A decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que anulou o marco histórico da decisão Roe v. Wade de 1973 que reconhecia o direito constitucional de uma mulher a um aborto e o legalizou a nível nacional dividiu novamente um já fraturado país e, através das redes sociais, líderes internacionais, músicos, celebridades e várias figuras públicas reagiram à notícia, a maior parte manifestando repúdio mas também houve quem mostrasse contentamento.
Uma das mensagens mais expressivas veio de Monica Lewinsky, a ativista e autora que protagonizou um escândalo sexual com Bill Clinton, utilizou o Twitter para nomear cada um dos juízes republicanos do Supremo responsáveis pela reversão do direito constitucional ao aborto - colocando um “fuck you” por trás de cada nome.
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fuck you roberts.
fuck you thomas.
fuck you alito.
fuck you kavanaugh.
fuck you gorsuch.
fuck you coney barrett.
— Monica Lewinsky (she/her) (@MonicaLewinsky) June 24, 2022
Já o escritor Stephen King, a mente por trás de The Shining e Carrie, fez uma alusão à série “A história de uma Serva”, onde é retratada uma sociedade totalitária no pós-Estados Unidos que é governada por um regime fundamentalista que trata as mulheres como propriedade do Estado.
Welcome to THE HANDMAID’S TALE.
— Stephen King (@StephenKing) June 25, 2022
Nos bastidores políticos, o estado norte-americano da Califórnia foi um dos que se movimentou mais rapidamente para contrariar o fim da Roe vs. Wade. Pouco depois da decisão ser tomada, o governador Gavin Newsom assinou o Projecto de Lei 1666 da Assembleia, que se destina a proteger os pacientes e os prestadores de serviços que tenham ou assistam a um aborto na Califórnia de serem processados noutros estados com proibições de aborto. “O aborto é legal na Califórnia. Continuará a ser assim. Acabei de assinar um projecto de lei que faz do nosso estado um porto seguro para as mulheres de todo o país. Não iremos cooperar com nenhum estado que tente processar mulheres ou médicos por receberem ou prestarem cuidados reprodutivos”, escreveu no Twitter.
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Abortion is legal in California.
It will remain that way.
I just signed a bill that makes our state a safe haven for women across the nation.
We will not cooperate with any states that attempt to prosecute women or doctors for receiving or providing reproductive care.
— Gavin Newsom (@GavinNewsom) June 24, 2022
À Reuters, Tedros Adhanom Ghebreysus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, afirmou estar “muito desapontado, porque os direitos das mulheres devem ser protegidos. E eu esperava que a América protegesse esses direitos." Na mesma linha, Stephane Dujarric, porta-voz de António Guterres, secretário-geral da ONU, garantiu que “ a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos são a base de uma vida de escolha, empoderamento e igualdade para mulheres e meninas do mundo”, reiterando que “restringir o acesso ao aborto não impede as pessoas de procurar o aborto, apenas o torna mais mortal".
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Também Hillary Clinton escreveu que a decisão do Supremo é “um retrocesso para os direitos das mulheres e os direitos humanos”. "A maioria dos americanos acredita que a decisão de ter um filho é uma das decisões mais sagradas que existem, e que tais decisões devem permanecer entre os pacientes e os seus médicos”, acrescentou.
Most Americans believe the decision to have a child is one of the most sacred decisions there is, and that such decisions should remain between patients and their doctors.
Today’s Supreme Court opinion will live in infamy as a step backward for women's rights and human rights.
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) June 24, 2022
Os líderes da União Europeia também condenaram, quase em uníssono, a decisão do Supremo. António Costa admite que ficou “dececionado”, Emmanuel Macron manifestou a sua solidariedade “com todas aquelas mulheres cujas liberdades foram comprometidas pelo Supremo Tribunal dos Estados Unidos" e Pedro Sánchez refere que “não podemos dar por adquirido nenhum direito”. Boris Johnson, por sua vez e em entrevista à BBC, diz que a decisão de reverter o marco judicial Roe vs Wade reforça a sua crença “no direito de escolha da mulher”.
