Às vezes Roger Schmidt tem umas ideias e às vezes fica difícil compreender o treinador do Benfica.
Depois da saída de Gonçalo Ramos, em Agosto do ano passado, que era um elemento essencial no futebol de pressão alta desenvolvido pelos “encarnados”, a valer-lhes rasgados elogios — confesso que é o tipo de futebol que mais gosto —, o Benfica entrou numa espécie de debate em relação ao titular para a posição de ponta-de-lança, porque Arthur Cabral, a solução achada para fazer esquecer Ramos, chegou pesado, sem mobilidade, ao ponto de se achar que o Benfica se tinha equivocado completamente na contratação.
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Schmidt entrou então no elevador dos pontas-de-lança, Musa para cima, Musa para baixo, Tengsted para cima, Tengsted para baixo, aqui e ali algumas experiências (poucas) com um ataque móvel, nada parecia resultar, pelo menos em permanência e o Benfica viu-se na contingência de contratar mais um ponta-de-lança, neste caso Marcos Leonardo, a suscitar em sequência a venda de Musa.
Entretanto, foram sendo dadas mais oportunidades a Arthur Cabral e, agora, quando vinha marcando nos últimos 3 jogos (Amadora, Gil Vicente e Vizela), foi colocado no banco, quando a sua evolução e as condições meteorológicas em Guimarães menos o recomendavam, para dar entrada a um… ataque móvel (quarta vez estar época), com Di Maria e Rafa mais adiantados.
Ataque móvel, sim, num quadro de falência dos pontas-de-lança, que já existiu mas não é agora o caso.
Guimarães, chuva, campo difícil, pesado, bola a não rolar com
dificuldade em certas zonas do terreno.
Ataque móvel e leve, não, num terreno pesadíssimo como o de Guimarães.
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Estranhíssimo.
Não sei se Roger Schmidt não acredita muito que chova em Portugal ou não tem ninguém que lhe mostre e boletim metereológico, mesmo antes de ver com os seus próprios olhos que estava mesmo a chover em Guimarães e o relvado se apresentava muito encharcado, e a sensação que se colheu é que Schmidt terá preparado o jogo a pensar num contexto de futebol corrido, em tapete seco, sem adesão à realidade.
Foi manifesta a inadaptação do Benfica ao jogo e às características do adversário (com um Jota muito forte nas arrancadas) e foi com Arthur Cabral em campo que, já na parte final, quase in extremis, o Benfica chegou à igualdade, com um golo (quarto jogo consecutivo a marcar) do ponta-de-lança brasileiro.
O “Benfica de Schmidt”, na primeira época, era forte, destemido, empolgante e, na Europa, após mais um grande desempenho, nesse caso frente à Juventus, chamei-lhe a “Nova Senhora” (em contraponto com a vecchia signora italiana) do futebol português.
Abre-se o armário do “Benfica de Schmidt” desta segunda época e apenas se veem uns apontamentos de alta costura. Rafa e Di Maria, desde logo, nos adereços mais vistosos, João Neves na louca função de acorrer a todas as encomendas e Aursnes nas bainhas.
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Deixem-me que lhes diga mas o alfaiate alemão tem tecido a mais e não está a saber fazer uma camisola.
Ou, se quiserem, tecido a mais quando no fundo só falta coser os botões…
Agora já tem mais uma solução para o corredor esquerdo, a partir de trás, Álvaro Carreras, mas continua à espera das condições ideais de pressão e temperatura (que tem na cabeça) para afirmar o jovem lateral espanhol.
Com o regresso de Bah, Schmidt tem tudo para eliminar a ‘red zone’ das laterais (Bah de um lado e Carreras do outro) e já tem mais um ponta-de-lança (Marcos Leonardo), para além de um Arthur Cabral finalmente mais útil, só falta portanto coser o fato… rematar… como poderia dizer a Beatriz Costa, mas o alfaiate não tira o raio do dedal, é mais uma agulha, é mais um botão, é mais uma costura e estamos em Fevereiro e o fato nunca mais está pronto.
Dir-se-à que o Benfica está na luta pela revalidação do título, mas com este guarda-fato - tão cheio de peças - não se pode ter a sensação de que Schmidt não tem nada para vestir. Tem coleção de Verão e Inverno e passa a imagem de… prateleiras vazias.
Alguém fala com o alfaiate?
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