“Depende da perspetiva”, começa por dizer a investigadora especialista em relações internacionais Diana Soller. “Apesar de tudo, os avanços no terreno na Rússia são mais significativos do que as travagens que a Ucrânia consegue fazer e, nesse sentido, pode dizer-se que a Rússia está a ganhar a guerra”, afirma. “Mas, por outro lado, temos o argumento de que a Ucrânia, que era uma não existência militar, tem sido capaz de não deixar a Rússia avançar”. Recorde-se que, antes da invasão, o orçamento da Ucrânia para a Defesa era dez vezes inferior ao da Rússia.
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“Do ponto de vista militar, quem está a ganhar é a Rússia. Tem praticamente a zona de Lugansk conquistada, a ligação entre a Crimeia e o Donbass e mesmo a província de Donestk está acima de 60% conquistada”, refere o coronel Mendes Dias. "A Ucrânia está a experimentar grandes dificuldades no Donbass", acrescenta, destacando que "a perda de Mariupol e Azovstal causou algum impacto na moral ucraniana". Ainda assim, “do ponto de vista político, a Rússia está isolada e não tem ganhos”, continua, pelo que, nesta dimensão, “a Ucrânia está a ganhar”.
2. Quantos civis já morreram?A guerra já matou 3.930 civis – 1482 homens, 973 mulheres, 90 raparigas e 98 rapazes, 69 crianças e 1218 adultos cujo sexo não foi possível identificar. Estes são os últimos dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, mas o organismo admite que o número real de civis mortos será muito superior ao divulgado. É que as organizações têm dificuldade em recolher informação nas regiões onde os combates são mais intensos, sobretudo em Mariupol (Donestsk), Izium (Kharkiv) e Popsana (Lugansk).
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Quanto aos feridos, a guerra já fez pelo menos 4532 vítimas – 880 homens, 588 mulheres, 106 raparigas, 124 rapazes, 164 crianças e 2670 adultos cujo sexo não foi possível apurar.
A ONU diz que maioria dos civis mortos foram vítimas de explosões em grande escala, incluindo bombardeamentos com artilharia pesada, mísseis e ataques aéreos.
3. E soldados?A Ucrânia não tem divulgado o número de soldados mortos por uma questão estratégica, mas esta segunda-feira o presidente Volodomyr Zelensky afirmou que morrem 50 a 100 soldados ucranianos por dia na zona do Donbass, onde os combates se têm intensificado. O coronel Mendes Dias considera que estas declarações sugerem que Zelensky estará a deixar um apelo: "Isto é um grito a dizer 'estou a precisar de pessoas'", frisando que é um número "com alguma gravidade".
Do lado da Rússia, o Kremlin também não divulga há várias semanas o número de militares mortos, sendo que o último balanço oficial foi divulgado no final de março e, na altura, o regime de Vladimir Putin deu conta de cerca de 1350 soldados mortos - um número que os observadores internacionais consideraram estar manifestamente abaixo da realidade.
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A Ucrânia afirma que a Rússia já terá sofrido mais perdas com esta invasão do que em toda a guerra do Afeganistão – entre 1979 e 1989. As autoridades ucranianas falam em 27 mil soldados russos mortos. Apesar de não ser possível apurar um número real, a maioria dos soldados de Moscovo que já morreram serão jovens, com idades entre os 21 e os 23 anos, provenientes de regiões rurais e inseridos em contextos socioeconómicos mais vulneráveis.
O coronel Mendes Dias não tem dúvidas: "Há muito mais vítimas do que as que foram anunciadas. Parece-me que há mais perdas russas do que ucranianas, até porque ucranianos estão na defensiva", sublinha. No entanto, nota que "nem sempre quem tem mais baixas é aquele que perde. Na maior parte dos casos isso não acontece".
4. Quantos refugiados a guerra já provocou?Desde o início da invasão, mais de 6 milhões e 552 mil pessoas já fugiram da Ucrânia, sobretudo para países da Europa que estão mais próximos da fronteira. Os dados são das Nações Unidas e revelam que a Polónia é o país que recebeu um maior número de refugiados (mais de 3 milhões e 500 mil), seguindo-se a Roménia, com 961 mil.
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Mais de 900 mil ucranianos também foram para a Rússia, segundo o Kremlin, mas não se sabe em que circunstâncias, e há relatos de que muitos terão sido forçados. Numa entrevista à CNN Portugal, a diretora executiva da Amnistia Internacional da Ucrânia falou em pessoas que “eram literalmente retiradas de, por exemplo, Mariupol ou aldeias à volta, e enviadas para um lugar na Rússia”.
Apesar do cenário de guerra, mais de dois milhões de ucranianos já regressaram ao país desde 28 de fevereiro (quatro dias após o início da invasão).