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Impossível não ficar dececionado com a decisão do Supremo Tribunal dos EUA que abre caminho à ilegalização do aborto. Sempre defendi que não se podem criminalizar questões da consciência política, religiosa e ética. São direitos das mulheres, que todos os Estados devem respeitar.
— António Costa (@antoniocostapm) June 24, 2022
L'avortement est un droit fondamental pour toutes les femmes. Il faut le protéger. J’exprime ma solidarité avec les femmes dont les libertés sont aujourd’hui remises en cause par la Cour suprême des États-Unis d’Amérique.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) June 24, 2022
No podemos dar por sentado ningún derecho. Las conquistas sociales siempre están en riesgo de retroceder y su defensa tiene que ser nuestro día a día.
Las mujeres deben poder decidir libremente sobre sus vidas. https://t.co/ujQJk1SPT0
— Pedro Sánchez (@sanchezcastejon) June 24, 2022
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Numa publicação partilhada na sua página do Twitter, Taylor Swift expressou a sua indignação com a decisão do Supremo Tribunal. "Estou absolutamente aterrorizada por estarmos aqui - que depois de tantas décadas de luta pelos direitos das mulheres ao seu próprio corpo, a decisão de hoje nos tenha despojado disso".
I’m absolutely terrified that this is where we are - that after so many decades of people fighting for women’s rights to their own bodies, today’s decision has stripped us of that. https://t.co/mwK561oxxl
— Taylor Swift (@taylorswift13) June 24, 2022
No mesmo sentido, a estrela pop Mariah Carey escreveu sobre como foi falar do assunto com a sua filha de 11 anos. "É verdadeiramente incompreensível e desanimador ter de tentar explicar à minha filha de 11 anos porque vivemos num mundo onde os direitos das mulheres se estão a desintegrar diante dos nossos olhos".
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It is truly unfathomable and disheartening to have to try to explain to my 11 year old daughter why we live in a world where women’s rights are disintegrating in front of our eyes.
— Mariah Carey (@MariahCarey) June 24, 2022
Por outro lado, a apresentadora de televisão e antiga juíza e procuradora do Estado de Nova Iorque, Jeanine Pirro falou a favor da decisão num Tweet. "O Supremo Tribunal não retirou o chamado 'direito' ao aborto", escreveu Pirro. "Deixaram ao critério dos Estados e do povo a decisão. Não é isso democracia?"
The Supreme Court did not take away the so-called “right” to abortion - they left it up to the states and the people to decide. Isn’t that democracy?
— Jeanine Pirro (@JudgeJeanine) June 24, 2022
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Donald Trump Jr., o filho mais velho do antigo Presidente Donald Trump, escreveu no Twitter que estava "orgulhoso" do seu pai, que esteve no cargo de 2017 a 2021, pelo "que ele conseguiu hoje".
When nearly any other Republican President would have folded to the pressure from the left and the media, Donald J. Trump stood by Kavanaugh and refused to budge. And today, conservatives just got our biggest win from the Supreme Court in a generation.
— Donald Trump Jr. (@DonaldJTrumpJr) June 24, 2022
Trump disse também à Fox News que a decisão "vai funcionar para toda a gente". "Isto é seguir a Constituição, e devolver direitos quando já deveriam ter sido concedidos há muito tempo", disse Trump. "Isto traz tudo de volta para os estados onde sempre pertenceu".
Também o ex-vice-presidente republicano Mike Pence apoiou a decisão, referindo que, "agora que Roe v. Wade foi anulado para o monte de cinzas da história, uma nova arena na causa da vida emergiu e cabe a todos os que acarinham a santidade da vida garantir que defendemos as crianças".
A Academia para a Vida do Vaticano aclamou, na sexta-feira, a decisão do Supremo Tribunal sobre o aborto, dizendo que desafiou o mundo a refletir sobre questões existenciais e ainda surge como um grito de ajuda para que as mulheres possam manter os seus filhos. Em comunicado, o Vaticano enaltece ainda que a defesa da vida humana não se pode limitar aos direitos individuais, porque a vida é uma questão de “amplo significado social”.
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