal tem diversas empresas estratégicas em mãos chinesas - na maioria dois casos, devido a privatizações feitas durante o resgate financeiro da troika - e esse facto é muitas vezes apontado como a razão por que Lisboa é extremamente cuidadosa nas tomadas de posição que possam beliscar Pequim.
Na opinião do anterior chefe da diplomacia portuguesa, “nós temos no Japão um aliado, e vivemos um tempo em que os aliados são preciosos. Portanto, a nossa parceria económica com o Japão vai de par com a nossa aliança com o Japão. Quem diz o Japão, diz a República da Coreia, a Austrália ou a Nova Zelândia e outros países da região da Ásia-Pacífico”.
PUB