"Era o último da sua tribo". “Índio do Buraco” encontrado morto após 26 anos de isolamento

29 ago 2022, 10:13
Índio do Buraco

Resistia a todas as tentativas de contacto e recebia quem se aproximasse com armadilhas e lanças. Foi acompanhado à distância pela Funai durante 26 anos

Um indígena que vivia em isolamento voluntário, conhecido como “Índio do Buraco”, foi encontrado morto na palhota onde dormia, na Terra Indígena de Tanaru, no estado brasileiro de Rondônia. Era considerado o último da sua tribo, resistia a qualquer tentativa de aproximação e recebia estranhos com armadilhas e lanças. Foi acompanhado à distância pela Funai (Fundação Nacional do Índio) durante 26 anos.

A sua morte provocou consternação nos ativistas que o seguiam e que agora lamentam o desaparecimento de mais uma linguagem e cultura indígena.

“Tendo presenciado massacres atrozes e invasões da terra onde vivia, rejeitar contacto com estranhos foi a sua melhor estratégia para sobreviver. Era o último da sua tribo. Com a sua morte, mais uma tribo é extinta. Não desaparece, como muita gente diz, porque é um processo muito mais ativo e genocida do que um simples desaparecimento”, lamenta Sarah Shenker, ativista da Survival Internacional, citada pelo jornal britânico The Guardian.

De acordo com a Funai, citada pelo jornal Folha de São Paulo, o Índio do Buraco foi encontrado na sua rede de dormir, durante uma ronda de monitorização e vigilância de índios isolados, no dia 23 de agosto. Mas só este fim de semana a sua morte foi tornada pública. Não havia vestígios de luta ou da presença de outras pessoas no local. Todos os objetos que costumava usar no seu dia-a-dia permaneciam no devido lugar, pelo que a Funai acredita que o homem morreu de causas naturais.

Pouco se sabia sobre o Índio do Buraco. A sua resistência ao contacto com estranhos, o seu isolamento voluntário e a sua independência determinada criaram à sua volta uma onda de misticismo e captaram a atenção de ativistas e meios de comunicação social um pouco por todo o mundo.

“Ele não confiava em ninguém, porque vivenciou muitas experiências traumatizantes com pessoas não indígenas”, explica Marcelo dos Santos, da Funai, citado pelo The Guardian.

De acordo com o portal de notícias G1, o “Índio do Buraco” vivia sozinho há quase três décadas, depois dos últimos membros do seu povo terem sido mortos por fazendeiros em 1995. Foi visto a primeira vez um ano depois, em 1996, pela Frente de Proteção Etnoambiental Guaporé. As imagens que existem do homem são muito raras. A Funai conseguiu captar imagens dele, ao longe, em 2018.

Os ativistas iam monitorizando a sua presença através de avistamentos e do registo de abrigos que o próprio construía e lhe deram o nome. Abrigava-se em pequenas palhotas conhecidas como tapiris, construídas com cascas de madeira, folhas de palmeira e troncos e cobertas de palha do chão ao teto. Onde ele se abrigava havia também sempre um buraco.

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