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O maior cego é aquele que não quer ver

Em que tipo de pensamento logicamente estruturado se baseiam alguns políticos e estrategas ao advogarem que proporcionar a Putin mais território hoje, poderia satisfazê-lo ao ponto de o dissuadir de futuras aventuras expansionistas?

Pois bem, em 2014 a “cedência” da Península da Crimeia ao autocrata russo não satisfez suficientemente a sua avidez de alargamento territorial ao ponto de o impedir de invadir a Ucrânia, em maior escala, em 24 de fevereiro de 2022.

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Assim, também não me parece que a ideia de Henry Kissinger de ceder território, que à luz do ordenamento jurídico internacional pertence por direito à Ucrânia, possa beneficiar a paz numa perspetiva de médio e longo prazo.

Foi um conceito semelhante que levou Kissinger a propor ao executivo norte-americano, por alturas do verão quente de 1975, deixar Portugal cair na esfera de influência da então União Soviética, no intuito maquiavélico de servir de exemplo aos outros países da Europa ocidental.

De facto, o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, nessa altura como hoje, continua a alimentar uma visão estreita quanto a possíveis soluções entre conflitos, preferindo caminhos mais curtos e mais imediatistas. Este tipo resoluções conduz, em regra, a estados precários de vivência pacífica em detrimento das soluções de paz duradoura. Soluções essas, a meu ver, capazes de resolver de forma mais perene os diferendos.

As últimas iniciativas políticas e diplomáticas do eixo franco-alemão, um pouco na continuação das propostas de Mario Draghi, parecem enfermar do mesmo tipo de aproximação imediatista. No meu ponto de vista, a forma precipitada e pouco firme como Scholz e Macron o estarão a fazer não defende a paz e a prosperidade da europa de forma sustentada no tempo.

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É justamente em tempos de crise como este que atravessamos, que nos vêm à memória estadistas como Winston Churchill que com a sua experiência de várias guerras, foi capaz de ver mais além e desconfiar dos benefícios das soluções de curto prazo.

Churchill criticou duramente e de pronto Neville Chamberlain, então primeiro-ministro britânico, que em conjunto com Édouard Daladier e Benito Mussolini, assinaram o famoso Acordo de Munique a 30 de setembro de 1938.

Este acordo baseado na então conveniente “política de apaziguamento”, outorgava a Berlim o controlo efetivo dos “Sudetas” e da Checoslováquia como um todo, desde que Hitler prometesse que essa seria a última reivindicação territorial.

A ideia era a de saciar o impulso expansionista do III Reich, contudo e como bem sabemos o efeito foi exatamente o contrário.

Mesmo sabendo que a história muito dificilmente se repete, temos a obrigação de ser suficientemente cautelosos procurando não cometer os erros do passado, buscando outros caminhos que assegurem verdadeiramente a paz numa perspetiva duradoura.

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Aceitar de bom grado as sucessivas mentiras e ardis de Vladimir Putin, vergando-nos às suas condições e reivindicações intoleráveis, acabarão por colocar as potências ocidentais numa clara debilidade que terminará por estimular o Kremlin a ampliar a sua geografia. Isto logo que surja a oportunidade e o seu potencial bélico se encontre refeito.

Os líderes europeus deveriam abandonar o pensamento imediatista, e deixar por ora as suas agendas políticas internas, colocando em primeiro lugar a segurança e a paz na Europa, como condição primeira para o progresso e bem-estar dos seus cidadãos, mesmo que isso nos obrigue a todos a sacrifícios adicionais no curto prazo.

A Federação Russa, desde a ascensão ao poder de Putin, vem dando sinais fortes e claros quanto aos seus objetivos expansionistas.

Como diz o nosso povo e muito bem “o maior cego é aquele que não quer ver”

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