Os Globos de Ouro já foram uma das cerimónias mais importantes de Hollywood. Aquela a que ninguém queria faltar, mais intimista do que a cerimónia dos Óscares, menos mainstream e também menos "politicamente correta", diziam os críticos (e hoje isto quase parece uma piada). Tradicionalmente, a entrega dos Globos era o pontapé de partida para a temporada de prémios de cinema e servia como um indicador potencial para filmes que esperavam ganhar um Óscar, além de servirem ainda como uma valiosa ferramenta de marketing.
Mas, depois de dois anos recheados de polémicas devido à falta de diversidade na Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, responsável pela atribuição dos prémios, e também de acusações de comportamentos pouco éticos dentro da organização, no ano passado, a cerimónia foi “cancelada” - sem transmissão na televisão, sem estrelas na plateia nem sequer para receber os prémios. Muitos duvidaram que os Globos de Ouro se conseguissem reerguer depois de tamanha queda, mas eis que, em 2023, eles aí estão: a cerimónia vai acontecer esta terça-feira à noite (na verdade, em Portugal será apenas a partir da 01:00 de quarta-feira).
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“Vai ser glamoroso e divertido, haverá muito champanhe e todos se divertirão”, garantiu um dos produtores do evento, Jesse Collins, ao Hollywood Reporter. Mas será mesmo assim? Será preciso esperar para ver.
Quais as críticas apontadas à Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood?A primeira edição dos Globos de Ouro aconteceu em 1944. A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood era uma associação sem fins lucrativos composta por jornalistas e fotógrafos que acompanhavam a indústria do cinema. Em fevereiro de 2021, o LA Times revelou que a associação não tinha nenhum negro entre os seus membros. Além das acusações sobre falta de diversidade - poucas mulheres, poucos não-brancos, poucos jovens - foram também denunciados alguns “lapsos éticos”, quer na gestão financeira quer nas relações mantidas pelos críticos com os estúdios e promotores de Hollywood.
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A associação anunciou planos para uma grande remodelação, incluindo novas regras de conduta e o aumento de 50% do número de membros no prazo de 18 meses - o que causou inúmeras críticas, uma vez que as reformas não ficariam prontas a tempo da cerimónia do ano seguinte. Tanto a Amazon Studios como a Netflix anunciaram que deixariam de trabalhar com a associação, sendo seguidas por outras empresas de relações públicas e comunicação, incluindo a NBC, que anunciou que não iria transmitir a cerimónia de 2022.
O que mudou e o que vai mudar?O fiasco de 2022 apressou a necessária remodelação. Foram admitidos 21 novos membros, que trouxeram alguma diversidade e, entretanto, o empresário Todd Boehly, coproprietário do clube americano de baseball Dodgers e também do clube de futebol inglês Chelsea, comprou a associação, que assim deixou de ser uma empresa sem fins lucrativos e passou a ser uma empresa da holding Eldridge Industries (dona da produtora de eventos Dick Clark Productions, e acionista das publicações de entretenimento The Hollywood Reporter e Variety).
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Entre os objetivos de Boehly estão a "profissionalização e modernização" da cerimónia, incluindo "aumentar a quantidade e a diversidade dos eleitores disponíveis para os prémios anuais". Para começar, está em cima da mesa uma proposta para que os 96 membros da associação estabelecidos em Hollywood passem a ser "funcionários" com um salário, pagos para irem a visionamentos e participarem nas atividades de promoção dos filmes, garantindo assim a sua independência.
Em setembro, a associação anunciou ainda a integração de 103 novos membros, originários de diferentes partes do globo - estes novos membros, que asseguram a diversidade geográfica e trazem um novo olhar à associação, não serão pagos mas irão participar nas votações.
"A inclusão de membros provenientes de mercados internacionais permite-nos aumentar mais rapidamente o número de votantes, preservar a nossa identidade internacional e manter o compromisso de agregar jornalistas qualificados e experientes do entretenimento", afirmou na altura a presidente da associação, Helen Hoehne, em comunicado. De acordo com a associação, os 103 novos votantes são de 62 países, dos quais 43,5% são da Europa, 18,5% da América Latina, 17% da Ásia, 9% do Médio Oriente e 7% de África.
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A primeira grande consequência foi o regresso da transmissão televisiva: em setembro, a NBC concordou em transmitir a 80.ª edição dos Globos de Ouro em 10 de janeiro de 2023. Habitualmente realizada ao domingo, a cerimónia foi transferida para as terças-feiras para evitar conflitos com a NFL (a liga nacional de futebol americano) e com o Campeonato Nacional de Playoffs de Futebol Americano Universitário.
Pela primeira vez, a cerimónia será também transmitida pelo serviço de streaming da NBC, Peacock.
