Era uma situação desconfortável, com risco de conflito, embrulhada em manifestações de afecto: as directas, bonitas e sentidas e as indirectas, com sinais muitas vezes difíceis de decifrar.
Pai e filho no mesmo contexto profissional, um treinador, outro jogador.
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O filho orientado pelo pai, ao mais alto nível e num clube com as suas especificidades muito bem identificadas, o FC Porto.
SÉRGIO CONCEIÇÃO, o treinador que mais deu ao FC Porto na última década; FRANCISCO CONCEIÇÃO, o jovem (19 anos) que nas duas últimas épocas o melhor que conseguiu foi uma aproximação ao estatuto de ‘arma secreta”, não se conseguindo impor como titular, também e naturalmente porque a concorrência foi sempre muito forte.
Ninguém duvida da tentativa de SÉRGIO CONCEIÇÃO em extrair o melhor que FRANCISCO CONCEIÇÃO tinha para dar em benefício do FC Porto.
Ninguém duvida que FRANCISCO CONCEIÇÃO, quando era chamado, tentou sempre dar o seu melhor, não apenas no interesse do FC Porto mas também para que não constituísse um problema para o treinador (sempre associado à condição de pai), na gestão dos recursos à disposição.
Era uma situação desconfortável, porque por mais profissional que queiras ser e és, há sempre aquelas cabeças preparadas para explorar momentos menos favoráveis e, neste caso, a relação pai-filho, atirada para o domínio da cabina, era uma espécie de pote de mel com um pavio explosivo pronto a ser acendido e a… explodir.
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Não tenhamos dúvidas: os beijos, abraços e manifestações de carinho protagonizados pelo filho junto do pai, em plena competição, eram momentos sinceros e vividos com o coração entre ambos, mas havia quem olhasse para eles sem a bondade e a benevolência que esses momentos - em estado puro - representavam.
Não tenho dúvidas de que SÉRGIO CONCEIÇÃO tentou ser justo com o jogador FRANCISCO CONCEIÇÃO, mas também não tenho dúvidas de que, nesse exercício de procura de isenção, FRANCISCO CONCEIÇÃO sentiu algumas vezes que justificou poder ter mais oportunidades.
É por isso que a situação, por mais sorrisos que possa arrancar, alguns, já se vê, dissimulados, é sempre desconfortável e, nesse desconforto, há algumas perguntas que se devem colocar junto da estrutura do FC Porto, porque há coisas que na verdade fazem pouco sentido.
Antes das perguntas, enumeremos os factos dados à estampa pela comunicação social nos últimos dias:PUB
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Nada disto faz sentido e muito menos este desenlace: FRANCISCO CONCEIÇÃO sai do FC Porto por 5M€, no mesmo ano em que — e mesmo sabendo-se que a utilização e a influência foram bastante diferentes — VITINHA e FÁBIO VIEIRA são vendidos por valores sete e oito vezes acima daquele que o Ajax decidiu pagar pelo jovem extremo portista.
A diferença de utilização não explica tudo.
Quer dizer: o FC Porto tinha no seu terreno um castanheiro e vende-o pelo valor de uma castanha. E isto começa a ser recorrente, porque às vezes nem a castanha é vendida. Saem, ponto e nem sequer ao preço da uva mijona.
Se PINTO DA COSTA e SÉRGIO CONCEIÇÃO têm uma relação próxima, quase de pai/filho ou de avô/neto, como é que se chega a uma situação destas, que lesa claramente os interesses do FC Porto?
A SAD, ou alguns elementos da SAD, os que eventualmente não vão à bola com SÉRGIO CONCEIÇÃO, foram capazes de pesar mais neste processo?
Afinal, quem manda no FC Porto?FRANCISCO CONCEIÇÃO sai do FC Porto “em condições surreais” e isso é inegável.
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Como acontece quando há diversas facções à procura de um lugar ao sol, surgem as reacções. E, entra elas, emerge a do líder da principal claque do FC Porto, que é talvez o elemento próximo da estrutura que mais política exerce nos assuntos relacionados com a instituição portista, o que não deixa de ser insólito e um ‘caso de estudo’.
O líder da principal claque do FC Porto não poupa SÉRGIO CONCEIÇÃO: “Filho meu nunca jogaria no Benfica. Filho meu nunca prejudicaria o FC Porto. Se o FC Porto anda há quase um ano a tentar renovar com o filho do treinador, a culpa é de quem?
Não é tema, obviamente, filhos de profissionais não poderem profissionalmente jogar noutros clubes, rivais ou não. RODRIGO CONCEIÇÃO jogou no Benfica; o próprio FRANCISCO CONCEIÇÃO alinhou nas camadas jovens do Sporting - e não foi por isso que deixaram de representar o FC Porto.
As razões publicadas a justificar o afastamento de FRANCISCO CONCEIÇÃO do Dragão invocam “o clima tóxico em redor da família Conceição”.
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A asserção motiva outra pergunta: SÉRGIO CONCEIÇÃO tem contrato com o FC Porto, mas é um homem totalmente livre? É um homem livre ou está prisioneiro de uma nomenclatura?
Até que ponto esta saída de FRANCISCO CONCEIÇÃO, nos termos e no timing em que acontece, não é também um sinal de insatisfação e exaustão?
Na ideia do líder da claque, pai que é pai e sobretudo pai de um jogador do FC Porto, não tem outro caminho senão fazer de pai, empresário, dirigente da SAD e empresário — e obrigar filho que é filho e ainda por cima filho do treinador do FC Porto a renovar contrato, der por onde der.
Tendo feito o que fez pelo FC Porto, faz sentido SÉRGIO CONCEIÇÃO ser acusado de prejudicar a nação portista? E PINTO DA COSTA, sobre este tema em concreto, não tem nada a dizer?…
O FC Porto — o grande prejudicado de todas estas contradições —merece muito mais, mas os sócios estão devidamente hipnotizados para validarem qualquer crítica ou reflexão como manifestações de ‘ódio ao Porto’, o clímax da “propaganda estatal”…
… E assim se vai cantando e rindo, até um dia se perceber a dolorosa realidade.
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