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Mais de metade das mulheres sente que não estava preparada para a menopausa: falta informação e acompanhamento médico

As conclusões do estudo "Menopausa: como é vivida pelas mulheres portuguesas", apresentadas esta quarta-feira, mostram que ainda existem muitos preconceitos em relação ao tema. 64% das mulheres considera que esta é uma fase má ou muito má. No entanto, não falam com os médicos nem com os parceiros, preferindo procurar informação na internet

Informação. Isto é o que as mulheres portuguesas que já estão na menopausa consideram que mais falta lhes fez durante este processo. "Não foi acompanhamento médico nem dinheiro, embora ambas as coisas também tenham sido referidas e também sejam importantes. Quando questionadas sobre o que poderia ter contribuído para que se sentissem mais preparadas para esta fase da sua vida, a maioria das mulheres respondeu informação", explica Clara Cardoso, que, com Joana Barbosa, conduziu o estudo "Menopausa: como é vivida pelas mulheres portuguesas", realizado pela Return On Ideias em parceria com a Wells. 

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Mais de metade das mulheres inquiridas neste estudo e que estão a passar ou já passaram por esta fase sente que não estava preparada para a menopausa. 8 em cada dez não sabe ou tem dúvidas sobre a diferença entre perimenopausa e menopausa. "As mulheres habitam num enorme território de dúvidas", conclui Clara Cardoso. 

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61% das mulheres que estão na pré-menopausa não tenciona tomar nenhuma medida antes de ter sintomas. Das que já estão na menopausa, 38% não procurou acompanhamento médico quando se apercebeu dos sintomas ou demorou pelo menos um ano a fazê-lo.

Quando questionadas onde obtiveram informação sobre a menopausa, a maioria diz que fez pesquisas na internet (60%) e falou com amigas. A informação não chegou primordialmente através dos médicos - e essa é uma questão importante levantada por este estudo: por um lado, muitas mulheres não se sentem à vontade para abordar este tema em consulta, por outro lado, muitos clínicos não parecem disponíveis para dar atenção a este assunto. Muitas mulheres relatam que os médicos lhes dizem: "É assim, tem de aguentar", desvalorizando por completo as suas queixas.

"O que realmente me surpreendeu foi o desacompanhamento", diz Clara Cardoso à CNN Portugal, acrescentando: "Mesmo quando confrontadas com os sintomas .e quando partilham esses sintomas com os médicos, os processos às vezes são absolutamente caóticos. Há mulheres que estão anos a tratar a sintomatologia sem perceber que se relacionava com a menopausa. Passam de um médico para outro, mudam de pilula, vivem à base de chás, mezinhas e suplementos aconselhados por amigas, mas o que sentimos é que ainda há um grande preconceito em encarar este tema com naturalidade em contexto médico."

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 "Temos um sistema de saúde que não está verdadeiramente preparado para acompanhar as mulheres nesta fase da vida", conclui Joana Barbosa.

Neste estudo, realizado online e de forma anónima, foram inquiridas mil mulheres, entre os 45 e os 60 anos, formando um painel que se quis representativo da sociedade portuguesa, com mulheres de diferentes classes e regiões. Dessas, 32% encontravam-se em plena menopausa no momento do inquérito, 18% estavam na pré-menopausa, 32% na perimenopausa e 18% na pós-menopausa. Depois, foram escolhidas oito mulheres, entre os casos considerados mais graves, que foram entrevistadas em suas casas, de modo a recolher os seus depoimentos mais pormenorizados e personalizados. Os resultados foram apresentados esta quarta-feira na conferência "(Não) fica bem falar de menopausa", organizada pela Wells.

A primeira conclusão é óbvia: "Não há uma menopausa, mas várias menopausas. Cada mulher tem os seus sintomas, não é possível antecipar quais serão nem quando vão aparecer", dizem as autoras do estudo. No entanto, é possível saber que 9 em 10 mulheres tem sintomas. E 34% das mulheres inquiridas consideram esses sintomas intensos ou muito intensos.

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Principais sintomas referidos:

  • vasomotores (ondas de calor, suores noturnos, palpitações);
  • sexuais/genitais (diminuição da líbido, secura vaginal);
  • sono e energia (insónias, fraqueza e cansaço);
  • ossos e articulações (dores nas articulações, osteoporose);
  • corporais (gordura abdominal, aumento de peso);
  • urinários (incontinência urinária ligeira, infeções urinárias);
  • cognitivos (falta de memória, dificuldades de concentração),
  • emocionais (ansiedade, alterações de humor, depressão).

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"Tudo muda assim estrondosamente, de repente", declarou C., uma das mulheres inquiridas, com 51 anos, referindo "um mal estar terrivel, infelicidade profunda." Globalmente, 64% das mulheres considera que esta é uma fase má ou muito má e têm dificuldade em encontrar aspetos positivos.

Ao mesmo tempo, 46% das mulheres reconhece que a menopausa teve efeitos negativos na sua vida sexual e 37% refere a perda de líbido como uma das principais causas para uma vida sexual menos satisfatória. No entanto, 60% das mulheres não falou com o seu parceiro sobre este tema.

A falta de concentração e o cansaço são também muito comuns: 63% das mulheres refere a falha de memória como um dos principais sintomas, 22% diz que a menopausa afetou a produtividade no trabalho.

Uma mulher em cada 4 admite que a sua saúde mental nesta fase não é a melhor. "Há uma janela de vulnerabilidade e tendência para a depressão", afirma Clara Cardoso. Aliás, 39% das mulheres admite que a menopausa afetou a sua autoestima. 

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O que fazem as mulheres para lidar com estes problemas? Muito pouco, na verdade. "A ignorância sobre a menopausa retira às mulheres a possibilidade de atuar preventivamente (por exemplo, através de opções de estilos de vida), condenando ao sofrimento muitas que não conseguem identificar a origem dos sintomas", explicam as autoras no estudo agora divulgado.

Quanto às soluções, 73% das mulheres diz que não fez nenhum tratamento específico para a menopausa - muitas têm medicação aconselhada por médicos, mas não a tomam. Apenas 11% fez terapia hormonal

Além disso, 75% das mulheres considera ter peso a mais. No entanto, 55% não fez nenhuma alteração na alimentação e 49% não aumentou a prática de exercício após os 40 anos.

O estudo revela "défice de autocuidado". Sono e alimentação são, apesar de tudo, as áreas onde há mais empenho, "embora consistentemente se reconheça que se faz pouco ou menos do que se devia fazer".  "É preciso, de facto, falar com as mulheres e explicar-lhes as soluções que têm", diz Joana Barbosa. 4 em 5 mulheres consideram que este é um tema pouco falado. "Uma coisa que este estudo nos mostrou é que as mulheres querem falar da sua experiência, querem entrar em diálogo." Talvez se devesse aproveitar isso para passar a informação que tanto parece faltar.

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