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Como é que o FC Porto chegou a este Pinto?

Rui Santos volta ao tema dos Conceições e questiona poderes que simplesmente não deviam existir em matéria de gestão desportiva. As claques não podem servir para mais nada senão para apoiarem as sua equipas, promovendo a paz e não a guerra (interna e externa)

Quando em nosso redor e na cadência diária das nossas vidas acontece alguma coisa que nos suscita inquietação e mesmo lamento, por causa de uma progressiva degradação para a qual sentimos que, ao longo dos tempos, nada foi feito para a evitar, perguntamos: como é possível ter-se chegado a este ponto?

No caso em apreço, a pergunta merece ser adaptada: como é que o FC Porto chegou a este Pinto?

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Vamos por partes.

O FC Porto está a viver uma situação a gerar muita controvérsia, no seguimento da saída de FRANCISCO CONCEIÇÃO, filho do treinador SÉRGIO CONCEIÇÃO.

Se não estivéssemos a falar do filho do treinador, seria igualmente uma situação de gestão controversa porque a saída de um jovem jogador, com potencial para se afirmar a prazo na equipa principal do FC Porto, pelas suas características de agitador, pelo valor de uma cláusula de rescisão baixa (5M€), não faz qualquer sentido.

Basta recordar que houve um tempo, não eram BERNARDO SILVA e JOÃO CANCELO titulares do Benfica, vivendo apenas do slogan de 'grandes promessas', em que havia uma espécie de 'chapa 15' (M€) para esses e outros atletas poderem ser negociados e vendidos sob o alto patrocínio de JORGE MENDES, de melhor aproveitamento de jovens jogadores portugueses no mercado, pelo que cai pela base o argumento segundo o qual é muito bom vender-se um jogador não titular por 5M€.

Isso é propaganda para tolos!

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É claro que, no caso de FRANCISCO CONCEIÇÃO, nunca se ter saído da cláusula de rescisão dos 5M€ compromete a SAD e o seu presidente, poder-se-iam encontrar aqui facilmente bodes expiatórios como os CONCEIÇÕES, pai e filho, nessa visão espécie de sabotadores da SAD, mas há muito tempo que a SAD portista deixou de se mostrar eficaz na renegociação de prorrogações contratuais e fica difícil perceber (ou talvez não, por causa das dinâmicas de intermediações) como é que o FC Porto, nos últimos tempos, passou a ser notícia pela pouca lógica dos seus negócios.

Já discorri, em artigo anterior sobre o assunto, mas entretanto vieram a público notícias que davam conta do pedido de demissão de SÉRGIO CONCEIÇÃO, alegadamente incomodado (quem não ficaria?) com publicações feitas pelo líder da principal claque do FC Porto.

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Podem dizer o que quiserem, venha a nomenclatura comunicacional replicar a estafada lengalenga do 'ódio ao Porto' e dos 'infiéis' que só vêem mal nas coisas do Dragão, tem sido exactamente esse o combustível que pode alimentar não apenas algumas dinâmicas de vitória mas também, e isso não é despiciendo na manutenção do regime, todos os interesses subjacentes aos "satélites" alimentados pelo "planeta-PINTO DA COSTA".

O presidente do FC Porto foi muito importante momento da afirmação do clube no plano nacional e internacional (e esse é o crédito que os adeptos sempre lhe deram), mas financeiramente deixou desperdiçar muitos recursos e deixou também de os alavancar como antes e esta liderança do FC Porto deixou de contar com um presidente pujante, capaz de separar internamente o trigo do joio.

Tudo se confunde, tudo se contradita, e às tantas fica a ideia de que o mote é dividir para reinar. Mesmo que se coloque um líder de claque entre o presidente e o treinador.

Antes, genericamente, havia excesso de custos para boas operações de venda; agora, continua a existir excesso de custos (controlados pela UEFA) para operações de venda bem mais discutíveis em termos de encaixes e operações sem mais-valias.

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Este episódio que colocou o líder da principal claque do FC Porto no encalço de SÉRGIO CONCEIÇÃO é da exclusiva responsabilidade do presidente.

Não é verosímil que o líder da claque, sempre muito diligente na defesa de PINTO DA COSTA (é histórica a frase segundo a qual "para chegarem até si têm de nos matar a todos"), se atire a SÉRGIO CONCEIÇÃO sem resguardo presidencial.

Muito mau seria se, com efeito, na hora de publicar o que publicou, o líder da claque mandasse mais do que o presidente, embora neste momento já nada possa constituir surpresa ou novidade.

Num caso ou noutro, sobra o à-vontade com que (ex) líderes de claques se imiscuem em aspectos de gestão desportiva, como acontece com todos os principais clubes portugueses, sobretudo com o FC Porto e recentemente com o Sporting, não sendo igualmente o Benfica um caso exemplar.

Se a principal claque do FC Porto tem o poder que tem, isso deve-se ao facto de PINTO DA COSTA ter criado e reforçado esse poder.

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É um poder inaceitável, porque as claques não podem representar mais do que um grupo de adeptos dispostos a apoiar as suas equipas, sem contrapartidas, sem promessas de apoios para além daqueles que são reconhecidamente razoáveis, e PINTO DA COSTA sempre lidou muito bem com essa ideia de ter um "exército" à disposição para se sentir -- como dizer? -- mais confortável na sua cadeira presidencial.

E é esta verificação que me remete para o título desta crónica e para as considerações iniciais.

Como é que o FC Porto chegou a este ponto ou, adaptando a asserção à realidade no Dragão, como é que o FC Porto se deixou chegar a este Pinto?

Este Pinto já não tem nada a ver com o grande "FC Porto de PINTO DA COSTA" (nas coisas boas que projectou) e este episódio com os Conceições apenas reflecte uma degradação crescente e evidente.

Repito: o FC Porto e os seus adeptos, aqueles que estão alheios a lógicas de gestão ou intermediações, e que amam o clube pelas mais diversas razões (familiares, geográficas, etc.), não merecem assistir a este definhamento ou guerrilha interna, como já aconteceu noutras paragens, nomeadamente nos clubes de Lisboa, em tempos não muito distantes.

O FC Porto precisa de se impor como enorme clube que é, mas não pode continuar a varrer os valores essenciais (em sociedade ou no desporto) para debaixo do tapete.

Tenho a certeza que o FC Porto envolve e engloba muita gente capaz de colocar o clube num patamar de exigência e competitividade internas, tão importantes para a sua história como para o futebol português, mas para isso tem de elevar o conceito de razoabilidade, porque aquilo que não é razoável nem aceitável tem sido defendido, “contra tudo e contra todos” como se fosse um tesouro e não é.

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