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"O dinheiro fácil acabou". Até quanto podem subir as taxas Euribor?

O Banco Central Europeu anunciou o primeiro aumento em 11 anos e o mais intenso desde 2000. O que podemos esperar das taxas Euribor?

Taxas de juro altas? Nem por isso: afinal, ainda estamos nos "zero vírgula qualquer coisa". Taxas de juro a subir? Sim, isso sim, porque elas estiveram tão baixas durante tanto tempo (negativas durante seis anos) que a tendência de aumentos traz prestações de créditos mais caras - e não vai ser pouco. Mas quanto?

As taxas Euribor, que servem de base para os empréstimos à habitação, voltaram a subir esta sexta-feira, reforçando a sua trajetória ascendente e atingindo novos máximos de dez anos. A Euribor a 6 meses, a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação, avançou esta sexta-feira para 0,706%, um novo máximo desde agosto de 2012. Já a Euribor a três meses avançou para 0,2%, novo máximo desde setembro de 2014, enquanto no prazo de 12 meses, a Euribor subiu para 1,2%, a percentagem mais alta desde agosto de 2012.

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As subidas não vão ficar por aqui, dado que também se espera uma subida das taxas por parte do Banco Central Europeu (BCE), que esta quinta-feira anunciou um aumento das taxas de juro em 50 pontos base - o primeiro aumento em 11 anos e o mais intenso desde 2000. Tendência que se deverá manter nos próximos meses, como estimam os especialistas em mercados financeiros contactados pela CNN Portugal.

O dinheiro fácil acabou

"A época de dinheiro fácil acabou e vamos ver durante quanto tempo é que isto vai durar. Isto significa que, para os empréstimos que estão indexados a taxa variável, vai haver um aumento de custos que pode ser bastante significativo, porque estamos a falar de empréstimos bancários que podem ter inclusive um duplicação de mensalidade - ou de juros, pelo menos -, porque o BCE não vai ficar por aqui - já se quer um aumento de 0,6% nos próximos tempos", indica Marco Silva, consultor e especialista em mercados financeiros.

Isto significa que, "se tudo correr de forma planeada", os juros do BCE deverão situar-se entre os 2 e os 2,5%, estima o também consultor de estratégia e investimento, acrescentando, contudo, que estes valores nunca são certos, até porque "não se sabe como é que o BCE vai reagir a uma eventual recessão económica".

Para o especialista, este acréscimo das taxas de juro "não é nada de extraordinário" quando comparado com o aumento de 1,5% em apenas quatro meses por parte da Fed (Reserva Federal, o banco central dos Estados Unidos). "São subidas muitíssimo fortes e existe, neste momento, uma mentalidade muito agressiva, pelo que as pessoas não esperem que o BCE continue a ser mais fraco - já entrou no ritmo e deverá continuar a ser também mais agressivo", assinala.

Por sua vez, Filipe Martins, especialista da Informação de Mercados Financeiros, prevê que "a subida dos juros deverá ser relativamente moderada", podendo estabilizar entre os 1,5 e 1,75%, o que se traduzirá em taxas Euribor que podem ficar entre 1,5 a 2% no próximo ano. "Só se a economia acelerar muito - o que não é, neste momento, esperado - é que podemos ter uma alteração deste cenário", diz.

Mas esta não é uma perspetiva otimista da economia, ressalva. Aliás, "esta leitura decorre de um certo pessimismo para a economia - as taxas de juro não irão subir muito, porque a atividade económica provavelmente vai ter grandes dificuldades nos próximos tempos. É copo meio-cheio e meio-vazio. Por um lado, vamos ter juros que não vão subir tanto, mas isso será porque a economia não estará propriamente em boa situação", esclarece.

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Assumindo um cenário de Euribor a 6 meses no final de 2023, isso significa mais 2,5 pontos percentuais do que a taxa estava no início de 2022. E isso custará mais dinheiro às famílias portuguesas. A subida da prestação será progressiva, não de uma vez, até porque as prestações são revistas periodicamente. Mas o custo chegará.

Se a Euribor a 6 meses atingir os 2% no final de 2023, isso implicará mais cerca de 200 euros por mês de prestação por cada 100 mil euros de capital em dívida do que no início de 2021.

Quem deva 200 mil euros, por exemplo, pagará assim mais cerca de 400 euros no final do próximo ano do que pagava no início deste ano. E assim sucessivamente.

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