Melbourne, 20/01/2024. Nuno Borges, o tenista da Maia de 26 anos, fez história ao garantir a qualificação para os oitavos de final do Open da Austrália, batendo G. Dimitrov por 3-1. No final da partida, o jogador búlgaro reconheceu: “Ganhou a paciência e perdeu a ansiedade”.
Doha, 17/02/2024. Diogo Ribeiro tornou-se o primeiro português a conquistar duas medalhas de ouro nos Mundiais de natação, ao ser o mais rápido nas provas de 50 e 100 metros mariposa. Estas vitórias são um ponto de viragem numa história de vida difícil. Diogo perdeu o pai aos 4 anos. E, há poucos meses, sofreu um grave acidente de moto em Coimbra, que pôs em causa a sua carreira desportiva. “O acidente foi uma lição, tornou-me mais paciente. Deu-me força mental, acho que ganhei uma segunda vida".
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Duas histórias de quem treina todos os dias. Podemos aprender algo com a paciência deles?
A palavra paciência deriva do verbo latino pati, que, na sua essência, consiste na arte de saber sofrer, de suportar as contrariedades, que podem ser de três tipos.
As primeiras reclamam a nossa paciência com os outros, com os modos desagradáveis do parceiro, com o modo de reagir de um amigo. As segundas decorrem das nossas incapacidades: “Chego sempre atrasado”; “Por mais que tente, não consigo ter calma ao falar sobre aquele tema ou aquela pessoa”; “Voltei a deixar as chaves em casa”. E há contratempos que decorrem de circunstâncias externas: uma situação de desemprego que se arrasta há 7 meses ou a infelicidade de estar a chover nos dias em que marcamos as férias de Carnaval. Não vivemos no País das Maravilhas, como Alice. Mas sim na Terra dos Homens de que fala Saint-Exupéry.
Refletindo sobre a paciência sugiro duas rápidas experiências.
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S. Paulo escreveu um hino à caridade que enumera as qualidades do amor cristão, como quem apresenta as facetas de uma pedra preciosa. Recorda que a caridade é paciente e conclui, dizendo que a caridade tudo sofre. Somos impacientes. Queremos tudo para ontem e as impaciências podem levar-nos a duvidar da bondade de Deus.
Mas talvez a experiência seja diferente. Li num graffiti no Porto esta frase de Guimarães Rosa “Quando nada acontece há um milagre que não estamos a ver”. Quem vive de fé aprende a ver a realidade em 3D, a reconhecer a mão de Deus em tantos lugares onde, aparentemente, nada acontece. Ele permite que algo nos contrarie, sem que o entendamos. E isso, misteriosamente, contribui para o nosso bem. Como esse ditado, bem português, que recorda que “há males que vêm por bem”.
Num mundo acelerado, a paciência é uma terapia necessária. Estamos na quaresma, tempo que nos leva até à paixão de Jesus, o lugar da paciência de Deus que destrói a impaciência dos homens. Todos O podemos imitar: transformar o limão ácido das nossas impaciências em limonada capaz de refrescar os outros; reconduzir a energia incontrolável da nossa ira para projetos de superação pessoal. Estas são as lições de vida do Nuno e do Diogo. E podem ser também as suas. Que nos possam dizer muitas vezes: “ganhou a paciência e perdeu a ansiedade”, e que “a paciência nos deu uma segunda vida”.
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