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Psicologia em tempo de guerra. Por um Mundo seguro e pacífico

"Psicologia em tempo de guerra", uma rubrica para ler no site da CNN Portugal

Em tempo de guerra, o ramo da psicologia que melhor explica o que se está a passar e prepara para a reconstrução de infraestruturas e laços é a Psicologia da Paz, que tem vindo a estudar os processos mentais e os comportamentos que visam a prevenção e mitigação de violência direta e estrutural, que promovem a gestão não violenta do conflito e a busca pela justiça social, respeito e dignidade, peacemaking e peacebuilding, respetivamente.

Importa reconhecer que a guerra ou o conflito armado (mesmo que ardilosamente se denomine de “operação militar especial”) afeta psicologicamente todos - a população dos países diretamente envolvidos no conflito e a população dos países acolhedores, que acompanham o conflito à distância -, pois, para além do trauma psicológico dos envolvidos na guerra, temos o trauma vicariante dos que sofrem ao perceber a aleatoriedade de toda a situação, por mais distante que pareça.

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O Presidente Emmanuel Macron admitiu que está à nossa frente uma crise para durar, pelo que será necessário tornar a sociedade resiliente ao desgaste psicológico resultante do prolongamento de uma crise (pois já nos encontramos numa há dois anos). Quando um acto de agressão, como a invasão de um país, acontece a tendência é de considerar o líder agressor um “louco”, com todo o estigma que a saúde mental continua a acarretar, para assim diminuir a perceção de ameaça e aumentar a esperança numa rápida resolução. No entanto, diversas são as provas de planeamento estratégico a longo prazo, o que mais tarde ou mais cedo fará com que esta estratégia de coping não seja suficiente, uma vez que o conflito poderá adaptar-se mas não desaparecer. Para além de preparar as condições para o acolhimento da população diretamente afetada (estima-se que 5 milhões de refugiados), importa apoiar a população de acolhimento.

Nesse sentido, é necessário reforçar o apoio psicológico disponibilizado à população portuguesa, pois as pessoas com alguma vulnerabilidade psicológica (como ansiedade, depressão, esquizofrenia, perturbação bipolar, etc.) tendem a ver a sua saúde mental a agravar-se. Também os pais devem procurar diminuir a exposição dos filhos mais novos às notícias, procurando informar-se nos momentos em que as crianças não estão presentes ou em meios de comunicação digitais, que possam ser acessados individualmente. Outros, ainda, necessitam de sentir-se parte da solução, originando ou juntando-se a iniciativas de solidariedade social ou manifestações de apoio.

Mas o papel do Estado português não pode esgotar-se na remediação ou diminuição do impacto do trauma psicológico. É fundamental que, finalmente, se ocupe da prevenção das reinvindicações da população de acolhimento, típicas nestas situações, pelo aumento do esforço pedido à população. Antecipando dificuldades económicas, crise de combustíveis e de bens alimentares, não basta anunciar políticas europeias e nacionais.

Finalmente recordo que da Psicologia da Paz faz parte a análise dos padrões de violência e as suas motivações, pelo que não seria possível deixar de relembrar que a cada “distração” europeia, que implica um menor envolvimento e/ou apoio da União Europeia aos seus vizinhos do Sul, verifica-se um avanço do Daesh em território africano. Portugal não pode, portanto, esquecer o povo irmão moçambicano, em conflito armado direto em Cabo Delgado, com quase 1 milhão de deslocados internos.

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