10 de maio de 2022: o mundo ficava a conhecer os resistentes ucranianos que tentavam salvar a fábrica Azovstal, cercada durante semanas na irreconhecível cidade de Mariupol. Jornalistas que conseguiram entrar no local, apesar dos incessantes bombardeamentos russos, documentaram a vivência no interior da siderurgia, dando rosto a quem tentava, a todo o custo, resistir aos avanços de Moscovo.
Entre os mais de dois mil combatentes e profissionais de saúde que estavam no local estava Mykhailo Dianov, cuja fotografia se tornou viral. Com um braço ao peito e em visível mau estado, não perdia a esperança: a sua mão esquerda fazia um sinal de vitória, o mesmo sinal que voltou a fazer a 21 de setembro, quando saiu de um cativeiro de mais de quatro meses, na sequência de uma grande troca de prisioneiros de guerra operada entre Kiev e Moscovo.
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A imagem da resistência ucraniana estava lá, mas este soldado, como que representando o sofrimento dos prisioneiros de guerra, não voltou o mesmo. Utilizando a mesma roupa, e ainda de braço ao peito, apareceu visivelmente mais magro, mas também com muitos sinais físicos - e certamente psicológicos - do tempo em que esteve detido. Comparando as duas fotografias, parecem duas pessoas diferentes. Mykhailo Dianov está irreconhecível.
Uma nova imagem, que está a ser amplamente partilhadas nas redes sociais ucranianas, incluindo por altas figuras políticas, ilustra bem o sofrimento deste homem. Aquele mesmo braço que aparece ligado nas fotografias separadas por meses está completamente deformado. A figura, de um homem magro e com um olhar esgotado, também reflete o trauma vivido. Ainda assim, continua a sorrir.
The first photo show Mykhailo Dianov during the epic battle in AzovStal plant. You can see on the second photo how he looks like after release from Russian captivity. I’ll remind that 3 Geneve convention oblige Russia to provide medical assistance and ensure human attitude to POW pic.twitter.com/Jt90fsRGBQ
— Oleksandra Matviichuk (@avalaina) September 23, 2022
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Katherina Prokopenko, mulher deste comandante do Batalhão Azov, fala da imagem como um "murro no estômago". Em declarações ao Corriere della Sera, a ucraniana transporta a fotografia para a solidariedade com outros combatentes ainda detidos: "Penso no que estarão a pensar outros defensores ucranianos que acabaram nas mãos russas".
Apesar de estar feliz, a mulher de Mykhailo Dianov confessa "sentimentos mistos": "Feliz que Dianov esteja vivo, de que tenha sido extraditado para a Turquia, mas muito preocupada pelos outros presos. São milhares. A nossa batalha não terminou", diz, a partir de Washington, onde está a tentar sensibilizar congressistas para a causa ucraniana.
"Não vejo a hora de poder voltar a abraçá-lo, mas ainda não me disseram onde ou quando me posso reencontrar com ele. Ligou-me da Turquia, uma chamada telefónica muito curta, nem chegou a um minuto. Disse-me que está num local seguro, que está a fazer exames médicos, que gosta de mim", acrescentou.
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Apesar de ainda não ter voltado a ver a mulher, Mykhailo Dianov reencontrou-se com os filhos na Ucrânia antes de deixar o país, num momento que foi filmado e partilhado pelo conselheiro do Ministério da Administração Interna da Ucrânia, Anton Gerashchenko.
Azovstal Defender Mykhailo Dianov finally sees his daughter after being freed from captivity. pic.twitter.com/oCMUVaYqAG
— Anton Gerashchenko (@Gerashchenko_en) September 27, 2022
Como parte do acordo estabelecido entre Ucrânia e Rússia, os prisioneiros de guerra devolvidos a Kiev foram enviados para a Turquia, onde deverão ficar até ao fim da guerra.
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