Um indígena que vivia em isolamento voluntário, conhecido como “Índio do Buraco”, foi encontrado morto na palhota onde dormia, na Terra Indígena de Tanaru, no estado brasileiro de Rondônia. Era considerado o último da sua tribo, resistia a qualquer tentativa de aproximação e recebia estranhos com armadilhas e lanças. Foi acompanhado à distância pela Funai (Fundação Nacional do Índio) durante 26 anos.
A sua morte provocou consternação nos ativistas que o seguiam e que agora lamentam o desaparecimento de mais uma linguagem e cultura indígena.
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“Tendo presenciado massacres atrozes e invasões da terra onde vivia, rejeitar contacto com estranhos foi a sua melhor estratégia para sobreviver. Era o último da sua tribo. Com a sua morte, mais uma tribo é extinta. Não desaparece, como muita gente diz, porque é um processo muito mais ativo e genocida do que um simples desaparecimento”, lamenta Sarah Shenker, ativista da Survival Internacional, citada pelo jornal britânico The Guardian.
De acordo com a Funai, citada pelo jornal Folha de São Paulo, o Índio do Buraco foi encontrado na sua rede de dormir, durante uma ronda de monitorização e vigilância de índios isolados, no dia 23 de agosto. Mas só este fim de semana a sua morte foi tornada pública. Não havia vestígios de luta ou da presença de outras pessoas no local. Todos os objetos que costumava usar no seu dia-a-dia permaneciam no devido lugar, pelo que a Funai acredita que o homem morreu de causas naturais.
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Pouco se sabia sobre o Índio do Buraco. A sua resistência ao contacto com estranhos, o seu isolamento voluntário e a sua independência determinada criaram à sua volta uma onda de misticismo e captaram a atenção de ativistas e meios de comunicação social um pouco por todo o mundo.
“Ele não confiava em ninguém, porque vivenciou muitas experiências traumatizantes com pessoas não indígenas”, explica Marcelo dos Santos, da Funai, citado pelo The Guardian.
De acordo com o portal de notícias G1, o “Índio do Buraco” vivia sozinho há quase três décadas, depois dos últimos membros do seu povo terem sido mortos por fazendeiros em 1995. Foi visto a primeira vez um ano depois, em 1996, pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé. As imagens que existem do homem são muito raras. A Funai conseguiu captar imagens dele, ao longe, em 2018.
Os ativistas iam monitorizando a sua presença através de avistamentos e do registo de abrigos que o próprio construía e lhe deram o nome. Abrigava-se em pequenas palhotas conhecidas como tapiris, construídas com cascas de madeira, folhas de palmeira e troncos e cobertas de palha do chão ao teto. Onde ele se abrigava havia também sempre um buraco.
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