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As novas medidas anticovid deviam ser aplicadas antes do Natal e 15 dias além do Ano Novo: o que os especialistas têm a dizer sobre o que Costa anuncia hoje

O Governo vai antecipar para 26 de dezembro as medidas que estavam previstas para 2 de janeiro. António Costa apresenta tudo ao país esta terça-feira, depois de um conselho de ministros extraordinário marcado também para hoje. Especialistas ouvidos pela CNN Portugal dizem que as medidas vêm tarde e que já deviam estar a ser aplicadas. E como não estão, ao menos que o sejam antes do Natal, defendem. Porquê? “Porque a maior parte dos contactos [de risco] faz-se nesses dias”

Algumas das medidas previstas para a primeira semana de janeiro, como o teletrabalho obrigatório sempre que as funções o permitam, podem entrar em vigor já a 26 de dezembro. Mais: vai ser imposta lotação máxima em discotecas e bares, a pensar nas festas de fim de ano, tal como vai ser anunciada a obrigatoriedade de realização de testes para entrar em festas de passagem de ano. Também nos centros comerciais vai ser imposta uma lotação máxima, com o período de troca de presentes de Natal a ser igualmente alargado para evitar aglomerações.

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Para Fernando Maltez, diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral, “faz sentido que haja medidas mais restritivas” e faria “todo o sentido antecipar as medidas e não esperar pelo que vai acontecer no Natal”. O médico infeciologista defende que “temos de ser proativos e não reativos” e que algumas das medidas em cima da mesa “já deveriam estar implementadas há mais dias”.

“Estamos face a um modificador de jogo e face a uma nova variante que vai levar a um aumento significativo dos casos nos próximos 15 dias. Teremos de adaptar a nossa resposta”, diz à CNN Portugal José Artur Paiva, médico especialista em Medicina Interna e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Já Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM), defende que pode não haver um “grande impacto” de algumas medidas, sobretudo as que dizem respeito aos bares e discotecas, “porque a maior parte dos contactos [de risco] faz-se no Natal”. Porém, o também professor de Biologia diz que adotar medidas apenas em janeiro, como estava primeiramente previsto, podia ser ainda pior.

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“A medida de janeiro sempre teve um fator menos compreensível, que era o facto de ser muito em cima da passagem de ano e o facto de eventuais contágios de convívios de passagem de ano poderem não ser ainda observáveis durante essa semana [2 a 9 de janeiro]”, diz ainda Miguel Castanho.

Prolongar as medidas por mais 15 dias

Para o médico José Artur Paiva, é urgente adaptar a resposta face à variante Ómicron e essa mesma adaptação passaria “por três eixos”: “aceleração da dose de reforço de forma a cobrir toda a população de idade adulta; manter a etiqueta de proteção individual muito estreita, ou seja, o uso de máscara, a higiene, evitar aglomerados e arejar os espaços; antecipar as medidas de contenção para o período após o Natal”.

Sobre este ponto, e escusando-se a comentar concretamente as eventuais decisões do Governo face às novas medidas de mitigação da pandemia, o especialista em Medicina Interna diz que tão importante como antecipar o controlo da transmissão é também prolongar eventuais medidas durante 15 dias, de modo a que seja possível medir, de forma mais precisa, eventuais impactos.

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“Não é necessariamente um confinamento, estou a falar da importância de restringir eventos públicos, de eventualmente intensificar o teletrabalho, de haver um maior rigor no cumprimento do que está estipulado, de sermos eventualmente mais rigorosos no controlo das fronteiras. Temos de ser mais vigilantes e de estar mais atentos a esta nova variante”, diz Fernando Maltez, médico infecciologista do Curry Cabral.

O investigador Miguel Castanho defende que, para já, “não faria sentido” mais medidas do que aquelas que estão atualmente em vigor e já estavam planeadas - como as medidas não farmacológicas, desde que devidamente cumpridas, salvaguarda o especialista -, no entanto defende que a semana de contenção que o Governo tinha prevista para a primeira semana de janeiro deveria ser alargada à semana seguinte. “Se houver contágio no Natal e na passagem de ano daríamos por isso nas duas primeiras semanas do ano: as pessoas com sintomas não iriam ao trabalho e quebrar-se-ia a cadeia de contágio”, explica.

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Relativamente ao Natal, e embora as medidas que vão ser anunciadas hoje entrem apenas em vigor no dia 26, Fernando Maltez diz que é importante “reduzir ao máximo o número de pessoas presentes nas festas familiares” e que estas façam testes “antes de estarem juntas”.

Miguel Castanho diz ainda que, neste momento, “o foco deve ser na observação rigorosa das regras que existem, nomeando as regras dos certificação de vacinação, testagem e arejamento dos espaços exteriores”. Para o investigador do IMM, se as pessoas usarem rigorosamente às máscara e prescindirem de contactos não essenciais podem ter uma vida relativamente segura e social e afetivamente gratificante”, mas ressalva que “não devemos atuar como se estivéssemos completamente na escuridão, como estávamos com a Delta”.

Sobre o uso e exigência de certificados de vacinação e testagem antes de se entrar em espaços, o infecciologista Fernando Maltez aponta estas duas medidas como cruciais, embora reconheça que nem sempre são cumpridas: “Em vários restaurantes onde entrei não me exigiram certificado e teste.”

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