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Do pedido de Zelensky, às negas da NATO. "No-fly zone" na Ucrânia seria "o início da Terceira Guerra Mundial"

O que é a "no-fly zone", porque a deseja tanto o presidente ucraniano e porque não a recebeu até agora. Jen Psaki, Boris Johnson e Jens Stoltenberg tiveram uma resposta concertada e unânime: não. Os países pertencentes à NATO consideram que não seria possível fechar o espaço aéreo ucraniano sem abater aviões russos

“Pedi aos presidentes Biden, Scholz e Macron e perguntei-lhes: se não nos podem providenciar uma 'no-fly zone', então digam-nos, quando poderão?”. O pedido tem sido feito constantemente pelo presidente da Ucrânia. Desta vez, foi durante uma conferência de imprensa, quinta-feira, e os destinatários eram Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França) e Olaf Scholz (Alemanha). A resposta também tem sido sempre a mesma, e unânime: não.

Durante estes 10 dias de invasão russa, o tema tem vindo a ser recorrente. O presidente ucraniano, e outras autoridades do país, não se cansam de fazer o apelo.

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“Se não conseguem dar aos ucranianos uma data, quanto tempo vão precisar? Quantas pessoas têm de ser bombardeadas? Quanto braços, pernas e cabeças terão de ser cortados para que vocês percebam? Eu próprio posso ir contá-los e esperamos até atingirmos o número necessário”, disse Zelensky, esta quinta-feira, numa mensagem emocionada.

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No entanto, tanto a União Europeia, como os Estados Unidos e o Reino Unido continuam a rejeitar a hipótese e não avançam qualquer data para dar esse passo. A razão apresentada é: “A NATO é uma aliança defensiva".

'No-fly zone' resultaria no abate de "vários aviões russos e numa consequente resposta"

Contactado pela CNN Portugal, o general Lionel Carvalho explica que aceitar a estratégia bélica requerida por Zelensky seria "o início da Terceira Guerra Mundial", uma expressão que tem vindo a ser referida por vários especialistas. O experiente militar lembra que as 'no-fly zones' só foram implementadas no "espaço aéreo de alguns países neutros durante a Segunda Grande Guerra, mas não mais do que isso".

De acordo com o especialista, esta é uma medida em que ficaria a cargo da NATO garantir que nenhuma aeronave, que não fosse de bandeira ucraniana, entrasse no espaço aéreo da Ucrânia. Algo que, perante o atual cenário geopolítico da região, resultaria no abate de vários aviões russos e numa consequente resposta da armada de Vladimir Putin, justifica.

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O general realça, no entanto, que a Ucrânia tem o direito de abater qualquer aeronave russa que entre no seu espaço aéreo, como "têm estado a fazer quer com ataques terrestres, como aéreos.

O especialista sublinha que a NATO nunca irá implementar uma "no-fly zone" sobre o espaço aéreo ucraniano a não ser que seja anteriormente provocada.

“A NATO não pode e nunca vai aceitar isso, porque seria o pretexto que daria à Rússia legitimidade para atacar países da aliança. É preciso muito, mas mesmo muito cuidado com esta estratégia militar, por isso, tanto União Europeia, como os EUA e o Reino Unido já se mostraram claramente contra. (...) Seria abater os aviões que entrassem no espaço aéreo ucraniano e isso, como é evidente, desencadearia uma Terceira Guerra Mundial”, explica, à CNN Portugal.

União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos recusam 

A reação europeia, norte-americana e britânica foi concertada e unânime: "Não está na agenda de nenhum país da NATO". Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, recusam a 'no-fly zone', mas todos alertam Putin que estão dispostos a "defender e proteger cada centímetro" do território pertencente à aliança.

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Na quinta-feira, Charles Michel explicou que a recusa europeia se prende com o facto de a medida ser "um passo demasiado longe", com um enorme "risco real de escalada de violência". "Temos de fazer tudo o que esteja ao nosso alcance e que se seja possível, tendo em conta que a Rússia tem armas nucleares e é muito importante evitar uma Terceira Guerra Mundial", referiu.

"Quanto à 'no-fly zone' nos céus sobre a Ucrânia, temos de aceitar que a realidade envolve abater aviões russos. Isso é um passo muito, muito grande e, simplesmente, não está na agenda de nenhum país da NATO", explicou Boris Johnson, na conferência dada esta terça-feira, na Estónia.

Também Jen Psaki lembra que uma 'no-fly zone' iria "requer uma implementação por parte do exército norte-americano", o que na prática significaria que "as forças armadas dos EUA teriam de abater aviões russos". "São estas as razões pelas quais consideramos que não seja uma boa ideia”, diz a porta-voz da Casa Branca, destacando, no entanto, a "coragem incrível" do presidente Zelensky, do povo da Ucrânia e dos militares ucranianos, que "têm conseguido fazer frente a um dos exércitos com maior poderio no planeta”.

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"É evidente que é uma escalada de violência e que colocaria os EUA num cenário de conflito militar com a Rússia, algo que o presidente não quer", afirma a porta-voz da Casa Branca.

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Por seu lado, Jens Stoltenberg, responsável máximo da NATO, explicou, esta sexta-feira, que a aliança militar rejeitou o pedido da Ucrânia para que o seu espaço aéreo seja encerrado, considerando que, se tal acontecesse, "seria a guerra total na Europa". "Compreendemos o desespero, mas também acreditamos que, se o fizéssemos [estabelecer uma zona de exclusão aérea], acabaríamos com uma situação que poderia levar a uma guerra total na Europa, envolvendo muitos mais países", disse Jens Stoltenberg aos jornalistas, no final da reunião extraordinária do Conselho do Atlântico Norte, em Bruxelas.

"Os aliados concordam que não deve haver aviões da NATO no espaço aéreo da Ucrânia, nem tropas no seu território. Temos a responsabilidade de evitar que esta guerra escale para lá da Ucrânia, porque isso seria ainda mais perigoso, mais devastador e causaria ainda mais sofrimento humano", afirmou o secretário-geral da NATO.

Perante a posição europeia e norte-americana, o presidente da Ucrânia pediu uma alternativa: “Se não têm a força para providenciar uma no-fly zone, então deem-me aviões. Não seria isso justo?”. Zelensky lembrou que os ucranianios só querem a "no-fly zone, porque o povo está a ser abatido" e deixa um aviso: "Da Bielorrússia, da Rússia, estes mísseis, estes mísseis Iskander e os aviões bombardeiros, estão a chegar”.

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