Já fez LIKE no CNN Portugal?

Exclusivo. Paulo Raimundo explica porque não faz sentido ganhar mais de 750 euros, mesmo sendo líder do PCP

Paulo Raimundo não sabe dizer se teria feito alguma coisa de diferente do que fez Jerónimo de Sousa, mas tem a certeza de que, "dificilmente, teria feito melhor" e que até a geringonça foi "uma decisão certa"

Paulo Raimundo recebeu, no fim de semana, a passagem de testemunho de Jerónimo de Sousa depois de ter sido eleito secretário-geral do PCP. Olhando para trás, para o "legado pesado" de 18 anos deixado pelo antecessor, o líder comunista não mudava nada, nem mesmo a geringonça. 

Mesmo com este cargo de responsabilidade, e estando sempre o PCP a apelar ao aumento dos salários dos trabalhadores, o líder comunista fez questão de explicar, na entrevista exclusiva à CNN Portugal, porque é que não faz sentido ganhar mais de 750 euros. 

PUB

"Os funcionários do partido estão profundamente ligados à realidade social (...), mas também estão ligados do ponto de vista material. Portanto, cada vez que aumenta a inflação dos bens alimentares, nós também sentimos. Nós não falamos de cor dos problemas, falamos porque também o sentimos. Com uma garantia: quanto mais rápida for a evolução salarial do conjunto dos trabalhadores portugueses, mais rápida é a evolução salarial dos funcionários do partido."  

Olhando para trás, admite que o partido perdeu eleitores, deputados e câmaras nas últimas legislativas e que isso pode ter sido uma das consequências da aliança com o PS, mas que "foi uma decisão certa". 

"É possível [que tenha sido penalizador para o PCP]", mas "não abdicamos daquilo que fizemos em 2015, foi uma decisão certa que tomámos na altura e não estamos arrependidos." 

PUB

Paulo Raimundo não sabe dizer se teria feito alguma coisa de diferente do que fez Jerónimo de Sousa, até porque "cada momento é um momento". Contudo, não deixa de ter pelo menos uma certeza: "Dificilmente teria feito melhor." Reconhece que tem agora nas mãos a responsabilidade de continuar um legado com "uma carga pesada", mas "desafiante". 

Há muito tempo que o partido comunista tem vindo a ser criticado por ter parado no tempo, talvez por isso muita gente olhe para Paulo Raimundo como a lufada de ar fresco que o PCP precisava. Contudo, o líder comunista não olha para a sua eleição com esses olhos. "Só se for na idade", diz entre risos. 

"Não acompanho essa ideia de que o PCP está parado no tempo, pelo contrário", afirma. 

Aos 46 anos - bem distante dos 75 de Jerónimo de Sousa -, Paulo Raimundo diz pertencer à geração "que viu o PCP e a CDU subirem eleitoralmente e descerem eleitoralmente". Por isso, tem consciência de que o caminho de um partido não é uma linha reta, nem tão pouco uma conquista constante de bons resultados. Ainda assim, não deixa de estar "confiante nas batalhas que vão ter pela frente".

PUB

"Queremos reforçar o partido, mas não é para ficarmos todos contentes por sermos mais, é para estarmos em melhores condições de ajudar, de dar ânimo às pessoas, dar-lhes esperança, porque nós não estamos condenados a um caminho de desastre nacional." 

A primeira ação política enquanto secretário-geral do PCP é já no próximo sábado, num comício, em Matosinhos, e há temas que vão estar sempre nos tópicos. "Vou falar nos salários baixos, porque é uma evidência. Vou falar na necessidade do aumento das reformas. Vou falar na necessidade de se conter os preços. Vou falar na necessidade disso tudo e também da luta contra o capital. Quanto a isso não há dúvida nenhuma." Mas vai haver uma novidade: "Também vou falar de uma outra coisa que foi muito evidente na nossa conferência nacional que é: como é que nós pomos toda a força daquela conferência no nosso dia a dia?" 

Paulo Raimundo olha para Portugal como um país com "problemas estruturais", ainda que possíveis de resolver, e admite que além do legado pesado que tem às costas, tem um "drama pessoal" em mãos. "Um dos meus maiores dramas pessoais, se posso assim dizer, é chegar a abril do próximo ano, porque é a altura em que se vai fazer a revisão do meu contrato de crédito a habitação. Estou de coração nas mãos para saber o que é que vai acontecer. Portanto, é normal que as pessoas reajam."

PUB