Foram poucos os que celebraram as nomeações quando estas foram anunciadas - por exemplo, Rihanna, Kevin Costner e Hugh Jackman fizeram referências nas redes sociais - mas, apesar disso, os Globos estão a fazer uma séria tentativa de comeback e os convites foram enviados para as estrelas mais cintilantes de Hollywood.
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O comediante Jerrod Carmichael será o apresentador da cerimónia - uma escolha bastante significativa, porque Carmichael não só é negro como em 2022 revelou no especial da HBO "Rothaniel" que é homossexual. O programa, com o qual ganhou um Emmy, foi considerado uns dos melhores do ano.
A diversidade está também bem marcada aqui. O ator Eddie Murphy receberá o prémio de carreira Cecil B. DeMille. E Ryan Murphy, criador de “Glee”, receberá o Prémio Carol Burnett, o equivalente televisivo do Cecil B. DeMille.
Quem vai estar presente?PUB
O realizador Quentin Tarantino e o comediante Tracey Morgan são dois dos apresentadores já anunciados.
Entre as presenças já confirmadas no salão do Beverly Hilton estão o realizador Steven Spielberg e toda a equipa de “Os Fabelmans”, incluindo Michelle Williams e Tony Kushner, atores do filme semi-autobiográfico que é um dos favoritos para ganhar o Globo de melhor drama.
Entre os atores nomeados que são esperados na cerimónia estão: Austin Butler (“Elvis”); Ana de Armas (“Blonde”), Anya Taylor-Joy (“O Menu”), Jamie Lee Curtis e Michelle Yeoh (“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”), Jeremy Pope (“The Inspection ”) e, provavelmente, Daniel Craig (“Glass Onion: A Knives Out Mystery”).
Entre os realizadores, são esperados Rian Johnson (“Glass Onion: A Knives Out Mystery”), James Cameron (“Avatar: O Caminho da Água”), Guillermo del Toro (“Pinóquio”) e Lukas Dhont (“Close” ). É provável que Baz Luhrmann (“Elvis”) também apareça.
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A equipa do filme de animação “Turning Red”, incluindo o realizador Domee Shi, também está na lista de presenças.
Do estrangeiro chegam ainda o realizador do filme indiano “RRR”, S.S. Rajamouli, e as estrelas do filme, N.T. Rama Rao Jr. e Ram Charan. Assim como o realizador de “Decisão de Partir”, o sul-coreano Park Chan-wook; e os atores Felix Kammerer e Daniel Brühl, do filme alemão “A Oeste Nada de Novo”.
Por outro lado, é pouco provável que Tom Cruise, ator e produtor de "Top Gun: Maverick", compareça, depois de ter devolvido os seus três Globos em 2021.
Brendan Fraser, nomeado para melhor ator por "A Baleia", já disse que não irá aos Globos, depois de revelar que foi agredido sexualmente em 2003 por Philip Berk, ex-presidente da associação.
Isso quer dizer que será uma cerimónia como antigamente?Ainda há muitas dúvidas sobre como Hollywood vai acolher este regresso.
Por um lado, está a ser um janeiro complicado, não para a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood mas para os estúdios, redes de televisão e operadores de streaming, muitos dos quais enfrentam cortes de orçamento e despedimentos, à medida que veem as suas audiências e receitas (de bilheteira, de assinatura, de publicidade) diminuírem drasticamente. A indústria do audiovisual vive um dos seus momentos mais desafiantes.
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Além disso, como prevê Pete Hammond, colunista do Deadline, aqueles que passarem pelo tapete vermelho serão bombardeados com perguntas de jornalistas, como: "Sente-se confortável por estar aqui?" e "Está satisfeito com todas as mudanças na associação?”. "Não vai ser exclusivamente sobre a roupa que estão a usar”, diz o colunista.
Quem são os preferidos aos prémios?"Os Espíritos de Inisherin", de Martin McDonagh, com oito nomeações e "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo", de Dan Kwan e Daniel Scheinert, com seis indicações, são os dois filmes mais nomeados para os Globos de Ouro de 2023.
"Os Fabelmans", de Steven Spielberg, conseguiu cinco nomeações, "Tár", de Todd Field, pode ganhar em três categorias, assim como "Elvis", de Baz Luhrmann, e "Pinóquio", de Guillermo del Toro; finalmente "Avatar: O Caminho da Água", de James Cameron, está nomeado em duas categorias.
Nas séries, as mais nomeadas foram "The White Lotus", "Pam & Tommy", "Dahmer - Monstro: A história de Jeffrey Dahmer", "Abbott Elementary" e "Homicídios ao Domicílio", todas com quatro indicações.
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Esta é a lista dos nomeados:
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