5. Kiev é ou não um alvo para a Rússia?Inicialmente, a capital da Ucrânia parecia ser um dos alvos da Rússia nesta invasão, mas agora os combates têm-se concentrado no leste do território. “A Rússia traçou objetivos impossíveis o que fez com que se reagrupasse. A estratégia da Rússia neste momento é essa concentração no Donbass. Não estou certa de que essa concentração tenha sido pensada. Penso que houve a necessidade de encontrar uma nova forma de não perder esta guerra, não a perder completamente e de alcançar alguns objetivos”, frisa Diana Soller, que acrescenta que “foi a Ucrânia que obrigou a Rússia a repensar” os seus objetivos.
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Opinião diferente tem o coronel Mendes Dias, para quem Kiev "nunca foi um alvo". "Do ponto de visto de forças, terá sido um eixo secundário a apoiar eixos principais no Donbass", sublinha. O especialista em assuntos militares considera que o objetivo não era tomar a capital ucraniana, mas sim decapitar o governo: "Eliminar Zelensky e as pessoas que o aconselham". Para o coronel, os principais objetivos de Moscovo são fazer o contorno de terreno no leste da Ucrânia e a conquista de territórios até ao eixo Sloviansk - Kramatorsk, que permitam formar "duas repúblicas" do tamanho equivalente a duas vezes Portugal continental: "uma República de Kherson e outra do Donbass".
6. A Ucrânia está a receber ajuda?A Ucrânia tem insistido na necessidade de ajuda financeira para resistir à invasão russa nas suas mais variadas vertentes: necessita de dinheiro para combater, mas também para manter os hospitais e outros serviços básicos a operar.
Desde que começou a guerra, os EUA já enviaram mais 3,8 mil milhões de dólares em armamento. Mas, recentemente, o Congresso norte-americano aprovou um pacote de ajuda que ronda os 40 mil milhões de dólares, dos quais 20 mil milhões serão destinados a aumentar a produção de stock de armas. Parte da verba será também usada para auxiliar o governo de Kiev em termos económicos e humanitários.
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Este novo pacote de ajuda segue-se a outros já enviados pelo Ocidente. Esperam-se ainda mais 18,4 mil milhões de dólares (perto de 17,5 mil milhões de euros) por parte do G7, que também esta quinta-feira aprovou uma ajuda nesse montante. Sabe-se que, desses, 9 mil milhões de euros vão chegar da União Europeia.
7. Quanto tempo a guerra ainda vai durar?Esta é a pergunta para um milhão de dólares. E há vários fatores em jogo. Diana Soller considera que vai depender da “resistência da Ucrânia” e que “de há dois ou três dias para cá a resistência parece desmoralizada”. Por outro lado, vai pesar também a vontade política russa em manter esta guerra e as próprias capacidades do regime de Vladimir Putin.
O coronel Mendes Dias também não arrisca uma previsão. "Só poderemos começar a contabilizar tempo depois de saber o resultado da ofensiva russa até Sloviansk e Kramatorsk", frisa.
8. Que consequências terá esta guerra para a segurança da Europa?PUB
Ao nível da segurança “já sabemos que a NATO se está a transformar”, frisa Diana Soller, numa alusão ao alargamento da aliança atlântica com os pedidos de adesão da Finlândia e da Suécia. A investigadora destaca a “perceção da ameaça russa por parte da Europa”, com os países a terem “a sensação de que estão mais inseguros do que o que estavam” e a reforçarem o investimento na Defesa. A investigadora lembra que a Alemanha, por exemplo, anunciou investimentos que lhe vão permitir constituir “o maior exército europeu”. “Durante muitos anos, não voltaremos a olhar para a Rússia sem ser com desconfiança”, afirma Diana Soller.
No entanto, o coronel Mendes Dias nota que "os exércitos e as Forças Armadas em geral demoram muito tempo a construir" e, no caso de Portugal, não perspetiva grandes progressos em termos de reforço a breve trecho. Para o especialista, o maior desafio será atrair jovens para as carreiras militares.
9. E para a economia?PUB
Em termos económicos também já há consequências, com a subida da inflação e dos preços. "Vamos entrar numa fase económica muito complicada com o esforço de guerra”, começa por dizer Diana Soller. “Alguns países terão de mudar gastos de outros setores para o setor de Defesa e o próprio corte do gás russo e a tentativa europeia de acabar com a sua dependência vai ter custos económicos muito grandes”, vinca.
10. Poderá haver mais guerras como esta?A investigadora Diana Soller alerta que esta guerra “poderá ter reedições no futuro”. “Houve uma guerra civil na Chechénia e que já teve várias reedições, houve a guerra da Geórgia, houve a primeira guerra da Ucrânia em 2014. Em nenhuma destas guerras, Putin ficou satisfeito. A menos que a Rússia tenha uma derrota verdadeiramente decisiva, vamos ter sempre a hipótese de voltar a ver a Rússia ressurgir”.
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