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A história de Denys Tkach, o primeiro soldado ucraniano a morrer na invasão russa

Jornal britânico The Guardian falou com a família do primeiro soldado a perder a vida na invasão russa. Tkach era sargento na guarda de fronteira e morreu na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022

O primeiro assalto da invasão russa da Ucrânia foi nos arredores da cidade ucraniana de Zorynivka, na região de Lugansk. A informação foi confirmada pela guarda de fronteira de Kiev, que, patrulhando os limites do território, foi a primeira autoridade ucraniana a testemunhar o avanço russo. O sargento Denys Tkach estava precisamente em Zorynivka: tinha sido chamado de urgência há dois dias, num dia de folga, perante a ameaça russa iminente. Uma grande reportagem do Guardian revela que foi ele o primeiro a morrer na invasão de Moscovo, ainda que as informações sejam incertas e outros possam ter morrido antes em raids clandestinos das tropas de Putin.

Segundo o jornal britânico, os soldados no ativo na região de Zorynivka garantem que Tkach, de 36 anos, foi mesmo a primeira vítima mortal dentro das forças armadas de Kiev: morreu na madrugada de 24 de fevereiro, há exatamente um ano. "Às 3:40, segundo o departamento de Milove do destacamento de Lugansk, os invasores russos dispararam armas de pequeno calibre na área de Zorynivka. Guardas de fronteira ucranianos foram mortos. Estas são as primeiras perdas dos nossos irmãos durante a invasão armada em larga escala da Rússia, que o país ocupante iniciou a 24 de fevereiro do ano passado", disse ao Guardian um porta-voz da guarda de fronteira. 

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Oksana, a mulher de Tkach, contou ao Guardian as últimas horas do marido: falou com ele ao telefone quatro horas antes de morrer para combinarem o que fariam nos dias seguintes - tinham planeado comprar o presente de aniversário para a filha, que faria um ano em breve. Tkach deveria sair do turno às 10:30 do dia 24, mas só o seu cadáver regressou a casa. 

O sargento da guarda de fronteira ucraniana estava de vigia numa pequeno barracão com paredes de metal. À meia-noite de 24 de fevereiro terminou a chamada com a mulher e, pelas três da manhã, recebeu pelo rádio informação de que homens armados não identificados tinham sido vistos em território ucraniano. "Denys tomou a decisão de manter a vigia até receber outra ordem", contou ao Guardian Artem Umanets, sargento de 21 anos que estava com ele. "Enquanto estávamos a observar, detetámos um grupo de pessoas a mover-se na nossa direção e o Denys tomou a decisão de nos movermos para as nossas posições", contou. Depois, disse aos seus homens que se retirassem, um por um. Ele iria atrás no final. Não chegou a tempo: Umanets ouviu os disparos incessantes enquanto fugia no escuro, mas Tkach já não saiu do barracão. 

A mulher de Tkach acordou de madrugada, às 4 da manhã, com a filha a chorar. Quando ligou ao marido, já não teve resposta. Foi ela que, acompanhada da irmã e dois amigos, foi procurar o sargento ao barracão. Passou pelos russos, que nada fizeram, e que se limitaram a assistir quando gritou ao encontrar o corpo de Denys crivado de balas.

No verão passado, Oksana e os dois filhos - além da filha Dominica, Tkach tinha também um enteado, Roman, de sete anos - fugiram da região de Lugansk e vivem agora temporariamente em Volodymyr, na parte ocidental da Ucrânia. Tkach foi condecorado postumamente por bravura por ter ficado para trás segurando uma metralhadora. A mulher conta que muitos dos colegas dele ficaram em Zorynivka e aceitaram de bom grado a ocupação russa, coisa que ela não conseguiu fazer. Ao Guardian disse, no entanto, que o mais perturbador após a morte do marido foi a reação dos próprios pais de Tchak: "Tens a certeza de que foram os russos que o mataram? Talvez tenham sido os ucranianos", disseram-lhe. "Foi intolerável ouvir". 

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