Uma cirurgia para tratar problemas de audição, dificuldades em respirar ou complicações nos ouvidos e na garganta pode levar mais de dois anos a ser feita no Serviço Nacional de Saúde. Há hospitais, como o Egas Moniz, em Lisboa, onde uma operação para a obesidade demora mais de um ano. E outros, como no Hospital de Portimão, no Algarve, onde o tempo de espera para ter uma vaga para ir ao bloco operatório tratar doenças da mama ultrapassa os 500 dias, ou seja, mais de 16 meses. A pior situação vive-se, porém, em Faro. Aqui, um utente tem de ficar 823 dias (27 meses) na lista para ser operado a um problema nos dentes.
As listas de espera demoradas repetem-se de norte a sul do país, atingem várias especialidades e afetam todas as idades, incluindo crianças. Há casos, como o do Hospital de Setúbal, com cirurgias pediátricas que demoram, em média, 508 dias até serem feitas.
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Outros exemplos: as cirurgias para cataratas ou doença distrófica da córnea, ou as cirurgias vasculares para doenças das artérias, veias e linfáticos, podem implicar um ano na fila.
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As informações constam do site do Serviço Nacional de Saúde e foram analisadas pela CNN Portugal e pela TVI. Ao todo, Portugal tem atualmente 203.051 pessoas no Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), segundo os dados referentes a janeiro de 2022 disponibilizados pelo Portal da Transparência.
Uma em cada cinco pessoas já ultrapassou tempos clínicosNas listas, há duas situações diferentes: os que esperam dentro do que é considerado aceitável tendo em conta os critérios clínicos e os que já esperam além desse limite. Das cerca de 200 mil pessoas nas listas, pelo menos 42 mil pessoas na Lista de Inscritas em Cirurgia já ultrapassaram os “tempos máximos de resposta garantidos” (TMRG) definidos clinicamente. O tempo médio de espera considerado aceitável é de 180 dias - seis meses - para cirurgias não urgentes e não oncológicas.
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Dentro dos tempos máximos de resposta garantidos (TMRG) estão 161.328 utentes na Lista de Inscritos em Cirurgia (LIC). Ou seja, uma em cada cinco pessoas em espera já ultrapassou os tempos recomendados em termos clínicos.
“Vejo esta situação com enorme preocupação, porque não sendo situações de emergência - aí o sistema acaba por dar resposta -, afeta a vida das pessoas, particularmente os mais frágeis que têm mais dificuldade em recorrer ao privado”, diz Jorge Roque Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM). Por exemplo, “uma pessoa que tenha um problema sério no joelho, não consegue andar bem, não consegue trabalhar, fica de baixa durante meses”.
Comparando com os valores pré-pandemia, no final de 2019 estavam 242.949 utentes em LIC, e em 2018 eram 244.501. O número de pessoas em lista de espera para serem operadas nos hospitais públicos é assim ligeiramente inferior àquela altura, tal como se pode observar no Relatório Anual de Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do SNS e Entidades Convencionadas em 2020, o mais recente até à data.
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O número de utentes em lista de espera para cirurgia é elevado e, tal como o tempo de espera, é uma realidade de norte a sul do país. A CNN Portugal analisou a informação do site do Serviço Nacional de Saúde relativa aos tempos de espera e listou aqueles os 25 tempos de espera mais longos do país. É em Lisboa e Vale do Tejo que a situação parece mais complexa.
As 25 listas de espera mais longas do paísFonte: Tempos Médios de Espera do site do Serviço Nacional de Saúde
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